Bolsa fecha estável à espera dos ajustes fiscais, indicadores e balanços corporativos; dólar sobe

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Gráfico de ações // Créditos: Pexels/Tima Miroshnichenko

São Paulo, 11 de novembro de 2024 – A Bolsa fechou o pregão desta segunda-feira em leve alta, perto da estabilidade, à espera dos ajustes fiscais e indicadores econômicos e balanços corporativos que serão anunciados ao longo da semana.

O dia começou negativo, com os investidores precificando a demora nos cortes de gastos do governo e expectativa de anúncio abaixo do esperado, diante da sinalização de insatisfação com as medidas que vem sendo apontada por alguns ministros, além de ser motivo de divergência dentro do Partido dos Trabalhadores (PT), legenda do presidente Luís Inácio Lula da Silva. Pela manhã, o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, disse em entrevista à Globonews, que não haverá corte de direito social no pacote de medidas para conter as despesas do governo. O conjunto de medidas vem sendo debatido há três semanas pelo Palácio do Planalto, com fortes divergências entre a equipe econômica a área social.

Há duas semanas, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, indicou a possibilidade de pedir demissão do cargo caso o governo federal resolva fazer mudanças em programas e benefícios sob a alçada do MTE. A fala do ministro ocorreu durante a coletiva de imprensa sobre os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de setembro, no dia 30 de outubro.

Os operadores do mercado financeiro também acompanharam a divulgação de projeções macro econômicas mais pessimistas da pesquisa Focus. As instituições financeiras ouvidas pelo Banco Central (BC) elevaram de 4,59% para 4,62% a previsão para a inflação medida pelo Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2024. A meta para a inflação no período é de 3,00%. A previsão de inflação nos preços administrados que são controlados por contrato ou pelo poder público diminuiu de 5,06% para 5,03%, enquanto a projeção para a inflação medida pelo Indice Geral de Preços Mercado (IGP-M) subiu de 5,35% para 5,39%. Para 2025, as instituições financeiras elevaram de 4,03% para 4,10% a previsão para a inflação medida pelo IPCA. A meta para a inflação no período é de 3,00%. A previsão de inflação nos preços administrados em 2025 ficou estável em 3,82%, enquanto a projeção para a inflação medida pelo IGP-M manteve-se em 4,00%.

O Ibovespa também manteve o movimento baixista nos papéis das mineradoras e siderúrgicas, como o da Vale, que tem forte peso no índice, ainda em reflexo da decepção dos investidores com os estímulos chineses anunciados na sexta-feira somados a riscos da agenda protecionista do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump.

Além de ajustes fiscais, a semana encurtada pelo feriado da Proclamação da República, na sexta-feira, 15 de novembro, terá a divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) e dos últimos balanços corporativos do terceiro trimestre. No âmbito internacional, a semana terá indicadores importantes de preço nos Estados Unidos, como o Consumer Pricer Index (CPI) de outubro, na quarta-feira (13) e da inflação no atacado, medida pelo Producer Price Index (PPI), na quinta-feira (14). Os traders também ficam atentos aos movimentos dos mercados no exterior que podem influenciar as commodities.

O principal índice da B3 fechou em alta de 0,03%, aos 127.873,70 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro subiu 0,06%, aos 128.960 pontos. O giro financeiro foi de R$ 14,138 bilhões. Em Nova York, os futuros fecharam em alta.

Os destaques positivos do pregão foram as ações da Cogna (COGN3) e Yduqs (YDUQ3), que fecharam em alta de 8,82% e 5,86%, seguidas pela Petrorecôncavo (RECV3) que avançou 4,70%.

Os destaques negativos foram da Companhia Siderúrgica Nacional (CSNA3), Vale (VALE3) e Usiminas (USIM5), que caíram 3,91%, 3,26% e 2,78%, respectivamente, além da Totvs (TOTS3), que recuou 2,78%.

“As ações da Petrorecôncavo continuam em alta com divulgação de dividendos atraentes. Decepção com estímulos chineses somados a riscos da agenda protecionista de Trump concentram aversão a risco ao setor de Siderurgia e Metalurgia”, comentou a Ativa Investimentos.

Aline Cardoso, head de research do Santander, avalia que os investidores estão em modo “esperar para ver”, à espera do anúncio de um pacote de corte de gastos por parte do governo federal brasileiro. “De acordo com nossa equipe macro, a soma das medidas em análise gira em torno de R$ 137 bilhões para 2025 e 2026. No entanto, dadas as dificuldades políticas, acreditamos que o pacote final provavelmente ficará na faixa de R$ 20-30 bilhões”, especula a análise.

Rodrigo Cohen, analista da Escola de Investimentos, comenta que o movimento do mercado reflete o “efeito Trump Trade”, com o dólar subindo no mundo, assim como os índices norte-americanos, em compasso de espera de importantes indicadores. “Temos o CPI, nos EUA, na quarta, que promete trazer novos indicativos em relação a próximas decisões do Fed. Com commodities caindo, a gente tem minério caindo, isso atrapalha muito o Brasil, obviamente, já que temos empresas de peso do Ibovespa em queda. Com o dólar subindo, isso também atrapalha muito o Brasil.”

O analista destaca que o boletim Focus, divulgado mais cedo, também piorou o ânimo do mercado com mais uma semana de projeções pessimistas para a economia. “A indefinição sobre quando o pacote de corte de gastos será anunciado também tem deixado o mercado bem apreensivo. Mercado atento também à divulgação da ata do Copom e prévia do PIB”, acrescenta.

“Com a queda do minério de ferro motivada pela decepção com o pacote de estímulo fiscal anunciado para a economia chinesa, empresas do setor enfrentam quedas como Vale, Usiminas, CSN e CSN Mineração.”

Em seu boletim diário dos movimentos técnicos do Ibovespa, Ricardo Amorim, analista da Levante ressalta que, “enquanto diversos mercados e índices globais, como o Bitcoin e as bolsas americanas, continuam renovando suas máximas históricas, o cenário por aqui é bem diferente.”

“A impressão que fica é de que o Ibovespa renovou mínimas recentes, confirmando a tendência de baixa visível no gráfico diário. Caso essa tendência se mantenha, o próximo suporte relevante está na região dos 125.000 pontos. Outro ponto de atenção para o início desta semana é a queda nas commodities, fator que pode influenciar ainda mais a pressão sobre o índice, reforçando o sentimento de cautela entre os investidores”, avalia Amorim.

O dólar comercial fechou em alta de 0,59%, cotado a R$ 5,7698. A moeda refletiu, ao longo da sessão, a espera do mercado pelo pacote fiscal que o governo deve anunciar nos próximos dias. Paralelo a isso, o feriado do Dia do Veterano, nos Estados Unidos, reduziu a liquidez na primeira sessão da semana.

“O mercado permanece atento ao aguardado pacote de corte de gastos, com negociações previstas para prosseguirem ao longo da semana. Essa medida é um dos principais eventos no radar econômico até o final do ano. Caso seja aprovado um pacote significativo de redução estrutural de gastos, há expectativas de desvalorização do dólar. No entanto, se a medida não avançar, a moeda norte-americana poderá manter seu movimento de alta”, contextualiza o head de Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt.

Segundo o sócio da Ethimos Investimentos Lucas Brigato, “o pacote entrou em uma discussão mais intensa. Todo mundo quer saber o quanto o governo vai conseguir corta – e que seja confiável”.

O economista da Confiance Tec Julio Hegedus Netto explica que o governo tem tido dificuldade para negociar o pacote de gastos com os ministros, classificando o movimento como um “trabalho delicado”, que entra na terceira semana de negociações.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecham em alta, à espera do pacote doméstico de corte de gastos que deverá ser anunciado essa semana, além das incertezas relacionadas à eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos.

Por volta das 16h45 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 11,410% de 11,394% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 13,140%, de 13,060%, o DI para janeiro de 2027 ia a 13,215%, de 12,995%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 13,105% de 12,995% na mesma comparação. O dólar opera em firme alta, cotado a R$ 5,7733 para venda.

Os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam a sessão em alta, com Dow Jones e S&P registrando novas máximas históricas, enquanto Wall Street mantém o forte rali pós-eleitoral.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,69%, 44.293,13 pontos
Nasdaq 100: +0,06%, 19.298,8 pontos
S&P 500: +0,09%, 6.001,35 pontos

Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo (Safras News)

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