Ações da Eletrobras caem no início da negociação da oferta de privatização na B3

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São Paulo – As ações da Eletrobras estrearam com queda em dia de início de negociações de sua oferta de capitalização na B3. Ao final da sessão desta segunda-feira (13/6), os papéis ELET3 e ELET6 perderam perto de 3% e 1,00%, a R$ 39,8 e R$ 39,3, aproximadamente, acompanhando a forte queda do Ibovespa (-2,73%).

Em 9 de junho, a companhia definiu o preço por ação de sua oferta de capitalização em R$ 42,00 por ação ordinária (ELET3), que deve levantar R$ 33,69 bilhões, caso seja confirmada a venda do lote extra de ações, que deve ocorrer nos próximos dias. A liquidação financeira da oferta está prevista para ocorrer amanhã (14/6).

Na sexta-feira (10), as ações da Eletrobras (ELET3; ELET6) fecharam com perdas de 4,94% e 6,90%, a R$ 40,94 e R$ 39,60. Segundo o especialista em Renda Variável da Nexgen Capital, Heitor Martins, a queda refletiu o mercado tentando se ajustar à precificação da oferta, em R$ 42, após a ação fechar em R$ 43 no pregão de quinta-feira (9/6), além de acompanhar o fluxo negativo do mercado após a divulgação de dados de inflação bem acima da estimativa nos EUA.

Até sexta-feira, três ações na Justiça questionavam a oferta da Eletrobras. Nesta semana, as associações dos empregados da Eletrobras de Furnas e o senador Randolfe Rodrigues questionam procedimentos que permitiram a privatização da empresa.

OFERTA DE CAPITALIZAÇÃO

Do total captado, serão R$ 30,76 bilhões na parcela primária da oferta, com a venda do lote inicial de 627,7 milhões de novas ações ordinárias (R$ 26,36 bilhões) e mais 104,6 milhões do lote suplementar (R$ 4,39 bilhões). Uma parcela de R$ 2,93 bilhões deverá ficar com a BNDESPar, braço de participações do BNDES, pela venda de 69,8 milhões de ações, mas seguirá como acionista da companhia.

O preço fechado representou um desconto de 2,6% ante a cotação de fechamento de quinta-feira na B3, que foi de R$ 43,15, com alta de 2,4%.

A oferta permitiu participação com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e teve a participação de 368 mil trabalhadores investindo parte dos seus saldos. As reservas para a aplicação terminaram na sexta-feira, ao meio dia (horário de Brasília) e estimativas apontam que a demanda com dinheiro do FGTS atingiu aproximadamente R$ 9 bilhões, acima do limite de R$ 6 bilhões, o que exigirá rateio na proporção de 66,79%, se o valor da demanda for confirmado.

Ao menos 19 fundos de 11 bancos e instituições se habilitaram para oferecer investimentos com recursos do FGTS. Banco do Brasil, Bradesco, BTG, Caixa, Daycoval, Genial, Guide, Itaú, Santander, Safra e XP já se credenciaram junto à Caixa, gestora do FGTS, para fazer a reserva das contas dos trabalhadores.

ANÁLISES

A precificação da oferta da Eletrobras, em R$ 42,00, não trouxe muitas surpresas para os analistas, que destacaram o interesse de fundos e bancos de investimento no negócio. Os especialistas também apontaram que o movimento pode indicar tendência em aportes em grandes empresas em detrimento de ações de small caps, diante do cenário de maior aversão ao risco.

Operadores do mercado disseram ao jornal “O Globo” que o Fundo Soberano de Cingapura (GIC) atuou como investidor âncora, ou seja, que garante que a operação saia e sinaliza antes mesmo do prazo de reserva quanto pretende investir.

Para Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, disse que o volume de sexta-feira (10/6) foi bastante significativo em ações da Eletrobras. “O motivo principal é o início das negociações vão ser na segunda-feira do papel e obviamente hoje as pessoas que não participaram da oferta, elas têm interesse em comprar mercado. O destaque na compra foi um banco estrangeiro comprou quase doze milhões de ações ao longo do dia. Nessa atividade, se vão R$ 481 milhões de algum cliente comprando esse papel, não dá pra saber quem é, mas é bastante dinheiro”, disse.

Segundo o analista, um investimento como esse, em um cenário com “small caps” caindo, percepção de risco no mundo aumentando, bolsa emergente, como a do Brasil caindo. “Então, pra se proteger tem que migrar para empresas de maior tamanho, large caps, que vão, devem cair menos emudar para ativos que tenha uma renda passiva, as boas empresas aí pagadoras de dividendos”, opina.

Para João Beck, economista e sócio da BRA a precificação da oferta de uma ação que já negocia em bolsa trouxe surpresa, mas o interesse de “grandes e conceituados fundos” foi revelador. “É uma privatização que fica como destaque pra história”, opina.

“A possibilidade de ter mais controle sobre o FGTS também é inovador, dado que os aderentes da oferta da Eletrobras poderão portabilizar os recursos para um fundo mais diversificado após 6 meses. Os chamados FMP Carteira Livre permitirá um rendimento esperado bem superior aos 3% anuais do FGTS”, acrescentou.

Rafael Marques, especialista em finanças e CEO da Philos Invest também viu a precificação da Eletrobras em linha com a expectativa do mercado, visto que o TCU tinha um preço mínimo definido internamente. “A demanda pela oferta da Eletrobras veio dentro do esperado. O mercado continua desafiador especialmente para grandes ofertas e os números divulgados podem estar inflados. Espera-se que os primeiros dias de negociação serão desafiadores porque pode ter muita pressão vendedora de investidores que não pretendem carregar o papel no médio e longo prazo. No entanto, fala-se muito que existem ordens escondidas de compra da empresa”, comentou.

O analista avalia que a empresa terá como desafio ter uma coordenação entre os acionistas minoritários nos próximos meses e mudar a gestão para cortar custos e realizar uma reestruturação societária para reduzir alíquota de imposto e o passivo contencioso para otimizar a estrutura de capital.