Bolsa fecha em queda e dólar em alta em dia de realização de lucros, à espera de Jackson Hole

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São Paulo -A Bolsa fechou em queda, após bater recorde histórico três sessões seguidas, em um movimento de correção e recuo das ações sensíveis a juros com a abertura dos DIs.

O Ibovespa vinha nessa escalada forte desde o pregão do dia 5. O mercado fica no aguardo no pronunciamento do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, no simpósio de Jackson Hole.

Com a abertura na curva de juros, as ações das varejistas foram as que mais sofreram na sessão de hoje. MRV (ON, -5,28%) e Magazine Luiza (ON, -4,83%).

Os papéis da Vibra Energia (ON, -3,45%) caíram impactados pela notícia sobre a compra antecipada de 50% da Comerc, no valor de 3,52 bilhões.

“O temor do mercado é o comprometimento no pagamento dos dividendos, apesar do Ceo negar”, disse um analista financeiro.

O principal índice da B3 caiu 0,94%, aos 135.173,39 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro recuou 1,12%, aos 137.200 pontos. O giro financeiro foi de R$ 21,9 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam em queda.

Alexsandro Nishmura, economista e sócio da Nomos, disse que “após o rali de quase 14 mil pontos em 13 pregões, o Ibovespa refletiu uma natural realização de lucros, o que também ajuda para dar respiro aos indicadores técnicos, que já operavam em uma região sobrecomprada. Os volumes vinham se reduzindo nos últimos dias, o que também indicaria uma perda de força do movimento”.

Nishimura explicou que “as justificativas para a queda de hoje vieram a partir da reprecificação sobre os próximos passos das políticas monetárias nos EUA e por aqui. Nos EUA houve redução na perspectiva de corte de juros na reunião de setembro, de 0,5 p.p. para 0,25 p.p., o que ajudou para o avanço dos yields. Por aqui as falas de diretores do Bacen, Diogo Guillen e Gabriel Galípolo, foram interpretadas como mensagens mais dovish, buscando manter em aberto todas as possibilidades para o Copom. Galípolo repetiu uma frase de Guillen, pontuando que o balanço de riscos não é um guidance”.

O economista e sócio da Nomos também comentou sobre as ações.

“A queda das ações do Itaú (PN, -0,91%) também pesou sobre o Ibovespa, uma vez que puxou os papéis do setor, que possui peso relevante na composição do índice. As ações do Itaú sentiram o rebaixamento da sua recomendação, de compra para neutra, feita pelo UBS”.

Alexandre Pletes, head de renda variável da Faz Capital, a Bolsa ceda um pouco.

“Desde ontem, abertura da curva de juros impacta alguns setores como varejo, construção e setor financeiro. Por enquanto é uma realização natural. Vemos de observar nos próximos dias se a curva de juros. Os PMIs vieram nos EUA acima do esperado, mostrando uma atividade ainda resiliente por lá, apesar do desemprego [pedidos de seguro-desemprego] em linha. Essa atividade pode ter colocado em xeque corte de juros em setembro, mas a ata do Fed ontem mostrou que o corte está praticamente certo. Já em julho, os membros disseram que já viam essa possibilidade de cortar os juros. Aqui, arrecadação do governo federal veio forte-subiu 9,55% em julho a R$ 231,04 bi- dá uma aliviada momentânea no fiscal”.

Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, disse que a Bolsa realiza lucros.

“Um dia após renovar máxima histórica, o Ibovespa tem dia de correção com investidores à espera do discurso de Powell amanhã no Simpósio de Jackson Hole e repercutindo falas mais duras do Banco Central sobre juros aqui no Brasil. Galípolo afirmou hoje que existe uma possibilidade de alta de juros e que o comitê não hesitará em aumentar a taxa, se necessário. O rali da bolsa não acabou, ela ainda está muito barata”.

Pedro Moreira, sócio e assessor da One Investimentos, disse que após várias sessões em alta e batendo recordes histórico, a Bolsa realiza lucros.

“O Ibovespa não vai subir como uma escadinha, vai ter realização; no curto prazo, é de um Ibovespa positivo. O cenário interno está melhorando, e hoje os DIs em alta precificam um aumento de juros este ano. Os dados que saíram lá fora vieram em linha, manteve o script de soft landing [da economia americana] e sem muitas agressões ao mercado. O dado de seguro-desemprego é importante porque o payroll veio fraco; se a gente continuasse a ver seguro-desemprego subindo acima das expectativas teria uma grande consolidação de piora do mercado americano, risco de recessão. O PMI em linha ou mais forte indica que atividade econômica está ok”.

Nos Estados Unidos, mais cedo, os pedidos de seguro-desemprego semanal subiram para 232 mil, contra expectativa de 230 mil. O Indice de atividade nacional do Fed de Chicago caiu 0,34 ponto e o mercado esperava 0,5 ponto. Já os PMIs vieram mistos. O índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) sobre a atividade do setor de serviços dos Estados Unidos subiu para 55,2 pontos em agosto em leitura preliminar, ante previsão de 54 pontos.

PMI sobre a atividade industrial dos Estados Unidos caiu para 48 pontos em agosto em leitura preliminar e o mercado previa 49,3 pontos.

Para José Alfaix, economista da Rio Bravo, a divulgação do índice dos gerentes de compras (PMIs) dos EUA trouxe sinalização mista.

“De um lado, observamos a atividade econômica do setor de serviços permanecer aquecida, em patamar superior às projeções, e ainda demonstrando otimismo em relação à produção no próximo ano, com as expectativas de menor taxa de juros e inflação controlada. Do outro, o setor de manufatura caiu 1,6 pontos, chegando à casa de 48, território contracionista. Os 5 componentes do PMI de manufatura mostraram fraqueza no mês de agosto, a produção encolheu para o seu menor nível em 14 meses, e pedidos reduziram pelo segundo mês consecutivo. O certo seria dizer que a expansão de serviços indica comportamento saudável na maior parte da economia, vemos que as preocupações com os dados de mercado de trabalho não têm se materializado no consumo de modo geral. Ainda, a queda acentuada do setor de manufatura chama atenção para os próximos resultados”.

O dólar comercial fechou em forte alta de 1,97%, a R$ 5,5893 em um movimento de ajuste e com os investidores aguardando os sinais do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, sobre corte de juros, no simpósio de Jackson Hole, nos Estados Unidos.

Na sessão desta quinta-feira, a moeda norte-americana chegou subir mais de 2%, tocando a máxima de R$ 5,5954.

O economista-chefe do banco Bmg, Flávio Serrano, disse que o movimento do dólar hoje “parece mais realização de lucros, depois do movimento forte dos últimos dias”.

Serrano explicou que as taxas dos Treasuries (títulos do Tesouro norte-americano) estão subindo, impulsionando a moeda estadunidense. “O dólar está forte contra todas as moedas”.

Para o analista da Potenza Capital Bruno Komura, “a gente deveria estar seguindo o mercado lá fora, mas as questões locais estão pesando bastante no local – o mercado já dava como certo a alta de juros na próxima reunião, mas as declarações recentes [do Campos Neto] vieram muito dovish e agora tem dúvida se sobe mesmo”.

Komura disse que “a subida de juros não é extremamente necessária porque manter os juros neste patamar leva a uma inflação perto da meta em 2026, mas seria muito importante para a credibilidade da nova diretoria”.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecham em alta, à espera do discurso de Powell amanhã no Simpósio de Jackson Hole. Gabriel Galípolo [diretor de política monetária do Banco Central (BC)] afirmou hoje que existe uma possibilidade de alta de juros e que o comitê não hesitará em aumentar a taxa, se necessário.

Por volta das 16h40 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,840% de 10,750% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 11,590%, de 11,450%, o DI para janeiro de 2027 ia a 11,595%, de 11,430%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 11,645% de 11,470% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em queda, com o setor de tecnologia liderando as perdas, enquanto os investidores voltam sua atenção para um importante discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, amanhã de manhã.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,43%, 40.712,78 pontos
Nasdaq 100: -1,67%, 17.619,0 pontos
S&P 500: -0,89%, 5.570,64 pontos

 

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência Safras News