São Paulo – As ações da CVC dispararam no pregão de ontem (30) após o pedido de recuperação judicial da 123 Milhas. O papel CVCB3 liderou as ações em alta de 17,09% no Ibovespa estendendo o movimento da véspera, beneficiada com a crise na concorrente. Analistas disseram que, com o problema da 123 Milhas, a CVC é favorecida porque tira um player do mercado.
Leandro Petrokas, diretor de research da Quantzed, chama a atenção para um movimento de short squeeze no ativo. “Dados da B3, de 28 de agosto, compilados pela plataforma Quantzed, apontam para uma posição alugada de 19,5% do free float, ao preço médio de R$ 2,57. Ou seja, quem tem posições vendidas e o ativo começa a subir, pode recomprar as ações, trazendo fluxo ao ativo”, comenta Petrokas.
Apolo Duarte, head de renda variável e sócio da AVG Capital, destaca que tanto a CVC como a 123 Milhas são empresas que brigam pelo mesmo espaço, principalmente na parte de pacote de viagens: “A 123 Milhas praticamente está fora do mercado e acredita-se que a CVC vai absorver parte do mercado que a 123 Milhas vai deixar desatendida, daí o motivo para o otimismo com a CVC”. Ainda de acordo com ele, “não dá para dizer que a CVC está bem e não é só porque a 123 Milhas entrou em recuperação judicial que a maré vai virar de vez para a CVC”.
Vitorio Galindo, analista fundamentalista da Quantzed, ressalta que até existe a chance de um aumento do market share da CVC, mas nada de forma muito relevante. “Eu não acredito muito nisso porque eu acho que a CVC compete num nicho de público diferente, mais focado naqueles consumidores que até não usam a internet, não compram em sites desse tipo, é um público mais conservador que busca uma marca de referência, acostumado já a comprar na CVC, que vai na loja do shopping, etc. Eu acho que esse pessoal que comprava na 123 Milhas e no Hurb vai passar a comprar direto no site das companhias aéreas, no site dos hotéis, por exemplo”, comenta.
Galindo ainda complementa que o surgimento dessas plataformas de viagens com preços mais baratos teve impacto no operacional da CVC nos últimos anos porque mostrou que o produto da CVC era mais caro. “São empresas que começaram a praticar preços muito abaixo do mercado, preços, inclusive, que você não encontra no próprio site da companhia aérea ou do próprio hotel. Isso acabou distorcendo os preços e a competição do setor. Então, teve um impacto significativo ali no operacional da empresa. Não diria que tão significativo assim, mas acho que acabou afetando mais as próprias empresas aéreas do que a CVC em si. Acredito que, de fato, isso criou um ambiente de competição ruim para o setor”, diz.
Segundo Galindo, para quem já tem a CVC na carteira, a recomendação da Quantzed, casa de análise e plataforma de tecnologia e educação para investidores, é de manter o papel. “A gente tem recomendação para ela, a empresa está valendo hoje cerca de R$ 1 bilhão. Se esses resultados melhorarem, se a empresa começar a entregar resultados positivos, um lucro operacional mais próximo do que entregava no passado, conseguir reduzir as despesas, acredito que tem tudo para a lucratividade aumentar. Ela já endereçou a questão do endividamento dela com follow-on, então a despesa financeira vai melhorar, olhando pra 2024 em diante. Então, na nossa opinião, a recomendação é de manter”, complementa.
Azul encerra contrato com 123 Milhas
A Genial Investimentos destaca que a 123 Milhas citou em seu pedido de recuperação judicial o término de um contrato com a Azul. Esse contrato permitia à 123 Milhas pesquisar passagens com pontos na Azul, garantindo preços mais vantajosos, o que agora não é mais viável. “Para nós, a notícia é positiva, pois deve auxiliar a companhia aérea a manter seu Yield elevado, dado que não haverá mais desconto na compra da passagem”, comenta a Genial.