São Paulo – A ação do Itaú Unibanco tem forte alta e lidera os ganhos do Ibovespa após a apresentação de resultados e projeções considerados fortes pelo mercado. Perto do fechamento, por volta das 17h30 (horário de Brasília), a ação ITUB4 subia 5,82%, a R$ 26,51.
Em relatório, o Bank of America (BofA) disse que esperava uma reação positiva ao balanço e manteve a recomendação de compra para o banco considerando a perspectiva de lucros apresentada e a avaliação atrativa para o papel, citando que o lucro líquido de R$ 7,2 bilhões ficou 6% acima das suas estimativas e a projeção de maiores rendimentos sobre o lucro para o ano.
“Os rendimentos sobre o lucro para o ano, de R$ 31 bilhões, consideram ROE de 20%, reflete alta anual de 16% e superam a estimativa de R$ 30 bilhões de R$ 28,9 bilhões do consenso e parecem conservadoras para nós”, disseram os analistas do BofA.
Segundo a análise, o guidance reflete a projeção de margem financeira (NII, na sigla em inglês) com clientes mais forte do que o esperado (20,5-23,5%), menores ganhos comerciais (R$ 1,0-3,0 bilhões), maiores encargos de provisão (R$25-29 bilhões) e menor alíquota efetiva de imposto (de 30-33%). Enquanto isso, o crescimento das receitas de tarifas (3,5-6,5%), o crescimento das despesas operacionais (3-7%) e o crescimento dos empréstimos (9-12%) ficaram em linha com as expectativas.
“O crescimento esperado nos encargos de provisão de 24-34% (2,3x-3,2x acima do crescimento do empréstimo) parece conservador, pois não pressupõe qualquer liberação de reservas excedentes. Ganhos de negociação mais baixos são explicados pela decisão da administração de proteger seu capital da volatilidade cambial”, pontuaram.
“Os números apresentados pelo Itaú vieram bons mais uma vez, acima da expectativa do mercado e contrastando com o resultado observado do Santander (SANB11) e principalmente do Bradesco (BBDC4), apresentados anteriormente. Dessa forma, esperamos impacto positivo nas ações do banco (ITUB4) no curto prazo”, comentou a equipe da Levante Ideias de Investimento, em nota.
Na visão da XP, o Itaú reportou resultados acima das expectativas no quarto trimestre de 2021 (4T21), apesar das provisões acima do esperado, principalmente impulsionado pela margem financeira bruta mais forte, atribuído principalmente a um crescimento mais forte da carteira de crédito. Como resultado do crescimento da carteira de crédito, o banco aumentou as provisões no trimestre. Por consequência, o índice de cobertura aumentou para 241% (+7pp ante 3T21 e -79 pp ante 4T20), enquanto a taxa de inadimplência permaneceu estável em base trimestral.
“Por fim, esperamos que o mercado reaja positivamente ao lucro construtivo combinado com a boa qualidade dos resultados no próximo pregão. No entanto, reiteramos nossa recomendação Neutra e preço-alvo de R$ 28,0/ação diante do cenário macroeconômico mais desafiador a frente”, escreveram os analistas da XP.
VISÃO CONSTRUTIVA
O presidente do banco mostrou uma visão construtiva para o cenário de crédito no Brasil e no consolidado, com apresentação de resultados e projeções (guidances) considerados fortes e acima dos seus pares por analistas – como a de ampliar sua carteira de 11,5% a 14,5% no Brasil – em sua apresentação pública de resultados. O presidente do banco disse que “está com a mão no pulso” e que os níveis de risco e cobertura do banco estão saudáveis, caso seja necessário fazer ajustes, e disse que a maior digitalização deixou a operação da companhia “mais leve” e aberta a inovações.
“Tem um processo inflacionário no Brasil que impacta o crédito. Se sentirmos confortáveis, vamos acelerar, mas temos um portfólio construído em 2021 e vamos ter um crescimento mais moderado neste ano por conta desse cenário. Acreditamos que vamos crescer mais que no cenário pré-pandêmico e vamos chegar a um nível saudável”, disse Milton Maluhy Filho, presidente do Itaú Unibanco, na apresentação pública de resultados ao mercado.
O executivo disse que também espera crescimento da inadimplência mas que ela deve se estabilizar no fim do ano e que o banco está confortável com o nível de risco atual – indicou a possibilidade de consumir as provisões em 2022 ou 2023, mas considerou pouco provável que isso aconteça.
O executivo avalia que em 2020 houve menos consumo e mais estímulo melhorou a capacidade de repagamento em 2021. As projeções realizadas esperavam um cenário mais adverso, que não se materializou em aumento da inadimplência e gerou maior poupança. “Nossa carteira continua considerando cautela. Nós não tivemos que vender carteiras, nosso indicador de atraso está bem puro. Nossa política de renegociação deu ótimos resultados, caiu de R$ 54 para 31 bilhões em carteiras flexibilizadas e crescemos a carteira em mais de 40% nos últimos três anos. Há um descasamento temporal, mas teremos melhores margens. Nosso guidance considera o melhor resultado do banco, mas se precisar fazer ajustes, faremos, mas temos uma visão construtiva para o cenário em 2022”, disse o presidente do Itaú.
DIGITALIZAÇÃO
O Itaú Unibanco deve fechar o ano com 50% de suas plataformas modernizadas, de 25% atualmente. Em 2022, o banco espera ter avanço relevante em gestão de dados para melhorar a interpretação de dados dos clientes, após ter feito um “saneamento” da área digital.
“Isso é colocar a melhor tecnologias e promover a cultura de transformação digital, preservar o que é relevante, mas avançar, eliminar camadas, inovar e construir junto com o cliente. Isso não é um processo que começou no ano passado. Boa parte das vendas já é feita pelos canais digitais. Isso também deixa o banco mais leve e eficiente e reflete em nosso guidance”, disse o presidente do Itaú Unibanco.
Após alguns ajustes no balanço, a companhia disse que está com bons resultados em sua operação no Chile, onde fez um aumento de capital. “Tivemos um impacto positivo, estamos com quase 50%. Agora investir na Colômbia, onde temos 3% de participação de mercado e temos o desafio de melhorar os ganhos de escala. O México tem muitas oportunidades, é incrível, mas agora estaremos mais focados no Brasil. As operações fora do Brasil alocam capital muito grande e destroem o valor para o acionista, então, vamos seguir no patamar internacional que já estamos”, detalhou o presidente da companhia.
PROJEÇÕES
Ontem à noite, o Itaú Unibanco anunciou a previsão de ampliar sua carteira de crédito total na faixa entre 9% e 12%, e no Brasil, de 11,5% a 14,5%.
A projeção de margem financeira com clientes anunciada ontem é de uma faixa entre 20,5% e 23,5% e, no Brasil, entre 22,0% e 25,0%. Já a margem financeira com mercado projetada é entre R$1-3 bilhões, e no Brasil, entre R$ 300 milhões e R$ 2,3 bilhões. A meta considera o impacto de cerca de R$ 2 bilhões em função do hedge do índice de capital.
A meta de custo de crédito no consolidado é de um intervalo entre R$ 25 a 29 bilhões, e de R$ 23-27 bilhões no custo de crédito.
A receita de prestação de serviços e resultado de seguros ficou entre 3,5-6,5% no consolidado e entre 4-7% no Brasil. O guidance considera o resultado de 2021 ajustado excluindo a participação da XP Inc.
As despesas não decorrentes de juros previstas para 2022 ficaram em uma faixa entre 3-7% no consolidado e no Brasil, enquanto a alíquota efetiva de IR/CS ficou estabelecida entre 30-33% no consolidado e entre 31-34% no Brasil. A meta considera o índice de eficiência no Brasil inferior a 40% no 4T22 e custo core nominalmente estável em 2022.
Em ROE recorrente gerencial, o Itaú considera em torno de 20% um nível sustentável, mas não indicou guidances, assim como em capital, que estima um nível acima do apetite
DIVIDENDOS
O Itaú Unibanco disse que o pagamento de payout vai considerar o lucro por ação e que o valor dos dividendos deve subir em 2022 acompanhando o crescimento da companhia, mas o nível de pagamento atual será mantido. “Vamos distribuir tudo o que supera o nosso nível de capital. Enquanto acharmos que há oportunidades de crescer o banco, vamos manter o guidance no nível de payout em até 25%. Quando acharmos que não temos condição de aplicar o capital no banco, podemos revisar”, disse o presidente do banco.