Por Danielle Fonseca, Flavya Pereira e Olívia Bulla
São Paulo – O Ibovespa voltou a cair e mostra volatilidade de olho no movimento das bolsas norte-americanas, com especulações de cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) depois de dados mais fracos da economia do país.
Por volta das 13h30 (horário de Brasília), o Ibovespa registrava queda de 0,50% aos 100.517,25 pontos. O volume financeiro do mercado era de aproximadamente R$ 8,5 bilhões. No mercado futuro, o contrato de Ibovespa com vencimento em outubro de 2019 apresentava recuo de 0,44% aos 100.645 pontos.
Segundo o sócio da Criteria Investimentos, Vitor Miziara, a curva de juros norte-americana já mostrou um aumento da expectativa de corte de juros em outubro, com cerca de 90% de chance. “Além disso, dados piores nos Estados Unidos podem forçar o governo a chegar um acordo com a China já na próxima semana, quando têm um encontro marcado”, afirmou.
Mais cedo, o indicador ISM de serviços azedou o humor dos mercados ao vir abaixo do esperado, depois que o ISM do setor industrial já tinha vindo fraco na última terça-feira, reacendendo temores de uma recessão à frente.
O economista da Guide Investimentos, Victor Beyrutti, destaca, porém, que os mercados podem seguir voláteis diante desse receio de uma desaceleração mais forte da economia global e à espera de definições, lembrando que amanhã serão divulgados os dados do mercado de trabalho norte-americano, conhecidos como “payroll”, considerados os mais importantes do país e que devem aumentar especulações em torno do Fed.
Ainda está no radar dos investidores, a reforma da Previdência, com rumores de que a votação em segundo turno no Senado pode demorar mais que o previsto, ficando para a segunda metade de outubro.
O dólar comercial ampliou as perdas frente ao real, caindo mais de 1% abaixo de R$ 4,10, reagindo aos indicadores de serviços dos Estados Unidos, divulgados há pouco, que ficaram abaixo do esperado. Lá fora, o dólar perde força ante as principais moedas pares e de países emergentes com investidores globais temendo uma recessão global.
Por volta das 13h30, o dólar comercial registrava queda de 1,08%, sendo negociado a R$ 4,0900 para venda. No mercado futuro, o contrato da moeda norte-americana com vencimento em novembro de 2019 apresentava retração de 0,96%, cotado a R$ 4,097.
“É mais um dado abaixo do esperado e que sustenta a leitura de que o Fed [Federal Reserve, o banco central norte-americano] deverá cortar mais uma vez a taxa de juros. Além de alimentar o temor de recessão da economia global”, comenta a analista da Toro Investimentos, Luana Nunes.
Em setembro, o índice do Instituto de Gerência e Oferta (ISM, na sigla em inglês) sobre a atividade do setor de serviços dos Estados Unidos caiu para 52,6 pontos, ante os 56,4 pontos registrados em agosto. O mercado projetava queda para 55,3 pontos.
A analista reforça que o ISM de serviços se junta aos números mais fracos do mesmo indicador de atividade industrial, divulgados na terça-feira, quando caíram a 47,8 pontos em setembro, ante expectativa de 50,2 pontos, além de desacelerar-se do observado em agosto (49,1 pontos, em dado revisado).
Além dos dados de criação de empregos no setor privado, publicados pela ADP ontem, com a criação de 135 mil vagas em setembro, ante criação de 157 mil vagas no mês anterior, em dado revisado. Anteriormente, a estimativa foi de 195 mil novos postos de trabalho em agosto. O indicador é uma prévia do relatório de empregos dos Estados Unidos e será divulgado amanhã.
“A revisão de 195 mil para 157 mil assustou e trouxe o alerta mais claro de contração da atividade econômica. Ou seja, nada está tão bom quanto Trump [Donald, presidente norte-americano] quer vender”, comenta o economista-chefe da Infinity, Jason Vieira. A analista da Toro acrescenta que os dados de atividade industrial na zona do euro também corroboram para a piora da percepção de desaceleração econômica. “Os conflitos, agora entre Estados Unidos e a Europa ajudam ainda mais nessa tensão global”, diz.
As taxas dos contratos futuros de juros (DIs) passaram a exibir um viés negativo, acompanhando a queda do dólar, que cai cerca de 1% e é cotado abaixo de R$ 4,10, além da piora dos mercados acionários, após mais um dado fraco sobre a atividade nos Estados Unidos. Ainda assim, as movimentações na curva a termo são estreitas, diante do cenário de crescimento e inflação baixas que se desenha no Brasil e no exterior.
Às 13h30, o DI para janeiro de 2020 tinha taxa de 5,020%, de 5,042% no ajuste de ontem; o DI para janeiro de 2021 estava em 4,91%, de 4,95%; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 6,00%, de 6,05% após o ajuste anterior; e o DI para janeiro de 2025 estava em 6,63%, de 6,67%, na mesma comparação.