Bolsa fecha em queda após corte de juros nos EUA e peso de commodities; dólar recua

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São Paulo -A Bolsa fechou em queda em dia em que o banco central norte-americano cortou de forma mais intensa os juros do país em 0,50 ponto porcentual (pp), conforme uma grande parcela do mercado vinha precificando, para uma banda entre 4,75% e 5%.

Apesar da redução, o Ibovespa não teve um impacto positivo devido à pressão das ações peso no índice-Petrobras e Vale-, que caíram forte. Os investidores ficam à espera da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom).

A Vale (VALE3) caiu 1,16% e Petrobras (PETR3 e PETR4) recuou 1,72% e 2,40%. O principal índice da B3 caiu 0,89%, aos 133.747,69 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro recuava 1,16%, aos 134.695 pontos. O giro financeiro era de R$ 37,5 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam em queda.

Nicolas Farto, sócio e head de renda variável da Vértiq Invest, disse que o corte de 0,50 pp nos juros americanos não foi surpresa.

“Aqui, [o Ibovespa] até tentou virar pra alta, mas voltou a cair, e o que pesa é a performance de Petrobras e Vale. Em relação à decisão, confirmou que o banco central está confortável em cortar de força mais intensa nesse nicho. Powell está sendo bem cuidadoso, deixou claro que as próximas decisões vão depender de dados para o mercado não precificar uma sequência de cortes tão intensos. Talvez [o Fed] corte com intensidade menor, a comunicação foi mais dovish. Disse que a inflação está mais controlada e confiante na atividade com ritmo interessante. Confirmou o que o mercado veio desenhando recentemente como o cenário mais provável, agora é aguardar os próximos números para antever as próximas decisões”.

Thiago Pedroso, responsável pela área de renda variável da Criteria, disse que o Ibovespa cai, até ensaiou um alta, porque “não teve novidades, aqui estava bem dado, com 70% [do mercado] apostando um corte de 50pp [juros], não tem grande novidade. Embora seja algo positivo era algo que já vinha sendo precificado”.

Pedroso disse que para entender os próximos passos vai depender de fatores adicionais.

“Aqui, temos de ver como o mercado vai enxergar a entrada de fluxo com esse cenário. Vem caindo o ingresso de fluxo externo, o volume de negociação da B3 caiu absurdamente. Isso vai ser balizado se esse fluxo vai voltar ou não, temos as questões locais, decisão de juros aqui e o problema fiscal está muito no radar”.

O responsável pela área de renda variável da Criteria comentou esse primeiro corte de juros nos Estados Unidos, após quatro anos e “já veio mais agressivo porque aumentou a pressão do mercado e do meio político por uma corte maior com medo de que uma desaceleração da economia americana podia ser mais intensa, se ficasse muito atrás. O Fomc está mais preocupado com emprego e que a economia não desacelere. Se a inflação voltar a estressar está pronto para agir”.

Cristiane Quartaroli, economista-chefe da Ouribank, disse que a decisão do Fed em cortar 0,50pp nos juros “surpreendeu a maioria das expectativas do mercado, que acreditava em um corte de 25p.p. A decisão é uma sinalização positiva para a economia global e tende a ter impacto positivo para os mercados emergentes, principalmente no comportamento da taxa de câmbio”.

Mais cedo, Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, disse que a Bolsa cai com o mercado está apreensivo em dia de decisão de política monetária nos Estados Unidos e aqui e commodities em queda.

“Com o início do corte de juros pelo Fed, queda das commodities afeta Petrobras e Vale, o que pressiona o Ibovespa pra baixo. As commodities, como outros ativos, ficam refém nesse momento de inflexão de política monetária americana. Ao longo do pregão pode ter uma melhora. Se houver corte de juros [nos EUA] com fala de Jerome Powell [presidente do Fed] sinalizando novos cortes e mostrando firmeza de que estamos [EUA] distantes de qualquer recessão, abre espaço para o mercado se animar, especialmente se o sumário [projeções econômicas] vier nessa direção, é o melhor dos cenários. O otimismo não seria só hoje, mas na quinta e sexta onde se dará a ingestão da super quarta e no resto do ano. O melhor para o Fed é cortar 0,25pp, caso venha 0,50pp é um risco grande do mercado interpretar que Fed está começando a ficar preocupado com a atividade econômica”.

Em relação ao Copom, Spiess disse que o Copom deve subir a Selic em 0,25 pp “com discurso duro abrindo espaço para novas altas. A decisão tem de ser unânime para não ter prejuízo na credibilidade [do BC]. O mercado está agressivo, mas o contexto é fluido. Até o final do ano vão ter novos dados e outros cortes [de juros] nos EUA. Aqui o problema é fiscal, não adianta o BC elevar juros se o governo não cortar gastos, o mercado vai ficar ainda mais confortável em relação às ancoragens das expectativas”.

No mercado de câmbio, o dólar comercial fechou em queda de 0,47%, cotado a R$ 5,4608. A moeda chegou a cair mais de 1% logo após o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) anunciar corte de 0,5 ponto percentual (pp) na taxa básica de juros, que agora está na banda entre 4,75% e 5,0%.

Ainda hoje, no começo da noite, o Comitê de Política Monetária (Copom) irá anunciar a atualização da Selic (taxa básica de juros), o que deve impactar os mercados na manhã desta quinta.

Segundo o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, a decisão não surpreendeu, já que a maioria das apostas eram um corte de 0,5 pp: “Embora mais dovish do que se esperava, o Fed deixou um recado de que o ciclo de cortes será mais rápido, ‘mas não precifiquem loucuras'”.

Borsoi observou que as projeções de corte dos juros para 2025 e 2026 permaneceram inalteradas, mas que o Fed percebeu que a política monetária estava mais restritiva do que ele gostaria.

No mercado de juros, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam mistas, perto da estabilidade, com o mercado absorvendo o corte de 0,50 ponto porcentual (pp) nos juros americanos, passando para o intervalo entre 4,75% e 5%. Após o anúncio e durante a coletiva de imprensa do presidente do Fed, Jerome Powell, as taxas chegaram a ceder, mas se acomodaram. O mercado fica na expectativa para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), após o fechamento dos negócios.

Por volta das 16h33 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,935% de 10,945% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 11,785%, de 11,780%, o DI para janeiro de 2027 ia a 11,830%, de 11,810%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 11,910% de 11,890% na mesma comparação.

No exterior, os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em queda, com o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) reduzindo a taxa de juros em meio ponto percentual. O corte de taxa significativo foi inicialmente celebrado pelos traders, embora tenha levantado preocupações de que o Fed estivesse tentando se antecipar a uma possível fraqueza econômica.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,25%, 41.503,10 pontos
Nasdaq 100: -0,31%, 17.573,3 pontos
S&P 500: -0,28%, 5.618,26 pontos

 

Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Agência Safras News