São Paulo – A empresa papeleira chilena Arauco anunciou um investimento de US$ 3 bilhões (R$ 15 milhões) em uma fábrica no Mato Grosso do Sul, que terá capacidade de produção de 2,5 milhões de toneladas por ano de celulose de eucalipto e deve entrar em operação no primeiro trimestre de 2028.
Segundo a fabricante, caso o acordo de colaboração assinado com o governo do estado prospere, será o primeiro passo para a construção de uma nova fábrica de celulose no Brasil, onde a empresa já atua desde 2002 com operações florestais e de painéis de madeira.
Segundo a Arauco, o projeto precisará de 380 mil hectares (ha) de terra bruta para desenvolver o projeto, dos quais a Arauco já possui 60 mil ha, com eucalipto plantado em 40 mil ha.
A Arauco estima chegar em 2024 com 70-80% do total de terras necessárias e tem várias frentes de negociação abertas para fornecer a madeira necessária. O projeto ainda precisa de aprovação ambiental e, a partir de agora, estima-se que será submetido à aprovação do conselho no segundo semestre de 2024 e começará as obras no início de 2025.
De acordo com comentários da empresa à mídia brasileira, o projeto será a usina mais competitiva da Arauco, com média distância de 150 quilômetros, entre silvicultura e moinhos.
A concorrente Suzano atualmente opera duas usinas no mesmo estado, onde também está investindo no projeto Cerrado.
ANÁLISE
Em relatório que analisa o impacto do projeto, os analistas do Bank of America (BofA) avaliam que apesar de aumentar as preocupações com o fornecimento de entrada, seu cronograma de implementação ainda está muito distante para impactar os preços no momento.
“Embora este novo projeto potencial de celulose aumente as preocupações com o fornecimento de entrada, que é abundante com mais de seis milhões de toneladas por ano (Mtpa) de nova capacidade de madeira dura (HW) entrando em operação nos próximos 2-3 anos (vs. tamanho total de celulose de mercado HW de ~40Mt), seu start-up esperado para 2028 está muito distante para exercer qualquer impacto significativo na dinâmica de preços de celulose no momento”, avaliam.
Os analistas pontuem que as ações de celulose da América Latina estão sob pressão considerável recentemente e opinam que o motivo são os temores de recessão e estagflação que estão afetando os estoques de commodities em geral.
Os mercados de celulose continuam muito apertados com restrições logísticas e gargalos na cadeia de suprimentos ainda aparentes, prazos de entrega estendidos, baixos estoques de celulose e um nível recorde de interrupções no fornecimento suportando preços muito altos (agora em US$ 844/t para HW na China).
“Ainda que as margens apertadas dos fabricantes de papel na China possam gerar algum atrito de preços nos próximos meses, principalmente porque estamos atravessando um período sazonal mais fraco (junho-agosto), o preço das ações das companhias de celulose da América Latina em uma correção para o suporte da curva de custo neste ano (para pelo menos US$ 500 -550/ton)parece exagerado, a nosso ver”, comentam.
O BofA espera que os preços de HW atinjam a média de US$ 720/t em 2022, número que consideram conservador, pois atrasos substanciais na capacidade de entrada e interrupções inesperadas continuam ocorrendo.Com isso, eles avaliam quehouve uma dissociação material entre o desempenho das ações e o principal “driver” para as ações, que são os preços da celulose, que acreditam ser injustificado.
Com isso, o BofA mantém a sua recomendação de compra em Suzano, CMPC e Copec e vê todas as ações negociadas de forma atrativa em 4-5x EV/EBITDA 2022, e a classificação neutra para a Klabin.