Bolsa fecha em queda e dólar em alta com foco no fiscal; no trimestre, índice sobe 6,4%

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São Paulo -A Bolsa fechou em queda, na mínima do dia -131.816,44 pontos-, no último pregão do mês puxado pela apreensão com o quadro fiscal doméstico, após as contas públicas de agosto fecharem no negativo.

Os estímulos à economia chinesa chegaram animar o mercado ajudando as mineradoras e siderúrgicas, mas o otimismo não se sustentou. A Vale (VALE3), ação de maior peso, fechou em baixa. No mês, o Ibovespa fechou em queda de 3,07% e, no trimestre, em alta de 6,4%.

As contas públicas do governo ficaram no vermelho no mês passado. O setor público consolidado-União, estados, municípios e empresas estatais- registrou déficit primário de R$ 21,4 bilhões em agosto, na comparação com igual período do ano passado, de R$ 22,8 bilhões.

Depois de subir mais de 1%, as ações da Vale (VALE3) fecharam em queda de 0,70%, cotadas a R$ 63,51, na mínima do dia.

Os papéis sensíveis a juros caíram com a alta na curva de juros. Magazine Luiza (MGLU3) recuou 3% e MRV (MRVE3) perdeu 1,36%. Itaú (ITUB4) cedeu 1,76%.

O principal índice da B3 caiu 0,68%, aos 131.816,44 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro recuou 0,53%, aos 132.625 pontos. O giro financeiro foi de R$ 20,5 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam em alta.

Hemelin Mendonça, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital, disse que o Ibovespa reflete o cenário fiscal doméstico.

“Os dados sobre as contas públicas e a nova revisão da SELIC no Focus reforçaram a aversão de risco na sessão de hoje. Ainda hoje sai o decreto de programação orçamentária e financeira em que o governo indicará quais ministérios serão beneficiados pelo descongelamento de R$ 1,7 bilhão em gastos”.

Hemelin comentou que o Ibovespa chegou a subir com a boa performance da Vale por conta da forte alta do minério de ferro, mas o fiscal pesou.

Ricardo Leite, head de renda variável Diagrama Investimentos, disse que a Bolsa opera de lado.

“Os estímulos chineses deram uma guinada nas ações do setor de mineração e siderurgia, mas o Focus [Boletim] de hoje causou um pouco de apreensão em relação ao fiscal. O risco de desancoragem da inflação, fazendo com que as empresas que abriram em alta perdessem um pouco de força no intraday, e as ações mais sensíveis a curva de juros com quedas significativas, puxando o índice para lateralização. Se não fossem as ações de minério [de ferro], principalmente Vale, o índice estaria operando no negativo. O exterior mais devagar ajuda ainda mais expor os problemas internos”.

Mais cedo, a edição do Boletim Focus desta segunda-feira mostrou que a projeção para a inflação medida pelo Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) se manteve em 4,37% este ano. Já a previsão para a Selic subiu de 11,50% para 11,75% em 2024.

No mercado de câmbio, o dólar comercial fechou em alta de 0,21%, cotado a R$ 5,4478. A moeda refletiu, ao longo da sessão, o temor fiscal gerado pelas contas públicas. Nem mesmo os incentivos chineses à economia foram suficientes para fortalecer o real. No mês e trimestre a divisa estadunidense recuou 3,28% e 2,55%, respectivamente.

“O setor público consolidado registrou déficit em agosto de -R$ 90,38 bi, abaixo das projeções do mercado e relação dívida/PIB de 78,5%, com -R$ 21,43 bi em déficit primário. e existe uma pressão compradora forte”, explicou o economista do portal Money You Jason Vieira.

O analista da Potenza Capital Bruno Komura diz que “a Ptax fechou quase estável em relação a sexta-feira. O real começou o dia se valorizando, mas por conta do cenário fiscal vimos a moeda virar. O déficit divulgado não contribuiu e faz com que as expectativas do mercado continuem – teremos déficit nos próximos anos, que é agravado com as taxas de juros elevadas”.

Da mesma forma que o dólar, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecham em alta, ainda tensionadas pela questão fiscal e no mesmo sentido dos Treasuries (títulos do Tesouro norte-americano).

Por volta das 16h35 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 11,010% de 11,005% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 12,310%, de 12,315%, o DI para janeiro de 2027 ia a 12,380%, de 12,365%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 12,415% de 12,390% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo positivo, enquanto os investidores reagiam às declarações do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, que prometeu fazer o que for necessário para manter a economia aquecida, ao mesmo tempo em que sinalizou que não terá pressa para cortar as taxas de juros novamente.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,04%, 42.330,15 pontos
Nasdaq 100: +0,38%, 18.189,17 pontos
S&P 500: +0,42%, 5.762,43 pontos

Camila Brunelli, Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Agência Safras News