São Paulo – Os desafios para 2021 serão grandes para mercado financeiro brasileiro, porém, os economistas estão otimistas com a chegada do próximo ciclo para o Ibovespa, dólar e Selic (taxa básica de juros). Inicialmente, o foco segue sendo a vacina contra a covid-19, eleições na Câmara e no Senado aqui no Brasil e a posse e primeiro mandato do presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden.
Entre as principais corretoras e bancos de investimentos que mandaram projeções de Ibovespa ao fim de 2021 para a Agência CMA, na média, a previsão é de 133 mil pontos. Grande parte dos economistas estão esperando um encerramento em 130 mil pontos ao final do próximo ano.
Em relatório, a XP Investimentos destacou os três principais riscos para 2021: recuperação econômica – “Esse risco está intimamente relacionado à implantação da vacina e ao controle efetivo da pandemia”; superaquecimento dos mercados e da economia (inflação) – passada a pandemia, “os mercados permanecem inundados com liquidez providenciada por estímulos fiscais e monetários”; e, por fim, riscos fiscais no Brasil – “O país vai emergir dessa crise altamente endividado e ainda com um grande déficit orçamentário anual”.
Já o documento produzido pelo Banco Inter, afirma que “o ano de 2021 deve ter como principais temas a recuperação econômica global e as campanhas de vacinação em massa. Esperamos que o cenário internacional continue positivo, em especial para mercados emergentes e ativos de risco. No Brasil, nossa expectativa é de crescimento de 3,5% do PIB [Produto Interno Bruto], sendo que um início mais rápido da campanha de vacinação pode ter impacto positivo além dessa estimativa. Contudo, o quadro fiscal continuará como o maior risco para os ativos domésticos”, finaliza.
DÓLAR
O flerte com os R$ 5,00 em meados de dezembro deixou o mercado animado na reta final do ano com expectativas de que o dólar volte a operar abaixo desse patamar em 2021. Se a eleição do democrata Joe Biden como presidente dos Estados Unidos abriu o caminho para uma reversão de tendência aos mercados de países emergentes, fazer “a lição de casa” pode dar continuidade à valorização do real.
“O contexto global se mostra favorável aos países emergentes, com a redução da aversão ao risco e a recuperação de preços de commodities, baseados na mudança de governo nos Estados Unidos, na expectativa pela vacinação contra a covid-19 e na forte retomada da China”, avalia o economista da Tendências Consultoria, Silvio Campos, apostando em dólar a R$ 4,85 ao fim do ano que vem.
Porém, o “aperto das contas públicas e a pressão por gastos sociais e investimentos públicos ainda seguem como ameaças”, ressalta Campos. “O dólar tem espaço para cair mais, mas tudo vai depender de como a questão fiscal será destravada, principalmente a PEC Emergencial, que é o principal ponto no curto prazo para a moeda cair mais. As reformas estruturais são para médio prazo”, diz o analista político da Levante, Felipe Berenguer.
A equipe econômica do Bradesco pondera que o cumprimento do teto de gastos “será difícil e requer ajustes” em diversas despesas. “Se houver avanços na agenda de reformas, que tornem o cumprimento do teto mais crível nos próximos anos, a moeda poderia diminuir efetivamente a distância para os pares [do real]”, reforçam os analistas do banco com aposta de dólar a R$ 5,00 ao fim de 2021.
JUROS
A última reunião de 2020 do Comitê de Política Monetária (Copom) deixou uma mensagem clara de que o Banco Central irá mudar a postura na condução da taxa básica de juros em 2021. A decisão de manter a Selic em dezembro em 2%, pela terceira vez seguida, foi acompanhada de um comunicado duro (“hawkish”), com o BC fechando as portas para novos cortes e acenando para a possibilidade de aperto antes do imaginado.
A estimativa majoritária do mercado financeiro é de que o ciclo de aperto monetário só deve começar no segundo semestre do ano que vem. Porém, essa perspectiva passa pela premissa de manutenção do “teto dos gastos”, com o governo mantendo o atual regime fiscal. Em se confirmando esse cenário, o que deve ocorrer logo na virada do ano com votações de propostas no Congresso, o foco se volta para o comportamento da inflação.
E aí o gatilho vai depender do momento em que o Copom retirar a ferramenta de orientação futura (“forward guidance”), conforme sinalização do comunicado deste mês, quando afirmou que isso pode ocorrer “em breve”. Os economistas do MUFG Brasil Carlos Pedroso e Maurício Nakahodo lembram que a meta de inflação de 2022 – que, segundo o BC está ganhando importância – tem mais peso nas decisões a partir do segundo trimestre de 2021.
“Então, considerando-se que o aumento da taxa de juros não é automático [à retirada do forward guidance], o terceiro trimestre de 2021 deve ser um bom período para iniciar a normalização da política monetária”, afirmam, endossando a expectativa majoritária, de início do ciclo de aperto a partir da reunião do Copom em agosto. O dissenso se dá na carga total a ser promovida, ao longo dos quatro encontros até dezembro.
No mais recente relatório Focus, a estimativa do mercado financeiro é de que a taxa básica de juros encerre 2021 em 3,13%. Para o diretor do Bradesco, Fernando Honorato, o reposicionamento do BC, ajustando a linguagem, tende a ser favorável à ancoragem das expectativas de inflação, com a pressão dos choques temporários se dissipando. “Considerando-se a materialização da retomada da atividade econômica e de melhora nas questões fiscais, a Selic deve chegar a 4% ao final do próximo ano”, afirma.