São Paulo – No primeiro pregão de outubro, a Bolsa fechou em alta de mais de 1,73%, aos 112.899,64 pontos, seguindo o movimento positivo no exterior e impulsionada pelas ações do setor financeiro, Petrobras e papéis ligadas ao turismo com o avanço da retomada da economia. Os papéis dos bancos se beneficiam com as perspectivas de juros altos e várias casas de análises estão recomendando essas ações para o último trimestre. Hoje também foi dia em que os investidores fizeram a recomposição de suas carteiras, após um mês de setembro mais conturbado.
A notícia sobre um medicamento contra a covid-19, desenvolvido pela farmacêutica norte-americana Merck em parceria com a Ridgeback Biotherapeutics, foi visto de forma positiva pelo mercado.
No pano de fundo, os investidores ainda se preocupam com a inflação global, incertezas no cenário interno, crise energética na China e a redução dos estímulos na economia dos Estados Unidos podendo ocorrer até novembro deste ano.
Segundo uma fonte que não quis se identificar, o Itaú aprovou em assembleia que as pessoas que tiverem ações do Itaú aqui no Brasil irão receber 23 BDRs (Brazilian Depositary Receipts, sigla em inglês) da XP Investimentos. A instituição financeira tem quase 40% de participação na XP. Cada ação da XP é negociada a US$ 42, com o dólar a R$ 5,35 e cada BDR vai valer R$ 26, em média. O Itaú tem cerca de 5 mil acionistas. “É interessante, muita gente não vai vender. É um papel que vai ser muito negociado”. Com as ações de BDRs, existe uma expectativa de que se permitirá muita arbitragem.
Para Eurico Cozzolino, analista da Levante Ideias Investimentos, o Ibovespa está alinhado com os Estados Unidos, mas também salientou que “no curto prazo esse bom humor na Bolsa é de retomada com repique de preços e destaque para o setor de aéreas e turismo com expectativa mais acelerada da reabertura da economia.” Alguns ativos já se encontram no limite de desvalorização.
Cozzolino comentou que a Bolsa está barata, se atentando em alguns fundamentos e riscos, mas vários fatores contribuem para a derrocada de setembro “o mercado sempre antecipa e vai precificando o pior cenário com descontrole de inflação, precatórios, aumento da taxa de juros, o caso da Evergrande, na China, e a queda do minério de ferro que acaba influenciando em 10% do Ibovespa”.
André Rolha, líder de renda fixa e produtos de câmbio da Venice Investimentos, comentou que os investidores estão refazendo suas posições e hoje “a Bolsa está se beneficiando de um ambiente externo mais ameno e alguns papéis que estão descolando e contribuindo para uma posição mais positiva para o Ibovespa”. Rolha citou o movimento mais positivo das ações da Petrobras “mesmo em meio à discussão sobre os preços dos combustíveis, poderia desencadear uma reação negativa nos papéis da Petrobras, mas eles estão subindo e se sustentando”. As ações da estatal (PETR3 e PETR4) avançaram 1,88% e 2,82%. Ele também destacou a boa performance dos papéis dos bancos, que se beneficiam com a alta da taxa básica de juros (Selic).
Hoje o presidente Jair Bolsonaro se reuniu com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e o ministro da Economia, Paulo Guedes, para discutir o preço dos combustíveis e a economia brasileira. O encontro não estava na agenda oficial do presidente da República. Na véspera em sua live semanal, Bolsonaro comentou que os dividendos da Petrobras, que são pagos à União, poderiam ser transferidos para um fundo, e dessa forma, dar um alívio nos dos preços dos combustíveis. “Essas notícias poderiam estremecer o papel, mas pelo contrário está tendo um certo apetite. Hoje é dia dos investidores irem às compras aproveitando o que despencou recentemente”.
Rolha afirmou que a inflação segue preocupando os investidores, o mês de setembro foi o pior para a Bolsa desde março de 2020, apresentando queda de 6,65%, e com forte fuga de capital estrangeiro- até 28 de setembro foram retirados R$ 243 milhões, mas “a Bolsa ainda é embrionária e tem muito espaço para se desenvolver, sempre tem novos entrantes”.
Nos Estados Unidos, mais cedo, foi divulgado o índice de preços de gastos com consumo pessoal (PCE, na sigla em inglês), usado como referência pelo banco central do país para medir inflação, que subiu 0,4% em agosto ante julho e aumentou 4,3% em agosto em base anualizada. O núcleo do índice PCE, exclui alimentação e combustíveis, cresceu 0,3%em agosto. Na comparação anual, o avanço foi de 3,6%. Os dados são divulgados pelo Departamento do Comércio do país.
O dólar comercial fechou em R$ 5,3680, com queda de 1,48%. O revés da moeda norte-americana pode ser explicado pelos resultados positivos da indústria brasileira, o leilão de swap cambial extraordinária, que foi realizado ontem pelo Banco Central (BC), além da política de juros austera adotada pela instituição.
Para o head de tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, “o real, ao longo destes meses, estava bem resiliente enquanto a bolsa caía. Apesar de todas as incertezas fiscais, principalmente precatórios e Auxílio Brasil, ele se manteve no mesmo range de junho”.
Weigt acredita que três fatores fortalecem o real nesta sexta: valorização dos pares frente ao dólar, elevação da Selic (taxa básica de juros) e os leilões extraordinário de swap cambial para zerar o overhedge (quando os bancos fazem uma proteção exagerada do seu patrimônio que está em moeda estrangeira no exterior). “Acho que o dólar não tem mais força para subir por aqui, apesar das indefinições”, analisa Weigt.
Para o gerente de câmbio da Treviso, Reginaldo Galhardo, “hoje é o dia do ‘descanso’. Vemos uma melhora dos dados internos, com a indústria proporcionando boas notícias”. Ele enfatiza que a inflação é um problema global: “Não é um privilégio apenas nosso”, defende.
O leilão de swap cambial, que ocorreu nesta quinta, tem influência nesta subida do real: “Foi algo muito bem visto, pois o mercado estava esperando por isso. O mercado viu que o Banco Central está acompanhando a movimentação e vai interferir caso seja necessário”, opina Galhardo.
O gerente da Treviso ainda disse que os problemas fiscais e políticos, a situação certamente irá melhorar: “Tudo está precificado no câmbio, com o risco embutido”, analisa.
Segundo o boletim matinal do Bradesco, “o dólar apresenta correção do movimento dos ganhos dos últimos dias”. A instituição constata que a alta inflacionária não atinge apenas o Brasil, mas é uma celeuma global: “As preocupações com a atividade e inflação global pesam sobre os negócios nesta manhã”.
No cenário doméstico, as preocupações com a inflação ganham cada vez mais corpo, com especialistas defendendo uma postura mais hawkish (austera) da política de juros do Comitê de Política Monetária (Copom). Já no âmbito fiscal, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos precatórios continua sem avançar, o que mantém o estouro do teto do orçamento como um risco real.
As taxas dos contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI) fecharam em queda. Segundo Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora, esse processo seria sinalização de uma correção:
Com isso, por volta das 16h30 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 7,192%, de 7,200% ontem; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 9,125%, de 9,200%; o DI para janeiro de 2025 ia a 10,160%, de 10,280% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,550%, de 10,690%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo positivo motivados pela notícia de que um remédio da Merck contra o covid-19 pode ser aprovado no país.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
Dow Jones: +1,43%, 34.326,46 pontos
Nasdaq Composto: +0,82%, 14.566,7 pontos
S&P 500: +1,14%, 4.357,04 pontos