Por Gustavo Nicoletta
São Paulo – A alta demanda por emissões de dívida corporativa está provocando distorções que reduzem excessivamente as taxas de juros oferecidas por esses papéis, afirmou Marcelo Mello, vice-presidente de Investimentos, Vida e Previdência da SulAmérica Investimentos. Diante disso, a gestora tem evitado algumas ofertas primárias destes papéis, preferindo aguardar para entrar nestes ativos no mercado secundário.
Em entrevista coletiva, ele mencionou que quando as taxas de juros no Brasil estavam em 14%, empresas menores iam a mercado oferecendo títulos com remuneração de 120% da taxa do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), o que correspondia a uma taxa nominal de 17% ou 18%.
Hoje, segundo ele, “essas mesmas empresas emitem a 110% do CDI. A gente está falando de 5,50%. Existe assimetria que pode gerar distorção aqui no Brasil. Esse é um ponto técnico que a gente sempre está atento, principalmente na alocação local. Precisa ficar mais qualitativo para evitar distorção de preço”, afirmou.
Ele disse que a preocupação da SulAmérica Investimentos com os investimentos em crédito corporativo hoje é menos com a possibilidade de default das dívidas do que com a marcação do preço. “”É comprar um papel hoje que vale 105% do CDI e amanhã vale 108% do CDI. Em algum momento esse ajuste vai acontecer. Quando ele acontecer, quem tem o papel sofre na marcação”, afirmou.
Mello disse que a solução encontrada pela gestora, nestes casos é esperar a negociação dos papéis no mercado secundário para ter uma referência menos distorcida a respeito do preço dos títulos.
“Vamos supor que tem emissão corporativa da Empresa A. A gente acha que o preço está distorcido. Não entra no bookbuilding”, disse ele, em referência ao período de coleta de ofertas dos investidores pelo ativo que será vendido no mercado primário.
“Amanhã tem no mercado secundário. Um fundo detentor dessa debênture precisa vender alguma participação. Quando o mercado secundário ajustar o preço do papel, o que acontece com quem tem esse papel? O preço vai ser ajustado, porque os custodiantes são obrigados a ajustar o preço a mercado. Quando percebemos que a distorção foi corrigida, a gente entra comprando”, afirmou.
Ele disse também que as plataformas digitais de investimento ajudam muito neste processo ao disseminar os negócios com títulos de dívida no mercado secundário, visto que antes este tipo de operação ocorria principalmente entre fundos de investimento. “Quando queremos vender no mercado secundário a gente bate nas plataformas.”
Mello disse que a SulAmérica continua investindo na oferta primária de alguns títulos de dívida corporativa, e que quando faz isso busca papéis que possam se enquadrar na maioria ou em todos os 200 mandatos de fundos administrados pela empresa.