Tensão com guerra comercial entre EUA e China faz Bolsa e dólar fecharem em queda

797

Por Danielle Fonseca e Flavya Pereira

São Paulo – Após um dia volátil e medidas dos Estados Unidos contra a China, o que aumentou o pessimismo quanto a um acordo comercial entre os dois países, o Ibovespa fechou em queda pelo segundo pregão seguido, com perdas de 0,58%, aos 99.981,40 pontos. Com isso, o índice voltou a fechar abaixo dos 100 mil pontos, o que não acontecia desde o dia 3 de setembro (99.680,83 pontos). O volume total negociado foi de R$ 14,7 bilhões.

“Estamos muito presos ao cenário externo e devemos continuar refletindo essa questão da guerra comercial ao longo da semana”, disse o analista da Mirae Asset Corretora, Pedro Galdi.

No final do dia, o Departamento de Estado dos Estados Unidos anunciou restrições de visto ao governo chinês e a funcionários do Partido Comunista que se acredita estarem envolvidos em abuso de uigures e outros grupos minoritários muçulmanos em Xinjiang, na China. A medida voltou a azedar o humor e levou as bolsas norte-americanas a voltarem a ampliar perdas, o que refletiu no Ibovespa.

Mais cedo, a notícia que os Estados Unidos colocaram uma série de empresas chinesas em uma lista negra de exportações, citando seu papel na repressão de Pequim às minorias muçulmanas no noroeste da China, já havia preocupado os mercados, uma vez que ocorrem dias antes da retomada das negociações comerciais, marcadas para quinta-feira.

Já na cena doméstica, investidores ficaram atentos às negociações com governadores sobre a cessão onerosa, que está sendo a “moeda de troca” para votar a reforma da Previdência em segundo turno no Senado. Há pouco, o líder do governo no Senado Federal, Fernando Bezerra Coelho (PSDB-PE) afirmou que está em fase final de construção um acordo para votar a partilha da cessão onerosa amanhã na Câmara.

Entre as ações, as maiores quedas foram da CSN (CSNA3 – 4,31%), da Kroton (KROT3 -3,70%) e da Marfrig (MRFG3 -3,12%). Já as maiores altas foram da Cosan (CSAN3 2,19%), do BTG Pactual (BPAC11 1,98%) e da Qualicorp (QUAL3 1,68%).

O dólar comercial fechou em queda de 0,33% no mercado à vista, cotado a R$ 4,0910 para venda, em sessão de correção no mercado doméstico e expectativa de investidores quanto a avanços da reforma da Previdência em meio às discussões sobre a cessão onerosa. Porém, calibrando a cautela dos investidores no mercado externo à espera do encontro entre Estados Unidos e China na quinta-feira para mais uma rodada de negociações a respeito da guerra comercial.

Apesar de oscilações na abertura dos negócios, a moeda operou em queda em praticamente todo o pregão refletindo o viés de correção após forte alta ontem, além de um fluxo de entrada de recurso estrangeiro, comenta o gerente de mesa de câmbio, Guilherme Esquelbek.

“As tratativas da cessão onerosa elevaram o otimismo do mercado local, que se descolou do cenário externo. Perto do fechamento, porém, o dólar se afastou das mínimas com a notícia que o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, anunciou a restrição de vistos a autoridades do governo chinês e seus familiares por instituir uma ‘campanha altamente repressiva’ contra minorias muçulmanas no noroeste da China”, ressalta.

Ao longo do dia, não faltou notícias envolvendo as duas principais economias do mundo e protagonistas da guerra comercial. A abertura dos negócios reagiu à notícia de que os Estados Unidos incluíram 28 empresas chinesas em uma lista negra de exportação. Isso em meio aos rumores de que o país estaria considerando limitar o fluxo de capital norte-americano na China, com ênfase a atuação dos fundos de pensão.

“É importante notar que essa disputa está cada vez mais ampla, tendo começado por questões de fluxos comerciais com os Estados Unidos querendo diminuir o déficit com a China, passando por questões de tecnologia e chegando, agora, a questões humanitárias. Ou seja, cada vez mais difícil esperar um acordo efetivo e duradouro”, avaliam os analistas da H.Commcor.

Aqui, a cessão onerosa deverá seguir pautando o mercado local após a afirmação do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho, que um acordo que será tecido entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e a equipe econômica do governo, está em fase final de construção para votar o projeto de lei sobre a partilha dos recursos do leilão do pré-sal aos estados e municípios.

“A tendência é o dólar abrir em queda na expectativa por essa votação. Porém, tem a guerra comercial e todo mundo à espera desse encontro na quinta-feira. Um vai calibrar o outro, o local e o exterior”, comenta o diretor da corretora Mirae Asset, Pablo Spyer.