“A trajetória de corte nos juros não é linear”, diz Lagarde

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A presidente do Fed. Christine Lagarde | Foto: Angela Morant/ECB

 

A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, disse nesta quarta-feira em um evento do Atlantic Council que “não temos uma trajetória linear, sistemática de corte nas taxas de juros”. Lagarde reiterou que o banco central é dependente de dados e que, em outubro, o corte de 0,50 ponto percentual (pp) ocorreu porque os dirigentes estavam “confiantes pelos dados observados: a desinflação estava caminhando e podíamos recuar na política monetária”, explicou. “Mas é claro que temos que ser cautelosos, porque os dados vão vir e indicar para nós o estado da economia”. 

 

Um dos dados observados, segundo ela, é o crescimento entre os membros do grupo. Mas, de maneira geral, a presidente afirma que “vemos os dados sob três critérios: perspectiva de inflação, inflação e transmissão da política monetária”. 

 

Lagarde disse estar satisfeita com o progresso alcançado na inflação, considerando que em 2022 ela atingiu mais de 10%. 

 

A presidente disse estar atenta a alguns fatores, porque eles importam para a política monetária. Dentre eles está a produtividade, que entre 1995 e 2020 cresceu 50% nos Estados Unidos e apenas 28% na Europa. “É obvio que produtividade nos importa, ainda mais considerando o envelhecimento da nossa população”. Segundo Lagarde, o gap de produtividade está na tecnologia. 

 

Outro fator de suma importância para a presidente é a digitalização, que, segundo ela, não é tão financiada com capital disposto a tomar riscos na Europa, em comparação com a China e os Estados Unidos. 

 

Por último está o preço da energia, que é muito mais cara na Europa em comparação aos Estados Unidos. Para Lagarde, o caminho deve ser o desenvolvimento da descarbonização, que pode baratear o custo da energia. 

 

“Eu advogo por uma união mercado comum aos países da zona do euro, e para isso precisamos de um mercado único integrado na perspectiva de política monetária, de regulação, de supervisão e com uma infraestrutura investimento e pós investimento comum.”

 

Outro tema abordado por Lagarde foi a digitalização da economia europeia, processo que está em “fase exploratória” e que deve ser lançado “ou não” no final de 2025. “Tudo é digital, você compra digital, fala digital. Então porque nossa moeda não é digital? Devemos essa alternativa às gerações futuras. Mas o sistema de pagamento é muito fragmentado e não muito sóbrio. Ter um euro digital é uma forma de unir e facilitar cada membro de forma barata, rápida e transparente”. 

 

Sobre a disparidade de gênero entre ministros de economia – em que 20% são mulheres – e presidentes do banco central, Lagarde afirmou que “é uma porcentagem muito pequena e não reflete a oferta de talentos”. “Diversidade é uma fonte de mais estabilidade e melhores resultados, seja no setor financeiro ou em outros, e lideranças como os Estados Unidos e a Europa devem aprender com a história. Devemos estar juntos”.