São Paulo – Em compasso de espera da divulgação de resultados da B3, nesta quinta-feira, após o encerramento do pregão, analistas avaliam os impactos de mudanças regulatórias e do avanço de concorrentes no mercado brasileiro de infraestrutura de mercado financeiro, como SL Tools e Cerc, com possíveis movimentos de consolidação. O papel B3SA3 fechou em queda de 1,24%, a R$ 12,65.
A Ativa Investimentos considerou negativa para a B3 a notícia de que a SL Tools está tentando fazer frente ao seu monopólio. A fintech está em processo de certificação com a CVM para se tornar um mercado de balcão organizado. Com a aprovação, o próximo passo é solicitar a certificação como bolsa. A SL Tools é uma fintech que disponibiliza sua plataforma para negociação de produtos financeiros. Recentemente a companhia começou a negociar títulos públicos no mercado secundário com um volume médio diário de R$ 2 bi a R$ 3 bi, o mercado atualmente movimenta R$ 100 bi por dia.
“Não é novidade notícias de concorrentes tentando fazer frente ao monopólio da B3 na bolsa de valores. No entanto, nos chama atenção como a empresa já conseguiu quebrar o monopólio da Cetip (B3) no mercado secundário do Tesouro Nacional, isso com a anuência dos nove principais bancos em termos de volume de negociação. Sendo assim, observamos a notícia como negativa para B3, onde a SL Tools, embora ainda em um estágio inicial, já vêm quebrando certos paradigmas na negociação de ativos financeiros”, comentou a Ativa, que tem recomendação neutra e preço-alvo de R$ 14,00 para B3SA3.
O BTG Pactual também ressalta que, outrora dominado por uma única entidade, o mercado brasileiro de infraestrutura de negociações financeiras agora é inundado com cerca de sete jogadores. Em encontro com o CEO da Cerc, Fernando Fontes, os analistas do banco de investimentos apontam que a concorrente tem potencial para fazer aquisições. A CERC é um dos quatro players do mercado de infra-estrutura aprovado pelo Banco Central (BC) para registrar recebíveis de cartão de crédito e tem planos para ampliar as operações. Os principais acionistas da CERC incluem GP, através de seu veículo perpétuo G2D (que abriu o capital em 2021), Mubadala, Valor, seus fundadores e vários membros do conselho.
Na opinião de Fontes, a necessidade de escala (devido às taxas de tomada muito baixas) impulsionará a consolidação no curto prazo. Para o executivo da Cerc, ter mais competidores aumenta a concorrência e a eficiência, mas atualmente alguns são altamente ineficientes. Entre os players, a B3 já é muito grande e não deveria ser o consolidador, então ele vê o CERC numa posição mais favorável, potencialmente ganhando participação de mercado através do crescimento inorgânico no curto prazo.
A CERC não pretende entrar no segmento listado, mas pretende ter ofertas de serviços mais amplas, incluindo depósito de títulos, liquidação e uma plataforma de negociação de renda fixa. A Cerc também avalia crescer na área de dados, que também é um driver de expansão para a B3, de uma participação de 7% em suas receitas atualmente, para cerca de 40% até 2027, segundo o relatório do BTG Pactual.
Investidores estrangeiros sacam R$ 16 bi em 2024
Outro ponto que chama a atenção do mercado é a fuga de capital estrangeiro na bolsa de valores brasileira. No pregão da última terça-feira (20), os estrangeiros retiraram R$ 2 bilhões, e no acumulado do mês de fevereiro, o saldo está negativo em R$ 9 bilhões e, em 2024, o déficit é de R$ 16,2 bilhões, segundo dados da B3 e do mercado financeiro.
Segundo análise da Elos Ayta Consultoria em amostras mensais desde janeiro de 2022, a B3 registrou dez meses com saída de recursos, sendo agosto de 2023 o pior momento, com saída de R$ 10,4 bilhões, seguido pelo mês de janeiro de 2024, com saída de R$ 7,89 bilhões. “No ano de 2024 até o dia 15 de fevereiro, o saldo líquido dos investidores estrangeiros na bolsa B3 é negativo em R$ 14,1 bilhões, marcando o pior registro desde 2016 e quebrando uma sequência de quatro anos de entrada líquida de recursos positiva. O melhor ano foi em 2022, quando o saldo foi positivo em R$ 119,7 bilhões, seguido pelo ano de 2023 com R$ 55,9 bilhões”, comenta o CEO da consultoria, Einar Rivero.
O primeiro trimestre de 2022 teve os melhores meses de entrada de recursos de estrangeiros, sendo fevereiro de 2022 o destaque com R$ 24,3 bilhões, marcando o melhor mês da amostra.
B3 registra aumento de investidores PF em renda variável no Norte e Nordeste em três anos
O número de pessoas físicas que investem em renda variável na B3 aumentou 150% na região Norte do país entre 2020 e 2023. O Nordeste ocupa a segunda posição em crescimento percentual, com alta de 112% durante o mesmo período. As informações fazem parte de uma análise da B3 divulgada ontem (21) sobre a evolução dos investidores na bolsa do Brasil, referente ao fechamento do quarto trimestre do ano passado.
Em números totais, o Norte foi de 77 mil para 192 mil investidores em renda variável em três anos. No Nordeste, a quantidade passou de 310 mil para 658 mil. De acordo com o levantamento feito pela B3, o crescimento na região Sul foi de 87% – saindo de de 451 mil para 843 mil. No Centro-Oeste, a quantidade de pessoas físicas na bolsa cresceu 92%. A região contava com 208 mil investidores e hoje tem 399 mil. A região Sudeste segue com o maior número absoluto: são 2 milhões e 861 mil pessoas. O número representa alta de 75% entre 2020 e 2023.
O grupo de investidores em renda variável é formado majoritariamente por pessoas com idade entre 25 e 39 anos: são 42% do total. Na divisão por gênero, o balanço segue estável ao longo dos anos, sendo 75% homens e 25% mulheres. Elas, no entanto, são responsáveis pelos maiores valores iniciais investidos: R$199 contra R$118 dos homens.
O valor médio de entrada está mais baixo, comprovando a democratização do mercado de capitais nos últimos anos. Em dezembro de 2023, a mediana de primeiro investimento das 83 mil pessoas que iniciaram neste universo foi de R$128, e 57% delas entraram na bolsa com valores até R$200. Essa faixa contempla ainda os 27% que entraram com até R$40.
Ao todo, a B3 conta com 5 milhões de pessoas físicas que possuem algum tipo de investimento em renda variável. O grupo é responsável por um total de R$ 551 bilhões em estoque no mercado financeiro brasileiro, uma alta de 20% em relação ao ano de 2022.
A agenda da bancarização digital dos brasileiros nos últimos anos também abriu as portas para a oferta de produtos de investimento em e renda variável. Esse fluxo de abertura de novas contas digitais bancárias vem fluindo para o mundo dos investimentos, e é nossa tarefa, do ecossistema do mercado de capitais, continuar eliminando as fricções do processo de entrada e criar motivadores e segurança para a jornada de longo prazo dessa nova geração de investidores, que está crescendo em todas as regiões do Brasil, afirma Felipe Paiva, diretor de Relacionamento com Clientes, Pessoas Físicas e Educação da B3.
Com Soraia Budaibes / Agência CMA
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