Apesar de 2T21 fraco e tombo de 12% da ação, Ultrapar vê recuperação no 2S21

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São Paulo – Após resultados fracos no segundo trimestre e uma reação bastante negativa do mercado, com as ações (UGPA3) caindo cerca de 12% nesta manhã, a Ultrapar afirmou que suas margens foram prejudicadas em função de uma queda do consumo devido restrições impostas pela pandemia e por preços elevados de combustíveis no período, inclusive do etanol. O grupo também afirma que preferiu priorizar a manutenção da sua fatia de mercado, já que vinha perdendo market share, em detrimento de margens.

Porém, segundo o presidente da Ipiranga, Marcelo Pereira Malta de Araújo, os problemas foram pontuais e há otimismo com a recuperação do consumo no segundo semestre, o que faz a companhia manter o seu guidance para o ano, apesar de admitir que preços ainda elevados podem continuar pressionando um pouco as margens.

“Não tínhamos previsto uma recrudescimento tão grande em função da pandemia de março para abril, maio já foi um mês muito melhor, mas houve uma redução da demanda e agora preços do etanol estão em preços recordes e isso dificultou, houve aumento de preço com demanda contraída”, explicou durante teleconferência de analistas.

“Mas são coisas pontuais, tivemos margens estressadas, mas tenho otimismo grande para o segundo semestre, acho que o mercado deve crescer mais que o projetado. Com volumes mais firmes o mercado vai se ajustando e vamos recuperar margens, mas claro que os preços do álcool ainda elevados podem pressionar. Por isso, o guidance é possível de ser atingido ainda, não vimos ainda motivo
para revisar”, completou.

O presidente da Ipiranga ainda destacou que no ano passado a companhia fez uma grande revisão da sua estratégia, priorizando quatro avenidas de crescimento e que está convicto sobre os planos já aprovados, sendo que uma das prioridades era não perder mais fatia de mercado para concorrentes.

“Nós temos uma firme determinação de não ceder mais espaço no mercado. Chegou a hora, temos plano claro e temos iniciativas que precisam de tempo adequado e não faz sentido ceder mercado, então, algum sacrifício de margem ocorrerá e tivemos fatos não recorrentes, problemas com preço do etanol e recuperação de margens do diesel”, explicou ainda.

Outra estratégia citada pelo executivo é uma iniciativa na área de trading, com implementação de nova política de risco. Segundo Araújo, isso permitirá aproveitar melhor oportunidades e preços, capturando margens.

O presidente ainda afirmou que seguem tendo forte procura pela bandeira Ipiranga do mercado e que seguem dentro da meta de embandeiramento de postos. “O embandeiramento foi ligeiramente superior às nossas projeções, mais de 100 postos, o nosso backlog é de mais de 200 postos, que é a nossa meta. Não temos mais expectativa de fazer grande número de postos, estamos sendo seletivos, mas ainda temos grande quantidade. Temos demandas crescentes para adesão à rede”, disse.

MEDIDA PROVISÓRIA

A Ultrapar afirmou que a medida provisória (MP) editada pelo governo ontem, que traz mudanças na regulação do setor, pegou a empresa de surpresa e considera que essa não é a melhor forma de propor alterações, porém, afirma que vê pouco impacto das medidas nos negócios.

“O processo está sendo discutido já com dificuldades no processo e na transparência, vamos dizer assim, fomos surpreendidos pela MP, que claramente não nos parece ser a forma mais adequada de fazer evoluções em um setor que é regulado”, disse.

“No entanto, primeiro, a MP não vai entrar em vigor imediatamente, tem quatro meses. Sobre o etanol e a questão da bomba branca, que é muito polêmica, a MP diz que a nova disposição não prejudica cláusulas contratuais já existentes no futuro, o que o governo está fazendo é mais uma alternativa possível, você comprar de quem quiser. Vemos pouco impacto nos preços e modelos, que convivem”, disse ainda.

Já sobre a venda direta de etanol afirmam que não são contra, mas temem que haja assimetrias na questão tributária e mais espaço para sonegação de impostos.

“A preocupação é a enorme complexidade do sistema tributário, e quando você cria assimetrias tributárias pode criar problemas concorrenciais e problemas de sonegação, principalmente no etanol, que já concentra mais sonegações no setor. Acho que o governo vai ter mais dificuldade para fiscalizar pagamento de tributos”, explicou.

O presidente Jair Bolsonaro editou ontem uma medida provisória (MP) autorizando a venda direta de etanol por produtores ou importadores do combustível a revendedores varejistas, como postos de combustíveis. Com isso, fica dispensada a intermediação de agentes distribuidores, obrigatória até então.

As medidas entram em vigor a partir do quarto mês subsequente à publicação da MP. A medida provisória vale inicialmente por 60 dias, pode ter prazo prorrogado uma vez pelo mesmo período, e precisa ser ratificada pelo Congresso para se tornar permanente.

A MP retira ainda a desoneração tributária na venda de álcool anidro importado adicionado à gasolina pelo distribuidor quando este for importador, hipótese em que não há tributação nessa adição pelas distribuidoras. Tal proposição tem a finalidade de equalizar a incidência tributária entre o produto nacional e o produto importado.

A MP também permite que os postos de combustíveis que optem por exibir a marca comercial de respectivo distribuidor possam comercializar combustíveis de distribuidor diferente da marca exibida, desde que devidamente sinalizado para
o consumidor.

REAÇÃO DO MERCADO

As ações da Ultrapar registram a maior queda do dia do Ibovespa após a empresa após o balanço do segundo trimestre. Às 15h03 (horário de Brasília) os papéis UGPA3 caíam 12,04%, a R$ 15,26.

Na avaliação da Ativa Investimentos, ainda que tenha apresentado uma forte receita líquida em todos os segmentos, sobretudo em Ipiranga, a Ultrapar registrou custos e G&A acima das expectativas, registrando assim um ebitda abaixo do esperado, por conta dos resultados de Ultragaz e Ipiranga, e afetada pelos desdobramentos da pandemia e menores margens de comercialização.

Para os analistas do BTG, o fraco resultado pode ser explicado pelo desempenho ruim da Ipiranga devido aos preços dos combustíveis, principalmente o etanol, e o impacto da pandemia na mobilidade.

No entanto, eles alertam que se essas perdas podem ser estendidas para o segundo semestre deste ano.