Taxas de juros altas por mais tempo nos EUA costumam gerar cenário adverso a países emergentes, diz Galípolo

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GALIPOLO: Taxas de juros altas por mais tempo nos EUA costumam gerar cenário adverso a países emergentes

São Paulo, 16 de julho de 2024 – O diretor de política monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, disse hoje que a reprecificação da política monetária dos Estados Unidos pode custar uma desinflação mais lenta e custosa a países emergentes, como é o caso do Brasil.

Em uma apresentação sobre o cenário econômico global e os impactos para dinâmica brasileira, Galípolo falou sobre a últimas comunicação do Comitê de Política Monetária (Copom), em que escolheram não oferecer nenhum ‘guidance’, adotando uma postura mais data-dependente por conta do cenário global ainda adverso. A fala foi feita em palestra no Fórum Anual de Economia e Cooperativismo de Crédito, promovido pelo Sicredi em Anápolis (GO), no fim da tarde.

Galípolo explicou que o cenário internacional é conturbado, onde muitos players ainda se movimentam, sem que as autoridades monetárias consigam mensurar os efeitos futuros.

“Hoje, pela manhã mesmo, eu via o tamanho da perda de relevância das exportações chinesas, das importações que os Estados Unidos faz em relação a China e o ganho de importância do México”, exemplifica.

“O debate sobre qual vai ser o resultado de uma eleição dos Estados Unidos tem impactado muito , basicamente com duas vertentes: existe uma vertente que entende que uma política protecionista por parte do Trump [Donald Trump, empresário, candidato à presidência e ex-presidente dos Estados Unidos] de impor tarifas para as importações, tenderia a ter um processo, um impacto inflacionário maior e que isso teria um custo maior para a política monetária norte-americana, pelo processo inflacionário. Do outro lado, eu já vi alguns researches essa semana, dizendo que talvez um dos objetivos da política monetária norte-americana – lembrando que as intervenções cambiais lá são feitas pelo Tesouro – seria um enfraquecimento do dólar.”

O economista lembrou que, embora a função do BC seja controlar a inflação doméstica, nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) zela pela inflação e pelo mercado de trabalho.

A inflação corrente vem apresentando dados mais benignos, mas permanecem preocupações com inflação de serviços, especialmente as relacionadas com mão de obra. As taxas de juros taxa de juros por lá devem permanecer mais altas por mais tempo, o que pode fazer com que os países emergentes tenham elevação da taxa terminal [Selic Terminal]”

O técnico explicou que o cenário provoca muitas vezes fortalecimento do dólar contra as moedas emergentes, como é o caso do Real. “Estivemos em situação mais desconfortável porque assistimos, ao mesmo tempo, a um processo de agravamento de desancoragem das expectativas da inflação, o que elevou a preocupação do BC.”

A recomendação para o BC é de cautela em um cenário onde assistimos à renda crescendo, pessoas encontrando mais empregos – o que é ótimo, ninguém quer nada diferente disso – porém, são indícios de economia aquecida e que pode pode significar um processo de desinflação mais lento – ainda mais se somado a esse processo de reprecificação da política norte-americana onde todos esperam os novos passos do Fed, deve trazer, ainda, dificuldades do ponto de vista cambial para países emergentes.”

Galípolo voltou a dizer que a função do BC é perseguir a meta da inflação e reconheceu que se equivocou quando imaginou que, no caso de inflação apresentar um comportamento benigno durante determinado tempo isso poderia influenciar nas expectativas.

“Eu imaginava que talvez, das coisas que a gente poderia usar como um canal de influência nas expectativas, é: se ao longo desse ano a inflação corrente apresentasse bons números, talvez isso pudesse influenciar as expectativas e, na verdade, essa dissonância aumentou”, lamentou.

“Mesmo quando a inflação corrente apresentou comportamento mais benigno, a gente não viu uma melhora, a gente assistiu uma piora nas expectativas. Agora, mais recente, o último número até interrompeu um pouquinho esse processo de piora da desancoragem das expectativas. Esse é um tema que nos preocupa muito.”

É importante ressaltar que durante esse período que a gente passou comentando muito expectativas, a gente assistiu críticas que vinham dos dois lados. ‘Parece que o Banco Central agora tem uma meta de expectativa, não mais uma meta de inflação, e só olha para o Focus’ e do outro lado muita gente dizendo que a gente devia dar ainda mais atenção ao Focus.”

“Desde que eu cheguei, tiveram vários momentos que a gente dava mais ênfase a um tema específico. Segundo o semestre, por exemplo, quando no passado a gente dava muita atenção, muita ênfase à abertura das taxas de juros dos títulos norte-americanos, porque era um processo que estava nos chamando mais a atenção. Depois passamos a falar mais das expectativas, como falamos recentemente. Nesse ciclo falamos muito de câmbio…Isto não significa que nós estamos dando um peso diferente para aquela variável na nossas análises. Nós estamos simplesmente tentando ser transparente e comunicar aos agentes o que está nos preocupando mais nesse momento e o que está nos chamando mais a atenção.”, esclareceu.

Galípolo voltou a falar da “relevância do Focus como um subsídio para a elaboração da política monetária” e agradeceu aos agentes que se dispõem a responder ao questionário , ‘com vários temas que ajudam muito, subsidiam muito’. Existe uma institucionalidade do Banco Central que sabe consumir o Focus, sabe qual é o peso que ele dá na construção da política monetária.”

“Me incomoda muito que a gente tenha tido um processo de desancoragem. Houve uma elevação da taxa de juros de curto e de longo prazo e a gente assistiu a essa desancoragem ampliar mesmo com uma inflação corrente que vinha apresentando um comportamento mais benigno”, explicou o diretor.