Analistas repercutem especulações sobre reunião entre CEO da Petrobras e governo; ações caem

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A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, na cerimônia de abertura da Rio Oil & Gas & Energy (ROG.e) 2024, em 23/09/2024. Foto: Armando Paiva / Agência Petrobras.

São Paulo, 28 de janeiro de 2025 – Em meio às notícias especulativas sobre as reuniões entre a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, e seu acionista controlador, o governo federal, representado pelo presidente Lula e seus ministros, os analistas comentam sobre a possibilidade de anúncios de reajustes no preços da Petrobras, que se encontram abaixo da paridade de importação (PPI) em -7% e -17% na gasolina e do diesel nos polos da companhia, segundo o acompanhamento diário da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), nesta terça-feira. A política do PPI foi oficialmente extinta em maio de 2023 pelo ex-presidente da estatal, Jean Paul Prates.

Além disso, a companhia também informou hoje (28) o alcance da meta de produção em 2024 dentro do ultimo plano estratégico, de 2,7 milhões de barris por dia.

Em comentário sobre a notícia da Folha de S. Paulo de que a Petrobras deverá reajustar o preço do diesel nas próximas semanas e que a gasolina não sofrerá alta, informação que supostamente teria sido dada pela chefe da petroleira, ao presidente Lula, nesta segunda (27), segundo relatos sobre a reunião ocorrida no Palácio do Planalto, o Santander avalia o aumento potencial nos preços do diesel como positivo para a companhia. Segundo a análise, o aumento “restaura a lucratividade do seu segmento de refino” e “melhora a confiança dos investidores na Petrobras, bem como a percepção dos procedimentos de governança da empresa e sua estratégia comercial/política de preços de combustível.”

“Com base nos preços atuais, acreditamos que a Petrobras poderia aumentar os preços do diesel em 4% para recuperar seu crack spread para um nível mais próximo da média histórica (US$ 18/bbl atualmente vs. USGC em US$ 25/bbl e média histórica de US$ 22/bbl). Em nossa visão, isso reduziria significativamente o desconto atual para os preços de paridade de importação (PPI) no diesel, que atualmente está em 13% (vs. 20% há uma semana e ~5% em 2024, de acordo com nossos cálculos). Quanto à gasolina, vemos a Petrobras vendendo atualmente no mercado doméstico com um desconto de 10% em relação ao PPI (vs. ~12% há uma semana e ~8% em 2024), com um crack spread positivo de ~US$ 5/bbl (vs. USGC em ~US$ 6/bbl e média histórica em US$ 10/bbl)”, escrevem Rodrigo Almeida e Eduardo Muniz.

O Santander reitera a classificação de compra para a Petrobras, a sua principal escolha do banco espanhol da América Latina, diante do FCF e da resiliência de dividendos da empresa que se destacam em seu universo de cobertura e na expectativa de que uma rodada de aumentos nos preços dos combustíveis atuará como um importante impulsionador positivo para as ações antes dos resultados do 4T24. O Santander prevê um redimento de dividendos de 13% para 2025, assumindo Brent de US$ 70/bbl para, com um potencial de 15-17% ao considerar ~US$ 75-80/bbl.

Para a Genial Investimentos, o mercado deve reagir bem ao anúncio do reajuste, ainda que não oficial. “Desde 2023, a Petrobras tem reajustado poucas vezes o preço dos combustíveis. Com o início do ano e alterações significativas no preço do barril, o mercado provavelmente já aguardava algum reajuste, colocando também em conta um delay para a sua realização. Historicamente, o preço dos combustíveis tem sido reajustado pela Petrobras quando estão próximos a uma defasagem de ~20%. Resta agora esperar o nível de reajuste a ser anunciado e o seu timing. Quanto ao alcance da meta de produção em 2024, esperamos reações neutras, dado que o mercado provavelmente já precificava essa produção”, comentam os analistas, que tem recomendação “manter” para a ação preferencial da Petrobras (PETR4), com preço-alvo de R$ 48,00.

O BTG Pactual atualiza os cálculos de faixas de preço de combustíveis para a Petrobras, que aponta que os preços do diesel e da gasolina estão atualmente 11% e 8% abaixo do PPI, respectivamente, contra 18% e 12% na semana passada, e vê a estratégia comercial da empresa sendo impulsionada por tendências de média móvel em vez de simplesmente preços spot. “Olhando para uma média móvel de 12 meses, os preços da gasolina estão acima de seu custo de oportunidade (preços de exportação – PPE), enquanto os preços do diesel estão pairando perto da extremidade superior da faixa (paridade de importação – PPI)”, diz a análise do BTG.

Em relação à reunião entre a CEO da Petrobras e o presidente Lula, o BTG comenta que, embora a pauta específica seja desconhecida, é razoável inferir que ela pode estar relacionada às pressões que os recentes aumentos do preço do petróleo colocaram sobre os preços dos combustíveis e a potencial necessidade de ajustes em algum momento. “Em última análise, acreditamos que, embora não haja urgência, a Petrobras ajustará os preços se houver qualquer risco de escassez de oferta e/ou se os preços permanecerem significativamente descontados por um período prolongado”, comentam os analistas Luiz Carvalho, Pedro Soares, Henrique Pérez, Daniel Guardiola, Juan José Muñoz e Alvaro Leyva, em relatório a clientes.

O BTG cita que a Petrobras continua sendo a sua principal escolha no setor, apoiada por uma avaliação descontada em relação aos pares, crescimento de produção contratado, lucratividade melhorada e um rendimento de dividendos atraente de 12-18%. Além disso, os riscos de fusões e aquisições agressivas ou impacto de capital significativamente maior parecem limitados, reforçando ainda mais a sua perspectiva positiva sobre as ações da Petrobras.

Em relação à decisão da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), anunciada ontem (27) pela Petrobras, de unificar os campos de Berbigão e Sururu em um único cluster, que contrasta com a interpretação da Petrobras de que a área compreende seis campos distintos, os analistas ressaltam que os campos no Brasil produzindo mais de 30 kb por dia estão sujeitos a um imposto de Participação Especial adicional e, assim, essa unificação pode aumentar as obrigações fiscais da Petrobras. “Embora o impacto financeiro exato permaneça sob avaliação, ele pode resultar em provisões para desembolsos futuros. Dito isso, não prevemos uma reação negativa nas ações da Petrobras, pois é improvável que o impacto afete a capacidade da empresa de sustentar seus pagamentos de dividendos até 2025 e depois”, opinam.

Em relação à notícia do “Valor” de que Lula discute investimentos da Petrobras em momento que estatal defende reajuste de diesel, segundo fontes, a corretora Ativa pontua que, no que tange ao reajuste no diesel, segundo a Abicom, existe uma defasagem que ronda os 20% no produto que o Brasil importa cerca de 1/4 do que consome. “Assim, classificamos a execução de um repasse como prudente e veríamos o movimento como positivo para as ações de Petrobras (PETR4/PETR3).”

A Ativa acredita que o repasse, se realmente ocorrer, será comedido e não englobará a defasagem atual total. “Ao efetuar o repasse, a companhia sinalizaria aos participantes do mercado seu compromisso com a atual política de preços, bem como com a funcionalidade do mercado. Lembramos que a falta de funcionalidade que permita uma participação saudável de importadores neste mercado poderia fazer o problema extrapolar o tema inflação e causar problemas ainda maiores ao país, como a escassez de produtos, sobretudo em regiões mais afastadas”, comenta a Ativa.

Do ponto de vista da governança corporativa, a Ativa acrescenta ainda que a execução da política de preços da companhia é de competência de sua diretoria executiva. “Já havíamos comentado que víamos de forma negativa a ocorrência de reunião do governo com o conselho no próximo dia 29 de forma a pressionar este a não reajustar os preços de derivados no país. A ocorrência de reunião entre o presidente do país e a CEO da companhia mostra que o tema extrapola as rédeas da diretoria, o que por si só, contribui para justificar o deságio que o papel roda perante os pares, sobretudo os ocidentais”, complementa.

Em relação ao anúncio de que a Petrobras cumpriu inteiramente sua meta de produção em 2024, a Ativa acredita que este ponto não trará implicações ao papel, uma vez que o mercado já esperava este resultado. “Achamos ainda que, em 2025, com a companhia adicionando novos ativos produtivos e com o Ibama atuando de forma mais dinâmica na concessão de anuências e licenças, a meta poderá ser batida com ainda mais conforto”, finaliza.

A Ativa tem recomendação “neutra” para PETR4, com preço-alvo de R$ 44,00.

O Itaú BBA comenta que a discussão sobre um potencial ajuste de preço tem sido o tema principal em suas interações com investidores e que, se a notícia for confirmada, acredita que a ação pode reagir positivamente.

Por volta de 12h49 (horário de Brasília), as ações da Petrobras (PETR3; PETR4) operavam em baixa de 1,2% e 0,4%. No fechamento, os papéis encerraram com quedas de 0,24% e 0,13%, cotados a R$ 40,98 (PETR3) e R$ 37,13 (PETR3).

*O texto foi atualizado às 19h46 com as variações das ações no fechamento do pregão desta terça-feira (28).