São Paulo, 24 de outubro de 2024 – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista a jornalistas após reuniões em Washington, com a agência de classificação de risco S&P e com Janet Yellen, além do encerramento da liderança financeira do Brasil no G20. O ministro cumpre agenda oficial nos Estados Unidos até esta quinta-feira (24/11) por ocasião das Annual Meetings do FMI e do Banco Mundial, bem como a última reunião Ministerial da Trilha de Finanças do G20.
Sobre a reunião com a S&P, Haddad disse que atendeu a pedido da agência, que pediu esclarecimentos a respeito “da posição do governo sobre o ambiente no Brasil” e que foi uma “conversa rápida”, de 30 minutos, e que foi informada “a visão de longo prazo da economia brasileira”. O ministro procurou frisar a independência da agência em relação às classificações de risco, ao ser questionado sobre comentário recente da S&P em relação à impossibilidade de melhorar o rating soberano do Brasil e uma possível tentativa do país em defender a elevação da nota nesta reunião. “As perspectivas das agências de risco não eram boas e melhoraram bastante. Isso é sempre dinâmico”, comentou.
Já em relação ao encontro com a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, na quarta-feira (23), o ministro disse que foram tratadas “questões mais burocráticas”, relacionadas a pendências do governo brasileiro em relação ao Tesouro, no contexto de “troca de governo” norte-americano.
Sobre a elevação do IPCA-15, o ministro Fernando Haddad respondeu que o indicador mostra uma preocupação com os efeitos da estiagem nos preços da energia e dos alimentos do que uma tendência de alta permanente e espera que a inflação fique dentro da meta.
“Estamos preocupados com a questão da seca, tanto em relação à energia, quanto em relação a alimentos, embora os núcleos tenham apontado uma uma variação superior à esperada. Mas se lembrarmos que no mês passado aconteceu exatamente o oposto, no acumulado do ano, nós estamos entendendo que a inflação deve ficar dentro da meta e, do meu ponto de vista, tem mais a ver com a questão do câmbio e da seca do que propriamente, com algum impulso maior nos preços reiterado”, explicou.
Haddad disse que a revisão de gastos que está sendo feita pela equipe econômica será estrutural e não está atrelada a ministérios especificamente. “O ministério da Fazenda trabalha com questões estruturais. O marco fiscal é uma questão estrutural, o reforço do arcabouço fiscal é uma questão estrutural. É diferente de você fazer bloqueio e contingênciamento, que são momentâneos, para fazer com que a lei aprovada pelo nosso governo seja respeitada. Nós estamos trabalhando questões estruturais, não diz respeito a este ou àquele ministério”, comentou.
O ministro também fez um balanço positivo da presidência do Brasil da Trilha de Finanças do G20. “Eu seria muito modesto se não elogiasse a equipe que conduziu os trabalhos do G20. Nesta 25a edição da Trilha financeira, eu acredito que poucas alcançaram esse grau de excelência e de resultado, com dois comunicados muito abrangentes, muito significativos, do ponto de vista de reformas propostas. Nós trabalhamos temas muito delicados, como taxação de indivíduos, alinhamentos em torno de um projeto desenvolvimento global, a questão climática no sentido de oferecer instrumentos financeiros de financiamento da transformação ecológica”, comentou.
O ministro destacou também o consenso alcançada em relação aos temas debatidos. “Ou seja, apesar da sensibilidade dos temas, nós conseguimos consenso de 20 países que estão vivendo uma situação geopolítica bastante complexa. Não é uma situação de normalidade internacional. As tensões geopolíticas estão evidentes e, ainda assim, mesmo considerando os temas sensíveis que nós entendemos importante discutir, nós chegamos a dois comunicados bastante representativas do que é a diplomacia multilateral brasileira.”
Na sua avaliação, “graças à situação que o Brasil se encontra, equidistante de interesses de curto prazo”, conseguiu “uma posição de negociar em médio e em longo prazo, com a confiabilidade necessária dos países dos membros do G20.”
Em relação ao avanço da proposta de taxação de super-ricos, Haddad considera que o discurso inaugural da África do Sul, que assumirá a presidência da Trilha de Finanças do G20 em 1 de dezembro mostra que haverá continuidade. “Poderia haver uma interrupção da agenda brasileira e o discurso da África do Sul deixou claro que haverá uma continuidade da agenda, sem prejuízo das marcas que a própria África do Sul certamente vai querer imprimir à sua presidência, a África do Sul deixou claro que recebe o bastão com o compromisso de levar adiante a agenda brasileira. É para isso que serve o G20. Não é para que um um país que assuma a presidência deixa de lado aquilo que foi uma conquista do seu antecessor, mas o discurso inaugural da África do Sul deixou bastante claro que isso não vai acontecer, o que nos deixou bastante satisfeitos.”
Por fim, o ministro disse que “não tinha como o G20 ser melhor” para o Brasil. “Nossas teses foram todas negociadas e aprovadas e o nosso país sucessor traz consigo o compromisso de mantê-las dentro da agenda do grupo. Não podia ser melhor.”
Cynara Escobar – cynara.escobar@cma.com.br (Safras News)
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