Ações de Marfrig, Minerva e BRF operam em queda e JBS sobe no 1º pregão após aprovação do acordo; veja análises

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São Paulo, 26 de setembro de 2024 – As ações da Minerva, Marfrig e BRF operam em queda no primeiro pregão após o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovar, com restrições, o acordo de R$ 7,5 bilhões para a compra, pela Minerva, de parte do negócio de carne bovina e ovina da Marfrig, envolvendo a alienação de 16 plantas e um centro de distribuição. A operação, que envolve fábricas de abate e desossa e um centro de distribuição, localizadas no Brasil, Chile e Argentina, foi aprovada condicionada à adoção dos remédios unilateralmente impostos pelo Tribunal, dado que não houve celebração de Acordo de Controle em Concentrações. Às 12h10, a maior queda era da Marfrig (MRFG3), de 2,60%, a R$ 13,82%, seguida por BRF (BRFS3), de 2,09%, a R$ 24,74, enquanto Minerva (BEEF3) recuava 0,45%, a R$ 6,52. A ação da JBS (JBSS3) tinha alta de 0,06%, a R$ 31,26.

O BTG Pactual comenta que a aprovação do Cade põe fim a um longo e demorado processo, que se estendeu muito além das expectativas iniciais, que apontavam para uma resolução ainda no ano passado. Tal como previsto, as medidas corretivas impostas foram relativamente brandas, na visão dos analistas, que fizeram os cálculos em relação aos impactos da aprovação e dos remédios impostos nos resultados das companhias. “A decisão de incluir a fábrica de Pirenópolis, em Goiás, foi um tanto inesperada, mas isso não deve afetar materialmente nossas estimativas. Segundo a Minerva, esta planta está fechada desde 2010, sem planos de reabertura”, comentam.

“A nossa tese geral para a Minerva permanece consistente: o cenário é binário e os riscos envolvidos podem ou não justificar as recompensas potenciais. Vemos um potencial de queda de 31% se o ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) das plantas adquiridas estiver alinhado com a estimativa de R$ 750 milhões da Marfrig e um upside de 67% se a projeção da Minerva de R$ 1,5 bilhão se materialize”, calculam.

Para o BTG, o desfecho do acordo certamente levou em conta o preço das ações em seu resultado, que tem um múltiplo elevado, o que torna a criação de valor desafiadora para a Minerva. “A aprovação final deve ser percebida pelo mercado como a remoção de uma saliência significativa”, avaliam.

Na perspectiva da Marfrig, esse desenvolvimento é sem dúvida positivo. “A alta alavancagem da empresa tem sido uma grande preocupação e este acordo proporciona alívio substancial, uma vez que os ativos estão alegadamente a ser vendidos a um múltiplo significativamente superior ao índice de alavancagem da Marfrig. Contudo, mesmo após ajustar as finanças da Marfrig para contabilizar suas participações na BRF e na National Beef (excluindo juros do resultado e do balanço patrimonial, e também ajustando para IFRS e recebíveis), prevemos uma dívida líquida no final do ano de R$ 29 bilhões, incluindo os recursos da Minerva. Isto implica uma relação dívida líquida sobre o ebitda de 4,0x.”

“Além disso, com o ciclo da pecuária nos EUA ainda longe da normalização e o ciclo avícola brasileiro provavelmente atingindo o pico, permanecemos à margem da história patrimonial da Marfrig ex-BRF. Por enquanto, mantemos uma postura Neutra em relação à Marfrig, Minerva e BRF, e preferimos ganhar exposição ao setor por meio da JBS”, concluem os analistas do BTG.

O Goldman Sachs manteve sua recomendação de compra e preço-alvo de R$ 7,55 (potencial de alta de 13,2%) para as ações da Minerva após a aprovação do Cade. Segundo a instituição, a aprovação da aquisição de alguns ativos da Marfrig na América do Sul pela autoridade antitruste brasileira deve levar o debate dos investidores sobre a Minerva de volta aos fundamentos do mercado, já que remove a sobrecarga de juros acumulados sobre o preço de aquisição principal.

Embora reconheçamos que o acordo no Uruguai possa trazer alguma incerteza, vemos anúncio como positivo. Observamos que a perspectiva para o ciclo do gado no Brasil em 2025 está melhorando gradativamente, comentaram os analistas do GS, em relatório.

A análise estima que os ativos que a Minerva está adquirindo da Marfrig no Brasil, Chile e Argentina estão operando com ebitda de R$ 905 milhões pré-sinergias, com base nos relatórios e ajustes da Marfrig para as transações intercompanhia.

Em comentário divulgado ontem logo após a aprovação pelo órgão antitruste, a Ativa disse que a aprovação pelo Cade, após um pouco mais de um ano de seu anúncio, que a Minerva precisará vender uma unidade desativada desde 2010 que, na prática, representa apenas um ativo imobiliário sem uso para a companhia, com o objetivo de reduzir riscos de concentração excessiva em Goiás, na visão do Cade. No lado da Marfrig, a empresa não poderá fazer aquisições de frigoríferos nos estados em que vendeu unidades, porém, poderá entrar em outras regiões. Além disso, a empresa também poderá ampliar as capacidades de Várzea Grande (MT) e Promissão (SP). “As expectativas são de que a Minerva assuma as plantas a partir de outubro.

Por um lado, a Minerva se consolida como um dos maiores players da América Latina, tendo, agora, o trabalho de integrar as operações e entregar o guidance. Por outro lado, a companhia pressiona sua estrutura de capital e seu payout, algo que o mercado já olhou de forma negativa. Seguimos acompanhando o andamento das suas operações e enxergando a companhia ainda com um valuation pressionado e com a redução da payout e uma estrutura de capital afetada como fatores que reforçam nossa recomendação.”

Em análise também divulgada onte, a XP comentou que o Cade foi explícito ao dizer que não cabe ao órgão regular contratos privados de fornecimento e, devido a esse fato, a decisão referente ao fornecimento de matéria-prima pela Minerva à Marfrig fica a cargo das empresas.

“Os remédios tem pouco impacto nos economics do deal. O prazo de venda da fábrica em GO pode passar de um ano e, caso não apareçam compradores ou a oferta não seja razoável, pode acabar não acontecendo. Nós atualizamos recentemente os números e já considerávamos uma aprovação sem remédios materiais. Estamos Neutros nas duas empresas uma vez que vemos um cenário mais desafiador em termos de alavancagem”, disse a XP.

Na sua última atualização sobre a Marfrig e a Minerva, em 29 de agosto, quando já tinha maior clareza sobre as condições de aprovação, a XP incorporou a venda de ativos em seus modelos. A XP manteve-se neutra em relação à Marfrig, embora tenha aumentado o preço-alvo para R$ 17,50 para a ação, impulsionado principalmente pelo aumento do Valuation da BRF, mas também devido ao impacto positivo da desalavancagem. Por outro lado, rebaixou a Minerva de Compra para Neutro com preço-alvo de R$ 8,40, já que a maior alavancagem pressiona o valor do equity. “À medida que o deal se aproxima do final, consideramos o resultado positivo para a Marfrig e a Minerva, apesar do longo prazo e do risco de possíveis medidas corretivas. Para a Marfrig, a venda de ativos proporciona um apoio essencial aos seus esforços de desalavancagem, aumentando o valor do equity. Para a Minerva, ainda há tempo para capitalizar um momento de ciclo favorável, embora acreditemos que a empresa tenha pago mais do que o valor justo pelos ativos adquiridos.”

“Nossas preferências nos setores de Alimentos e Bebidas e Agro continuam sendo a JBS e a BRF, já que um aperto de ciclo (tanto nos EUA quanto no Brasil) e o aumento das taxas de juros podem limitar a geração de caixa e o ritmo de desalavancagem da Marfrig e da Minerva”, disse a XP no relatório.

Cade aprova, com restrições, aquisição pela Minerva de ativos da Marfrig

Na sessão de julgamento desta quarta-feira (25/9), o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou, com restrições, a aquisição pela Minerva de parte do negócio de carne bovina e ovina da Marfrig. A operação, que envolve fábricas de abate e desossa e um centro de distribuição, localizadas no Brasil, Chile e Argentina, foi aprovada condicionada à adoção dos remédios unilateralmente impostos pelo Tribunal, dado que não houve celebração de Acordo de Controle em Concentrações.

Ao todo, a operação consiste na celebração de compra e venda de 11 unidades de abate e desossa de bovinos no Brasil nos estados do Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Goiás, Rondônia e São Paulo, além de uma unidade na Argentina e outra no Chile.

O conselheiro Carlos Jacques, relator do caso, apontou duas preocupações concorrenciais: a supressão do limite de expansão da planta industrial em Várzea Grande, no Mato Grosso, e a alienação da planta de Pirenópolis, em Goiás.

Ainda de acordo com o relator, a aplicação de remédios unilaterais, nesse caso, é a alternativa mais adequada e proporcional para garantir a preservação de um ambiente competitivo equilibrado, sendo suficiente para mitigar os riscos associados à concentração de mercado e prevenir a formação de posições dominantes, já que o mercado de abate e desossa de bovinos estavam entre as preocupações levantadas pelo conselheiro relator.

Remédios

As obrigações impostas às representadas visam mitigar as preocupações concorrenciais identificadas, sugerindo a aprovação da operação condicionada ao cumprimento dos remédios.

Dessa forma, o relator adota a sugestão da SG/Cade sobre o ajuste na cláusula de não-competição, propondo condições adicionais de maneira unilateral, dado que não houve a celebração de ACC no âmbito do Tribunal Administrativo.

Nesse sentido, a decisão do Tribunal determinaque a Marfrig poderá aumentar sua capacidade de abate e desossa na fábrica de Várzea Grande, em Mato Grosso. A Minerva também deverá alienar a planta de Pirenópolis, em Goiás, antes detida pela Marfrig e objeto do Contrato de Compra e Venda. Essas ações deverão ser monitoradas de acordo com os procedimentos de fiscalização de comprimentos previsto em resolução do Cade.

As restrições à expansão do contrato se aplicam aos estados do Pará, Rio Grande do Sul, Rondônia, Mato Grosso do Sul e Goiás. No entanto, a restrição na planta de Várzea Grande, Mato Grosso, não é válida, mas outras regras de cumprimento no estado ainda são.