São Paulo, 4 de novembro de 2024 – O Ibovespa fechou em alta com investidores à espera de ajustes nos gastos públicos que devem ser divulgadas pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva nas próximas horas. O pregão começou reagindo positivamente ao adiamento da viagem que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, faria à Europa, e ganhou tração após Haddad afirmar, nesta segunda-feira, que as medidas de contenção de gastos públicos “estão muito adiantadas” do ponto de vista técnico. Ele deu a entender também que o anúncio dessas iniciativas pode ocorrer depois da reunião com o presidente, na tarde de hoje.
O resultado da eleição presidencial nos Estados Unidos e as reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) e Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) seguirão no radar dos investidores ao longo da semana.
No primeiro pregão em que a Bolsa ampliou o horário de negociação, com a mudança do horário de fechamento das 17h para as 17h55, o principal índice de ações da B3 fechou em alta de 1,86%, aos 130.514,79 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro avançou 2,31%, aos 132.125 pontos. O giro financeiro foi de R$ 14,3 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam em queda.
Entre as ações, as maiores altas foram de: COGN3: +11,03% / R$ 1,51; MGLU3: +10,38% / R$ 9,78; e CVCB3: +9,28% / R$ 2,12. Os três piores desempenhos foram de AZUL4: -3,01% / R$ 5,15; HYPE3: -1,98% / R$ 22,27; e BRKM5: -1,04% / R$ 17,06.
Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, comenta que o mercado está em compasso de espera em relação ao anúncio do governo enquanto espera as decisões de política monetária. “Na última sexta-feira, tivemos a divulgação dos dados do payroll, que vieram bem abaixo do esperado, com 12 mil vagas criadas, muito abaixo do esperado mesmo. Um dado que pegou o mercado de surpresa. E tinha tudo para ser um dia com Ibovespa para cima acompanhando as altas lá fora, mas acabou acontecendo o contrário porque o cenário doméstico e as preocupações com o fiscal fizeram muito mais peso aqui”, lembra.
Na sua avaliação, com esse último dado do payroll, a próxima decisão do Fed é de uma redução de 25 p.p. e o mercado deve acompanhar com atenção a mensagem do presidente do banco central norte-ameircano, Jerome Powell “Por mais que a gente tenha previsibilidade para as próximas decisões, o mercado vai ficar de olho mesmo no discurso do Powell, que é o que mais impacta os mercados. De fato, os dados do payroll deixaram o mercado bem otimista com a decisão. Se dados nos EUA continuarem vindo positivos como veio esse último, acredito que, após a decisão dessa semana, o Fed possa até pensar em aumentar o patamar de queda de juros nas próximas decisões. Por lá, também temos as eleições americanas com os candidatos Kamala e Trump bem empatados nas pesquisas”, avalia.
Em relação ás ações, Cohen destaca, entre as altas, os papéis do setor de consumo, varejo e construção como MGLU3, MRVE3, PCAR3, YDUQ3, MRVE3 e COGN3, que sobem reagindo bem à queda dos juros futuros. “Klabin também sobe após divulgar balanço visto como positivo pelo mercado. A empresa apresentou Ebitda com alta de 33% no ano atingindo R$ 1,8 bilhão”, observa o analista.
“Já entre as quedas, temos Bradesco, com o mercado repercutindo mal o último balanço divulgado pela empresa, sem grandes destaques. O lucro da companhia não surpreendeu o mercado e o resultado por ação no trimestre, de R$ 0,49, ficou abaixo das projeções. Hypera também se destaca entre as quedas com investidores ainda repercutindo de forma negativa a desistência da empresa em relação a fusão com a EMS. Azul também cai com os investidores pessimistas depois de a companhia ter sido rebaixada pela Fitch e S&P”, finaliza.
Lucas Sigu Souza, sócio-fundador da Ciano Investimentos, vê o movimento de hoje do Ibovespa, com tendência de alta, basicamente por conta de cenários como o global, que, na maioria das bolsas internacionais teve alta, e por conta também do petróleo e minério de ferro, que também fecharam em alta. “Além disso, vemos também um mercado que foi muito pressionado nas últimas semanas de outubro, fechando o mês no negativo. Via de regra, o que acontece hoje também é parte de uma recuperação natural. Também não se pode deixar de considerar o fato que o Haddad cancelou suas viagens a pedido do Lula, para que dê atenção ao pacote fiscal que estamos nas vias de aprovação e o mercado tem alta expectativa dessa conclusão, pra saber qual direcionamento o país terá”, analisa.
“Na minha visão, não estou otimista com o resultado, mesmo com o Haddad ficando pra dar atenção mais devida. De qualquer forma, o mercado viu hoje como um respiros das recentes tensões econômicas e fiscais”, acrescenta Souza.
O dólar comercial fechou em queda de 1,47%, cotado a R$ 5,7830. A moeda refletiu, ao longo da sessão, a subida candidata à presidência dos Estados Unidos, Kamala Harris nas pesquisas eleitorais e, principalmente, a espera pelo anúncio de um pacote de corte de gastos pelo governo.
Na opinião do head de head de renda variável da Veedha Investimentos, Rodrigo Moliterno, o mercado vê o pacote de corte de gastos, a ser anunciado pelo governo, como algo estrutural e não paliativo, e que montante reduzido fique na casa entre R$ 30 e 50 bilhões.
Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “o câmbio estava muito esticado. Do ponto de vista técnico, havia a percepção de que havia passado do ponto”.
Borsoi pontua que Trump ainda é favorito nas eleições estadunidenses, mas que “não é tão garantido quanto o mercado precificava”.
Além disso, Borsoi entende que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ter cancelado a viagem para e Europa com o intuito de discutir um pacote fiscal com o presidente Lula fez com que o mercado melhorasse a percepção sobre o fiscal doméstico.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecham em queda – em especial os títulos mais longos – já que o mercado entende que o aumento dos juros na reunião de novembro deve ser maior que o esperado. Além disso, a diminuição da diferença de entre Kamala Harris e Donald Trump favorece a queda dos Treasuries (títulos do Tesouro norte-americano), atingindo os DIs.
Por volta das 16h35 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 11,322% de 11,164% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 12,890%, de 12,640%, o DI para janeiro de 2027 ia a 13,040%, de 12,810%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 13,050% de 13,240% na mesma comparação. O dólar opera em firme queda, cotado a R$ 5,7718 para venda.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo negativo, enquanto os investidores se preparavam para a eleição presidencial nos Estados Unidos e um possível corte na taxa de juros do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) ainda nesta semana.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -0,61%, 41.794,60 pontos
Nasdaq 100: -0,33%, 18.180,0 pontos
S&P 500: -0,28%, 5.712,69 pontos
Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Safras News
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