Apesar de ver riscos com pandemia, Itaú mantém otimismo

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São Paulo – O Itaú Unibanco prevê um aumento da inadimplência ao longo do ano, após o fim de programas de carência que lançou para clientes no início da pandemia de coronavírus e que levaram a uma redução da inadimplência no ano passado.

“É difícil projetar, mas o pico da inadimplência de 90 dias pode se dar no quarto trimestre deste ano ou no primeiro trimestre do ano que vem, mas não serão saltos relevantes”, avaliou o presidente do banco, Milton Maluhy Filho, em teleconferência com a imprensa.

Já sobre o cenário macroeconômico, Maluhy disse que as expectativas seguem sendo pelo avanço do plano de vacinação, que destacou como sendo fundamental para que a economia se recupere, e pelo avanço da agenda de reformas, que acredita que pode ser facilitada após a vitória dos candidatos do governo nas eleições da Câmara dos Deputados e do Senado ontem. “Com a virada de página da eleição do Congresso, esperamos que se foque na agenda de reformas”, disse.

Apesar das expectativas positivas, que levariam a uma recuperação da economia, o Itaú afirma que o cenário ainda tem um grau razoável de incerteza. Segundo o novo presidente do banco, que iniciou o mandato agora, no lugar de Candido Bracher, a previsão é que o PIB do Brasil cresça 4% este ano, depois de uma provável queda de 4,1% em 2020. Porém, estima que se a vacinação contra o coronavírus atrasar seis meses, por exemplo, o PIB cairia pela metade.

O executivo ainda comentou que espera que o governo cumpra o teto de gastos e que apresente alternativas para o endividamento não continue a subir, caso resolva anunciar um novo programa social.

“A questão da dívida é um problema estrutural, o governo fez o que tinha que fazer durante a pandemia, tinha que gastar, mas chegamos a um nível de endividamento muito alto. Qualquer revisão no programa assistencial tem que vir com a proposta de uma reforma, assim como feito na reforma da Previdência, que não tinha impacto no curto, mas no médio e longo prazo”, disse.

GUIDANCE

Sobre o guidance para 2021 divulgado pelo banco, o executivo disse que a possibilidade de não divulgar seu guidance para esse ano foi discutida, mas preferiu aumentar as faixas de previsões e divulgá-lo.

“É um ano diferente, temos muitas dúvidas de como a vacinação irá se comportar e impactar a economia, mas aumentamos um pouco o range das taxas e achamos melhor divulgar as previsões”, disse.

O Itaú Unibanco espera, por exemplo, um crescimento na carteira de crédito consolidada entre 5,5% e 9,5% em 2021. A margem financeira consolidada com o mercado deve ficar entre R$ 4,9 bilhões e R$ 6,4 bilhões. Já a margem financeira consolidada com clientes deve subir entre 2,5% e 6,5%.

Dentro das receitas de serviços e seguros, é projetado um crescimento entre 2,5% e 6,5% este ano, em linha com a tendência de recuperação da atividade econômica, mas levando em consideração um impacto negativo do PIX, lançado pelo Banco Central (BC), e da alienação da participação na XP Investimentos.

Maluhy destacou que o Itaú fez uma organização interna em função do PIX, o que acredita que traz diferencial e conveniência para os clientes, e sua avaliação é que o PIX continuará tendo um papel importante, com o BC lançando ainda novos serviços, o que trará, inevitavelmente, um impacto na receita de serviços do banco.

Apesar dos impactos, o presidente do banco espera uma melhora na área de negócio de varejo, que afirma que começou a ser reestruturada pelo Itaú a cerca de um ano e meio e se trata de um projeto de médio e longo prazo, apesar de não dar mais detalhes.

Dentro desse projeto de reestruturação e melhor relação com o varejo, afirmou que não prevê o fechamento de agências bancárias este ano, depois de 95 agências fechadas no quarto trimestre de 2020.

“Continuamos trabalhando forte no projeto de transformação do varejo, acreditando no físico combinado com o digital. Dado a esse avanço do projeto, não devemos fechar nenhuma agência. Temos uma população de clientes muito heterogênea, tem quem só use o canal digital e quem use a agência todo dia”, reiterou.

A avaliação ainda é que a área de varejo foi mais impactada pela crise causada pela pandemia de coronavírus do que o atacado, mas espera que o desempenho do segmento possa voltar a se recuperar nos próximos anos.

“O atacado sentiu muito menos a crise do que o segmento de varejo, o grande driver foram as agências fechadas e menor venda de produtos, além disso, as taxas de juros para baixo impactam, mas os juros começando a subir há efeito positivo e com a recomposição da rede, volta a venda de produtos. Tem a inércia negativa, mas já volta a performar melhor, reequilibrando a equação”, disse em teleconferência com analistas.

Segundo o executivo, o atacado teve desempenho mais positivo em 2020 que o esperado e citou para isso o programa lançado pelo banco para aumentar a carência de pagamentos, além do mercado de equity mais forte, com impulso do banco de investimentos.

NOVA DIRETORIA

Embora veja incertezas sobre o cenário, o novo presidente do banco, que inicia seu mandato agora, disse ainda estar animado com as mudanças que está implementando no Itaú depois de três meses de transição na presidência.

“Fizemos uma transição super importante a primeira grande mudança foi o comitê executivo, que passou de seis para 12 pessoas, com sete dedicadas a linhas de negócios e o restante a questões corporativas. A ideia é avançar no processo de velocidade e autonomia do banco, queremos aprofundar isso porque os tempos são diferentes e precisamos estar próximos do cliente, ter velocidade de respostas”, reiterou.