São Paulo – As ações da Petrobras reagem positivamente à indicação do governo federal, acionista controlador da companhia, do economista Adriano Pires ao comando da estatal, para substituir o general Joaquim Silva e Luna, anunciada ontem, confirmando rumores que já circulavam há vários dias no mercado.
Por volta das 15h56, as ADRs (representação dos papéis da Petrobras negociados em Nova York) PETR4 operam em alta de 20,12%, assim como as ordinárias PETR3, que subiam 0,93% na manhã desta terça-feira (29). Os papéis da estatal tem peso de mais 10% no índice Ibovespa, que subia 1,01%.
“A reação relativamente branda do mercado mostra que os investidores já estavam esperando a troca. Rumores da substituição circularam ao longo do dia. Quando a troca foi confirmada, as ações caíram 4,1% para a mínima de R$ 30,98. Porém, elas se recuperaram em seguida. Fechara a R$ 31,60, o que reduziu a queda para 2,17%. A baixa dos papéis da estatal foi suficiente para encerrar uma sequência de nove altas consecutivas do Ibovespa. O principal indicador do mercado acionário fechou com uma leve queda de 0,29%, a 118,7 mil pontos”, lembra o analista da Levante Ideias de Investimento.
Para o analista, o presidente indicado é um conhecedor profundo do setor de energia e tem sido um crítico de políticas de controle de preços. “Na noite da segunda-feira (28), já depois de ter seu nome confirmado, ele publicou em suas redes sociais que considerava “baixo” o risco de intervenção na Petrobras, e que se o presidente Bolsonaro interviesse na empresa, seria acusado de fazer a mesma política que Lula.”
Em sua avaliação, a substituição não indica grandes mudanças, pois mesmo Silva e Luna sendo uma incógnita, ao substituir o CEO anterior pelos mesmos motivos, por ser militar e desconhecido do setor, ele manteve a estratégia de Castello Branco. “Pode ser que a chegada de Pires coincida com um movimento de baixa dos preços internacionais do petróleo, que já começou.”
Na segunda-feira, as cotações chegaram a recuar mais de 7% devido às medidas de restrição anunciadas na cidade de Xangai, para conter uma nova alta do número de infecções pelo coronavírus. O barril de petróleo do tipo Brent recuou para 112 dólares, menor cotação em três semanas.
Um eventual arrefecimento dos conflitos na Ucrânia também poderá ajudar a baixar as cotações. Essa coincidência poderá ser usada como capital político por Bolsonaro. Eventualmente, esse arrefecimento das cotações vai permitir um alívio nos reajustes dos preços dos combustíveis, algo que o presidente da República muito provavelmente usará como capital político”, comentou.
Com isso, os analistas da Levante Ideias de Investimentos seguem não recomendando os investimentos nas ações. “Apesar de a empresa ter voltado ao lucro e de ter retomado os pagamentos de dividendos aos acionistas, o risco de ingerência política segue alto demais.”
O BTG Pactual também vai na mesma linha, ressaltando o desgaste da companhia em relação às discussões relacionadas à sua política de preços. “Desde que assumimos a cobertura da Petrobras, escrevemos sobre sua política de preços de combustível e/ou independência operacional a cada 1,4 meses (no mínimo). Agora, menos de um ano depois Silva e Luna assumiu o comando, os investidores estão mais uma vez enfrentando o que acreditamos ser o maior obstáculo para uma possível reclassificação das ações da PBR”, escreveram os analistas.
Eles ressaltam que, desde o rebaixamento dos papéis por sua avaliação no ano passado, eles argumentam que a Petrobras oferecia um bom potencial de crescimento de margem, sustentado pelos ativos do pré-sal e alocação racional de capital, incluindo vendas de ativos e uma política de dividendo consistente, mas que faltou confiança para perpetuar esta estratégia dada a alta intervenção política na companhia e grande risco de constantes mudanças gerenciais baseadas na vontade política, em última análise, reduzindo a percepção de uma empresa politicamente independente.
Com isso, o BTG manteve a recomendação neutra para a ação da companhia, dando preferência a nomes do setor sem interferência política.