Aço Brasil, Abal e Amcham repercutem ‘tarifaço’ de Trump à importação de aço e alumínio

73
Aço

São Paulo, 11 de fevereiro de 2025 – O Instituto Aço Brasil disse que recebeu com surpresa a decisão do governo dos Estados Unidos, anunciada nesta segunda-feira (10) de estabelecer alíquota de importação do aço para 25%, independentemente da origem, derrubando, no caso do Brasil, acordo firmado no primeiro mandato do presidente Donald Trump, em 2018, para importação do aço brasileiro. “Naquela ocasião, os governos de Estados Unidos e Brasil negociaram o estabelecimento de cotas de exportação para o mercado norte-americano de 3,5 milhões de toneladas de semiacabados/placas e 687 mil toneladas de laminados. Tal medida flexibilizou decisão anterior do Presidente Donald Trump que havia estabelecido alíquota de importação de aço para 25%”, disse o Instituto Aço Brasil, em nota comentando a decisão.

“Importante ressaltar que a negociação ocorrida em 2018 atendeu não só o interesse do Brasil em preservar acesso ao seu principal mercado externo de aço, mas também o interesse da indústria de aço norte-americana, demandante de placas brasileiras. Os Estados Unidos importaram, em 2024, 5,6 milhões de toneladas de placas por não dispor de oferta suficiente para a demanda do produto em seu mercado interno, das quais 3,4 milhões de toneladas vieram do Brasil.”

“As exportações brasileiras de produtos de aço para os Estados Unidos cumpriram integralmente as condições estabelecidas no regime de hard quota, não ultrapassando, em momento algum, os volumes estabelecidos tanto para semiacabados como para produtos laminados. Cabe ressaltar que o mercado brasileiro também vem sendo assolado pelo aumento expressivo de importações de países que praticam concorrência predatória, especialmente a China, razão pela qual o Instituto Aço Brasil solicitou ao governo brasileiro a implementação de medida de defesa comercial, estando em vigência, atualmente, o regime de cota-tarifa para 9 NCMs (Nomenclatura Comum do Mercosul) de produtos de aço.”

“Assim, ao contrário do alegado na proclamação do governo americano de 10 de fevereiro, inexiste qualquer possibilidade de ocorrer, no Brasil, circunvenção para os Estados Unidos de produtos de aço oriundos de terceiros países. Estados Unidos e Brasil detêm parceria comercial de longa data, que vem sendo, historicamente, favorável ao primeiro.”

“Nos últimos cinco anos, os Estados Unidos tiveram superávit comercial médio de US$ 6 bilhões. Considerando, especificamente, o comércio dos principais itens da cadeia do aço carvão, aço e máquinas e equipamentos – Estados Unidos e Brasil detêm uma corrente de comércio de US$ 7,6 bilhões, sendo os Estados Unidos superavitários em US$ 3 bilhões.”

“O Instituto Aço Brasil e empresas associadas estão confiantes na abertura de diálogo entre os governos dos dois países, de forma a restabelecer o fluxo de produtos de aço para os Estados Unidos nas bases acordadas em 2018, em razão da parceria ao longo de muitos anos e por entender que a taxação de 25% sobre os produtos de aço brasileiros não será benéfica para ambas as partes.”

Com 13% das exportações de alumínio para os EUA, Abal teme impactos negativos com sobretaxa de Trump

A Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) divulgou uma nota expressando preocupação com os impactos da nova medida tarifária anunciada pelo governo dos Estados Unidos, que pretende impor um acréscimo de 25% sobre as importações de alumínio. Apesar do anúncio público da medida feito na segunda-feira (10) à noite, até o momento, o Decreto Executivo com os detalhes das medidas a serem aplicadas sobre o alumínio ainda não havia sido publicado no site do governo americano.

No entanto, o Governo Americano confirmou que a sobretaxa existente de 10% da Seção 232 passará para 25% a partir de 12 de março, não havendo exceções ou isenções para nenhum país.

Na medida anterior (Seção 232, imposta em 2018), os Estados Unidos aplicaram tarifas de 25% sobre importações de aço e 10% sobre importações de alguns produtos de alumínio. No entanto, no caso do alumínio, alguns países receberam isenções totais (Canadá, México e Austrália) ou foram incluídos em acordos de cotas (Argentina, União Europeia e Reino Unido).

Os efeitos imediatos para o Brasil serão sentidos primeiramente nas exportações e na dificuldade de acesso dos produtos brasileiros a esse mercado. Apesar de os produtos de alumínio brasileiros terem plena condição de competir em mercados altamente exigentes como o americano, seja pelo aspecto da qualidade ou da sustentabilidade, nossos produtos se tornarão significativamente menos atrativos comercialmente devido à nova sobretaxa.

Embora a participação do Brasil nas importações americanas de produtos de alumínio seja relativamente pequena, menos 1%, os Estados Unidos é um parceiro comercial importante e correspondem a 16,8% das exportações brasileiras do metal. O que movimentou US$ 267 milhões do total de US$ 1,5 bilhão exportado pelo setor em 2024. Em termos de volume, os Estados Unidos foram o destino de 13,5% do total (72,4 mil toneladas) das exportações brasileiras de produtos de alumínio. Desse total, 54,2 mil toneladas das exportações estavam sujeitas à Seção 232, e chapas e folhas de alumínio corresponderam a 76% desse volume.

“Além dos impactos na balança comercial, preocupa ainda mais os efeitos indiretos associados ao aumento da exposição do Brasil aos desvios de comércio e à concorrência desleal. Produtos de outras origens que perderem acesso ao mercado americano buscarão novos destinos, incluindo o Brasil, podendo gerar uma saturação do mercado interno de produtos a preços desleais. A imposição das novas tarifas nos EUA também pode resultar em uma tendência de elevação dos preços regionais, especialmente nas regiões que dependem de importações, o que pode provocar um realinhamento nas cadeias globais de suprimento e modificar fluxos comerciais tradicionais”, ressaltou a Abal.

A associação destacou o ainda que esse cenário reforça a necessidade de ampliar as discussões sobre o fortalecimento dos instrumentos de defesa comercial e a recalibração da política tarifária nacional, de forma a corrigir distorções no mercado para proteger a indústria nacional contra a concorrência desleal e os impactos adversos provenientes dessa nova reconfiguração internacional. “Cenários desafiadores como este requerem sensibilidade e diálogo na construção de soluções que não são simples, mas que levem em consideração a necessidade de evitar disrupturas no suprimento de produtos e materiais estratégicos para a economia brasileira.”

Por fim, a Abal disse que está em diálogo com o governo brasileiro para compreender as implicações dessa medida e buscar soluções que mitiguem seus impactos sobre a economia nacional no curto e médio prazo, garantindo um ambiente mais competitivo para a indústria do alumínio brasileira.

Sobretaxa do alumínio pode reduzir importação brasileira de bens fabricados com aço dos EUA, aponta Amcham

Assim como a Associação Brasileira do Alumínio (Abal), a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) também divulgou seu posicionamento sobre a decisão dos Estados Unidos de aplicar sobretaxas de 25% sobre as importações americanas de aço e alumínio de todas as origens. A medida, justificada por razões de segurança pública (Seção 232), revoga quotas de importação e isenções prévias, e está prevista para entrar em vigor a partir de 12 de março.

“Esperamos que os governos do Brasil e dos Estados Unidos busquem uma solução negociada para preservar o comércio bilateral, que tem registrado recordes nos últimos anos, com ganhos para ambas as economias e expressivo superávit para o lado americano. De acordo com as estatísticas americanas (US ITC), os Estados Unidos registraram superávit de US$ 7,3 bilhões com o Brasil em 2024, um aumento de 31,9% em relação a 2023. Esse valor representa o sétimo maior saldo dos Estados Unidos com um parceiro individual naquele ano”, ressaltou a Amcham.

A decisão do presidente dos EUA, Donald Trumo, tem o potencial de afetar significativamente as exportações brasileiras desses setores. Em 2024, o Brasil exportou mais de US$ 5,7 bilhões em aço e ferro para os Estados Unidos, principal destino das exportações brasileiras. No mesmo ano, o Brasil exportou US$ 267 milhões em alumínio para o mercado americano, equivalente a 16,7% das vendas globais brasileiras.

Por fim, a Amcham lembrou que a indústria siderúrgica brasileira tem significativo grau de integração com os Estados Unidos. Em 2024, as empresas brasileiras importaram US$ 1,4 bilhão em carvão siderúrgico americano, utilizado para a produção do aço no Brasil. Além disso, o aço brasileiro é um insumo estratégico para a indústria americana. O Brasil, por sua vez, importa um volume relevante de bens fabricados com aço nos Estados Unidos, incluindo máquinas e equipamentos, peças para aeronaves, motores automotivos e outros bens da indústria de transformação. Com as sobretaxas, há o risco de redução das importações brasileiras desses produtos de origem norte-americana.

Com Emerson Lopes / Safras News

Copyright 2025 – Grupo CMA

*Atualiza texto às 19h15 com informações enviadas pela Abal.