Ação da Azul dispara e fecha em alta de 38% após aérea anunciar reestruturação de dívida

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São Paulo – A ação da Azul (AZUL4) disparou no pregão desta segunda-feira, após a companhia anunciar seu plano de reestruturação de dívida e projeções para 2023. No fechamento, o ativo avançou 37,98%, a R$ 9,99, após subir mais de 53%, e ficou na liderança da Bolsa, seguida por sua concorrente Gol (GOLL4), que fechou em alta de 23,78 e da companhia de viagens CVC (CVCB3; +19,28%, a R$ 3,34). O Ibovespa avançou 0,80%.

A companhia também espera conseguir uma economia de caixa na ordem de R$ 3 bilhões neste ano com a negociação fechada com os arrendadores e fabricantes de aeronaves, disse John Rodgerson, CEO da aérea, na teleconferência de resultados realizada a pouco.

A empresa anunciou uma reestruturação do pagamento de seu capex, com OEMs (fabricantes de equipamentos) oferecendo extensões para pagamento dos diferimentos do Covid-19 e limites maiores de crédito, substituição dos diferimentos do Covid-19 remanescentes por estrutura similar à dos arrendadores. Além disso, a Azul disse que OEMs continuam fornecendo mesmos níveis de cobertura e serviço, permitindo que Azul opere 100% da frota.

A companhia aérea Azul prevê alcançar mais de R$5 bilhões em ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) em 2023 devido a recuperação da demanda esperada após a pandemia de covid-19

“Nós temos mais ASKs (número de assentos disponíveis multiplicado pelos quilômetros voados) e uma margem mais ampla. Nós temos o menor custo entre as companhias aéreas do Brasil, o que é uma vantagem em um cenário de alto de custo de capital atual”, disse Alex

Em 2023, a companhia espera que o impacto de caixa devido à pandemia sem considerar novos financiamentos caia para R$ 3 bilhões, de R$ 4,5 bilhões em 2022, ante receita e ebita de R$ 20 bilhões e mais de R$ 5 bilhões neste ano, de R$ 16 bilhões e R$ 3,2 bilhões no ano passado.

A projeção de ebitda representa, aproximadamente, uma elevação de 40% em comparação com 2019. “Com o suporte dessas fortes tendências operacionais, estamos implementando um plano de longo prazo abrangente, descrito abaixo, para enfrentar os efeitos colaterais do Covid-19 em nossa estrutura de capital”, disse John Rodgerson, CEO da Azul, no relatório de resultados divulgado na manhã desta segunda-feira.

A Azul disse que em 2022, a geração de caixa foi impactada negativamente em R$20 bilhões devido ao Covid-19 e outros fatores externos e que 85% da necessidade de caixa já está endereçada.

A companhia espera que o plano de reestruturação abrangente com participação de diferentes grupos de stakeholders foi desenvolvido como troca visando 100% de recuperação para stakeholders. Na noite de sexta-feira (3), a Azul anunciou que firmou com sucesso acordos comerciais com arrendadores representando mais de 90% do seu passivo de arrendamento, sujeito a certas condições e aprovações corporativas aplicáveis.

“Os acordos representam uma parte significativa de um plano abrangente que visa fortalecer a geração de caixa da Azul, e melhorar a estrutura de capital, além de entregar aos arrendadores 100% dos valores previamente acordados, através de uma combinação de dívida de longo prazo e ações precificadas sobre um balanço patrimonial reestruturado”, disse a empresa, na noite de sexta-feira.

Segundo a Azul, o arrendamento de aeronaves representa a maior parte (79%) de sua dívida nominal bruta, devido ao impacto de diferimentos da Covid-19 e desvalorização da moeda, sem qualquer ajuda financeira do governo, disse a companhia aérea em sua apresentação a investidores.

A dívida bruta reduziu 5,3% ou R$ 1,2 bilhão em comparação com 31 de dezembro de 2021, principalmente devido ao nosso processo contínuo de desalavancagem com R$ 5,1 bilhões em pagamentos de empréstimos e arrendamentos durante o ano e à valorização de 6,5% do real, parcialmente compensado pelo aumento de R$1,8 bilhão em obrigações de arrendamento relacionadas a novas aeronaves entrando em nossa frota. Excluindo o impacto da entrada das novas aeronaves na frota, a dívida bruta seria reduzida em R$ 3,0 bilhões em 2022.

A companhia totalizou mais de R$ 3,6 bilhões em arrendamento de aeronaves pagos em 2022, R$1,6 bilhão a mais do que em 2019.

A companhia também disse que a alavancagem está em queda, com mais de R$1,5 bilhão em principal e juros pagos em 2022, R$1,1 bilhão a mais do que em 2019.

O restante da dívida é composta por Bonds de 2024 e 2026 (15%) e outros empréstimos (6%).

A Azul disse que o acordo de pagamento anual de arrendamento de aeronaves prevê a a substituição dos diferimentos da pandemia do Covid-19 e diferença de valor de mercado, sendo 40% relativos à dívida com vencimento em 2030 e 60% a ações em um balanço reestruturado, incluindo suporte de curto prazo pelos arrendadores também em 2023;reestruturação do mecanismo de reserva de manutenção; redução dos requisitos para cartas de crédito; e otimização das condições de devolução.

A companhia disse que “acordos amigáveis permitem rápida execução e preservam valor, maximizando benefícios para stakeholders.”

“Como resultado destas negociações bem-sucedidas com arrendadores e fabricantes, a necessidade de caixa originalmente projetada pela Azul para 2023 será agora eliminada, e o fluxo de caixa deverá ser positivo em 2024 e nos anos seguintes. Além disso, esta solução abrangente e sua correspondente redução do nosso risco de crédito deverá reduzir significativamente nosso custo de capital, refletindo nossas altas margens e geração de caixa, aumentando nosso acesso ao mercado de capitais”, escreveu a companhia aérea no relatório financeiro do 4T22.

Os OEMs continuma recebendo 100% dos valores prometidos anteriormente e se beneficiando do reduzido risco de crédito.

Em 2023, a Azul terá redução significativa no pagamento anual de aluguel aeronaves e capex em 2023, com fluxo de caixa livre breakeven em 2023 pós-reestruturação e positivo nos anos seguintes.

A companhia aérea também anunciou uma redução significativa no pagamento anual de aluguel de aeronaves e capex até 2027 e fluxo de caixa livre pós-reestruturação breakeven em 2023 e positivo nos anos seguintes.

A Azul também reportou ativos avaliados em mais de R$ 25 bilhões, correspondentes às suas marcas Tudo Azul, Azul Cargo Express e Azul Viagens, que somam receitas anuais de mais de R$ 5 bilhões.

O plano apresentado pela companhia prevê a remoção de “incerteza de financiamento para permitir valuation baseada em fortes fundamentos”, como geração de caixa robusta e estrutura de capital fortalecida.

A companhia disse que o múltiplo atual de 4,2 vezes, do seu valor de firma (enterprise value) sobre ebitda, “ainda não reflete melhora na demanda, performance operacional, receita e rentabilidade.”

ANÁLISES

A Genial Investimentos disse que a notícia das renegociações com arrendadores e fabricantes sinaliza um fôlego importante para Azul em 2023, mas questiona o “Yield”, ponderando se o crescimento será sustentado ao longo do ano, citando que, mesmo que o setor tenha voltado a operar próximo aos níveis de 2019, com a economia desacelerando, não se sabe até quando o consumidor estará receptível aos novos níveis de tarifa.

“Apesar da melhora no balanço, ainda temos um cenário de custos delicado, com preços relativamente altos de combustível e câmbio pressionando as margens operacionais da companhia e o pagamento de leasing. Do ponto de vista de dívida, nossa principal preocupação rondava sob os diferimentos da pandemia, de cerca de R$ 3,0 bilhões. No entanto, a renegociação da dívida com a maior parte dos seus arrendadores mitiga o risco de insolvência, o que nos deixa menos preocupados”, escreveu o analista da Genial, em relatório.

No que diz respeito ao combustível, a análise aponta que existe uma queda gradativa no preço por litro contratada, visto que a Petrobras diminuiu cerca de 11% no preço do querosene de aviação (QAV) em suas refinarias em 2023 e existe uma defasagem de aproximadamente 45 dias entre o reajuste e o efeito efetivo nas companhias aéreas. No entanto, para o segundo semestre, é esperado um aumento no preço devido a reoneração dos combustíveis que, inicialmente, estava prevista para ocorrer no dia 1º de março.

“Em suma, os efeitos de um combustível relativamente mais barato e um alívio nos pagamentos de dívida, aliados a uma demanda superior aos níveis de 2019, devem ser benéficos para a Azul, impulsionando a recuperação de sua geração de caixa de uma forma mais rápida do que nós antecipávamos, atingindo o breakeven já em 2023. Seguimos mais otimistas para Azul do que para Gol. Nossa recomendação é de “manter” para AZUL4, com preço alvo de R$ 15,00″, finaliza a Genial.

A Ativa Investimentos também mostrou ponderação ao comentar os resultados da Azul. “Mantendo êxito no repasse de preços e assim, tendo registrado novamente forte crescimento nas receitas operacionais, Azul segue enfrentando altos custos e despesas operacionais sobretudo em função do crescimento dos preços de combustíveis, o que impede seus resultados operacionais de avançarem mais. Mesmo com um melhor resultado financeiro em função da valorização do real, a linha final veio apenas em linha ás nossas expectativas.”

A Ativa também mostrou uma impressão neutra para os resultados da empresa e sobre a notícia de que a aérea refinanciou mais de 90% de seu passivo de arrendamento, o que foi bem recebido pelo mercado. “Ainda que algumas informações importantes sobre o acordo (como o potencial de diluição da atual base acionária) sejam até aqui desconhecidas, esta melhora no perfil de crédito da empresa abre espaço para uma melhor geração de recursos durante 2023 e aumenta o prazo médio da sua dívida”, disse a Ativa.

Ao final do 4T22, a Ativa vê a Azul com uma posição justa de R$ 2,5 bilhões em liquidez imediata e uma trajetória apenas estável de sua alavancagem, o que demanda atenção. “Embora acreditemos que Azul opere de forma eficiente diante das atuais circunstâncias, fatores exógenos e a atual cena doméstica devem continuar pressionando as suas ações ao longo dos próximos trimestres. Quanto à reestruturação anunciada, recebemos as informações divulgadas de forma positiva, mas esperaremos maiores detalhes para precisarmos os impactos à companhia”, comentou o analista Ilan Arbetman, da Ativa.

O Itaú BBA considerou o anúncio de reestruturação da dívida da Azul positivo, o que deve aliviar a saída de caixa relacionada às suas aeronaves arrendadas, uma das principais preocupações para o curto prazo. Já em relação aos números do 4T22, a análise disse que vieram em linha com as expectativas do consenso, reforçando a tendência positiva em termos de dados de tráfego e yields, com elevação de 5% em relação ao terceiro trimestre de 2022.

“Congratulamo-nos com esta notícia e esperamos uma reação positiva do mercado, uma vez que essas negociações terão um efeito benéfico de risco efeito sobre o caso. No entanto, notamos que a empresa não forneceu detalhes numéricos (calendário de amortização atualizado, bem como diluição de acionistas) para avaliarmos o potencial desvantagens relacionadas”, comentou o Itaú BBA.

Ricardo Leite, head de renda variável da Diagrama Investimentos, disse que o acordo com os arrendadores de aviões que representam mais de 90% de seu passivo anunciado pela Azul inclui a reprogramação dos pagamentos do leasing, o fechamento do descasamento entre as taxas contratadas e as de mercado “chancela ser possível a empresa alcançar os números propostos porque o mercado entende que essa renegociação afasta qualquer perigo de recuperação judicial da empresa, dando margem para os negócios voltarem a fluir no pós-pandemia”.

O head de renda variável da Diagrama Investimentos também disse que o resultado da Azul veio melhor que o esperado “(ebtida previsto era de 1.06% e veio 1,10 bilhão) e o guidance [números previstos] para 2023 vieram muito acima do que o mercado esperava e com perspectiva de lucro recorde para este ano”.

Com Soraia Budaibes / Agência CMA.

A nota foi atualizada às 18h41 (horário de Brasília) com dados do fechamento e análises.