Bolsa fecha em alta, bate recorde com expectativa de queda de juros nos EUA e alta da Selic; dólar cai

215

São Paulo -A Bolsa fechou em alta expressiva, bateu recorde histórico no patamar dos 135 mil pontos, com a perspectiva de o Copom elevar a Selic e o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) iniciar o ciclo de queda de juros.

Somado a isso, a entrada forte de capital estrangeiro corrobora para esse movimento positivo. No interdiário, o Ibovespa atingiu 136.179,21 pontos. As ações ligadas ao consumo, Bradesco, Marfrig dispararam e Vale se recuperou de vários pregões em queda.

Mais cedo, em um evento em Belo Horizonte, Minas Gerais, o diretor de Política Monetária do Banco Central (BC) disse que o BC se preocupa com a inflação e a desancoragem com as expectativas, e fica atento ao câmbio, crescimento da renda, entre outras variáveis que possam influenciar na decisão de juros na próxima reunião de setembro.

As ações da Vale (VALE3) subiram 1,60%. Bradesco (BBDC3 e BBDC4) avançou 5,62% e 4,47%. Magazine Luiza (MGLU3) disparou10,65%. Petz (PETZ3) registrou alta de 23,87%. Marfrig (MRFG3) registrou ganho de 13,18% refletindo a notícia de o Bank of America (BofA) elevar o preço-alvo da ação de R$ 18,50 para R$ 21,50 e recomendar compra.

Na ponta negativa, o destaque ficou para Petrorio (PRIO3) e 3 RPetroleum (RRRP3) – queda de 2,66% e 1,10%- “por conta da visão um pouco mais negativa do petróleo, com temores de demanda mais fraca na China, e as negociações de cessar-fogo no Oriente Médio, que podem reduzir os riscos do fornecimento de petróleo na região. Além disso, a 3R divulgou a sua produção média no mês de julho de barris de 54,910mil barris”, disse Hemelim Mendonça, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital.

O principal índice da B3 avançou 1,36%, aos 135.777,98 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro subiu 1,23%, aos 137.835 pontos. O giro financeiro foi de R$ 25,5 bilhões. Nos Estados Unidos, os índices fecharam em alta.

Alan Martins, analista da Nova Futura, disse que a expectativa de aumento de juros pelo Copom e entrada de fluxo estrangeiro ajudam nesse movimento positivo da Bolsa.

“A curva já embute esse aumento de juros aqui. Nesse momento, o aumento de juros não é ruim para a Bolsa porque existe uma desancoragem em relação às expectativas e uma necessidade de o mercado ver um comprometimento do BC com a inflação. Se tivermos uma elevação da Selic juros em setembro, a Bolsa vai continuar subindo. O Galípolo disse hoje que vão para a próxima reunião com todas as alternativas. Dentro desse movimento também tem a questão técnica, que mostra que a bolsa está muito esticada. Outro fator positivo é o fluxo estrangeiro- neste mês até dia 15 entraram R$ 4,06 bilhões. Está começando a se posicionar corte de juros lá e aumento de juros aqui. Vale e setor financeiro contribuíram para a alta da Bolsa”. Gabriel Meira, especialista e sócio da Valor Investimentos disse que a Bolsa sobe por conta de expectativas dos investidores para alta da Selic aqui e queda de lá fora.

“Várias casas estão revisando a Selic para o final do ano, a XP já coloca a Selic no final do ano a 11,75%, e isso deixa o investidor mais tranquilo porque sabe que o governo não vai conseguir bater as metas de inflação e tão pouco vai gerar confiança necessária para o mercado. No exterior, a expectativa é de um soft landing [para a economia americana], com queda dos fed funds em setembro O mercado aguarda o simpósio de Jackson Hole, principalmente o discurso do Fed [do presidente do Fed, Jerome Powell]”.

Caio Henrique Soares Rodrigues, sócio da Atika Investimentos, disse que a Bolsa acompanha o exterior, os vetores internos mais positivos e entrada de estrangeiros ajudam a impulsionar o índice.

“A Bolsa vem de oito pregões em alta impulsionado por política econômica global, o Copom um pouco mais responsável, tomando decisões unânimes que confortam o mercado. Com as bolsas lá fora mais forte seguimos esse rali e o estrangeiro entrando aqui corroboram pra alta de hoje”.

O sócio da Atika Investimentos explicou que apesar de a Bolsa renovar máximas, em dólar ainda está descontada.

“Quando a gente vê a Bolsa batendo as máximas históricas é bom, mas tem outro lado. Se dolarizarmos, a gente vê que a Bolsa está andando de lado desde 2016. Se fizermos uma análise mais técnica, pragmática, é inocente achar que a bolsa está indo super bem. A gente tem todo o efeito de inflação, política monetária, mas a ela está indo bem pelos pontos do Ibovespa”.

Em relação à alta do Bradesco, a recomendação de compra das ações preferenciais pelo Goldman Sachs ajudou a impulsionar as ações.

“O Bradesco estava muito prejudicado, estava com desconto muito alto. Ele apresentou números um pouco melhores [balanço do 2T24], principalmente no crédito. É um ativo que se deteriorou muito frente aos outros bancos. Com a recomendação do Goldman Sachs ajudou as ações avançarem”.

O dólar comercial fechou em queda de 0,99%, cotado a R$ 5,4134. A moeda refletiu, desde o início da sessão, o bom humor global gerado pelo iminente corte do juros nos Estados Unidos.

Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “existe um viés de baixa do dólar contra a maioria das moedas”.

Borsoi acredita que o simpósio de Jackson Hole, que ocorre nesta semana nos Estados Unidos, deve ter sinalizações do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, de que os cortes irão começar em setembro.

“A retomada de credibilidade do Banco Central (BC), com o Comitê de Política Monetária (Copom) mais atento ao cenário, reduz o prêmio de risco. O dólar atingir R$ 5,30 não seria nada descabido neste momento”, avalia.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecham em queda com a tese de que o BC deve aumentar os juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

Por volta das 16h25 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,840% de 10,785% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 11,560%, de 11,535%, o DI para janeiro de 2027 ia a 11,405%, de 11,355%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 11,385% de 11,505% na mesma comparação. O dólar cai, cotado a R$ 5,4100.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em alta, com os investidores em Wall Street aguardando o simpósio do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) em Jackson Hole no final da semana.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,58%, 40.896,53 pontos
Nasdaq 100: +1,39%, 17.876,8 pontos
S&P 500: +0,005%, 5.608,25 pontos

 

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência Safras News