Dados mais fracos sobre o setor industrial dos Estados Unidos aumenta aversão ao risco

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Por Danielle Fonseca e Flavya Pereira

São Paulo – O Ibovespa fechou o primeiro pregão de outubro em queda de 0,66%, aos 104.053,40 pontos, acompanhando as perdas das bolsas norte-americanas, depois dados mais fracos do que o esperado da indústria dos Estados Unidos. Investidores também acompanharam o andamento da reforma da Previdência no Senado, aguardando a votação no plenário da Casa. O volume total negociado foi de R$ 14,2 bilhões.

“O ISM caiu bem e pode ter corroborado com essa piora lá fora, que acabou refletindo aqui. Claramente há um movimento de desaceleração de alguns setores da economia americana”, disse o sócio da RJI Gestão e Investimentos, Rafael Weber. Os índices norte-americanos Dow Jones e S&P 500 encerraram em queda de mais de 1% depois que o índice do Instituto de Gerência e Oferta (ISM, na sigla em inglês) caiu para 47,8 pontos em setembro, de 49,1 pontos (revisado) em agosto, sendo que analistas previam alta para 50,2 pontos.

Além do número abaixo do previsto, o analista da Terra Investimentos, Régis Chinchila, afirma que “as novas críticas de Trump ao Fed também pressionaram”. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que a falta de cortes maiores na taxa básica de juros do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) afetou negativamente o setor industrial norte-americano, resultando no baixo índice. Para Chinchila, também segue um cenário de incertezas no exterior, que colabora para manter a liquidez mais fraca nos últimos dias.

Na cena doméstica, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou, por 17 votos a 9, o texto-base da reforma da Previdência, com o projeto seguindo agora para a votação no plenário e expectativas de que ela possa ser concluída ainda hoje.

Embora a aprovação da reforma já esteja precificada pelo mercado e aprovação na comissão não tenha mexido com o índice, o analista da Terra não descarta algum “respiro” para o Ibovespa amanhã se a votação em primeiro turno for encerrada logo. A expectativa é que também possa ser sinalizada a data de quando será a votação no segundo turno no Senado, já que há algum receio de novos atrasos.

Entre as ações de maior peso para o Ibovespa, as de bancos, como do Itaú Unibanco (ITUB4 -2,02%), pesaram e aceleram perdas ao longo do pregão. Já as maiores perdas do índice foram da Localiza (RENT3 -2,99%), da Braskem (BRKM5 -2,71%) e da Multiplan (MULT3 -2,77%).

Na contramão, as maiores altas foram da Marfrig (MRFG3 6,17%), da Ultrapar (UGPA3 6,17%) e da MRV (MRVE3 1,47%). As ações de frigoríficos seguem vivendo um bom momento impulsionadas pela expectativa de maior demanda da China depois que foi fortemente atingida pela gripe suína. A exceção no setor foram os papéis da BRF (BRFS3 -0,54%), que está envolvida na 4 fase da Operação Carne Fraca, denominada operação Romanos, que apura crimes de corrupção passiva praticados por auditores fiscais federais em benefício da empresa. A BRF, porém, negou que tenha sido alvo de mandatos de busca e apreensão e disse que colabora com investigações.

Amanhã, além de refletir a reforma da Previdência, o Ibovespa pode reagir ao dado de criação de empregos no setor privado norte-americano. Analistas seguem vendo uma tendência de alta para o Ibovespa no curto prazo, embora destaquem que está faltando maior liquidez e gatilhos para que o índice volte a subir com mais força.

O dólar comercial fechou em alta de 0,16% no mercado à vista, cotado a R$ 4,1630 para venda, influenciado pelo exterior mais negativo para moedas de países emergentes, além dos dados da indústria mais fracos nos Estados Unidos, o que pode refletir nos próximos passos do banco central norte-americano. Aqui, investidores monitoraram os avanços da reforma da Previdência no Senado.

Foi votado na CCJ do Senado o texto-base da reforma da Previdência no formato proposto pelo relator da pauta, Tasso Jereissati, com o placar de 17 votos a favor e 9 contra. A Comissão analisa seis destaques do texto-base e a expectativa é de que o texto final seja votado ainda hoje no plenário do Senado em primeiro turno. O presidente da casa, Davi Alcolumbre, espera que seja votado até às 22 horas.

No exterior, os dados da atividade industrial dos Estados Unidos medidos pelo ISM influenciaram na desaceleração da moeda norte-americana no mercado local, ao cair para 47,8 pontos em setembro, ante 49,1 pontos (em dado revisado) em agosto. O mercado previa 50,2 pontos. Foi o menor resultado desde junho de 2009, quando alcançou os 46,3 pontos.

Para a economista da Capital Markets, Camila Abdelmalack, os dados mais fracos reforçam a leitura de que o Fed poderá manter a política de corte de juros. “Caso o cenário de conflitos comerciais permaneça, o que possivelmente resultará em uma maior desaceleração da atividade econômica global, é possível acreditar que ainda há espaço para deterioração adicional do indicador”, reforça a equipe econômica da corretora Renascença.

Amanhã, na agenda de indicadores, o destaque fica para os dados de criação de emprego no setor privado no mês passado, nos Estados Unidos. Os números, publicados pela ADP, são uma prévia do relatório de empregos do país, o payroll, a ser divulgado na sexta-feira. Para a economista da Capital Markets, além de observar esses números, o mercado local deverá reagir aos dos desdobramentos da votação da reforma no plenário do Senado, caso ocorra.