Ata do Copom cita surpresas altistas, cenário mais desafiados para a inflação, preocupação com enchentes no RS e externo adverso

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São Paulo, 25 de maio de 2024 – Ao longo dos últimos trimestres, os dados de atividade econômica surpreenderam, com maior crescimento em diferentes componentes da demanda. A avaliação faz parte da ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada entre 18 e 18 de junho. O documento citou surpresas altistas para a inflação, um cenário mais desafiador para a inflação e preocupação com o impacto das enchentes no Rio Grande do Sul. Também foi indicado o clima adverso externo.

 

“Ressaltou-se a resiliência da atividade doméstica e a sustentação do consumo ao longo do tempo, em contraste com o cenário de desaceleração gradual originalmente antecipado pelo Comitê”, aponta a ata. “Com relação aos dados na margem, por um lado, observaram-se novas surpresas altistas na atividade”, completou.

 

Segundo o documento, há grande incerteza a respeito dos efeitos econômicos da tragédia no Rio Grande do Sul. “Permanecem incertezas sobre a intensidade da queda de atividade e sua recuperação subsequente, bem como sobre a diminuição do estoque de capital, causadas pelas enchentes e inundações”.

 

No agregado, o Comitê avaliou que as projeções atualizadas da atividade revelam-se de fato mais fortes para o ano. O Comitê novamente avaliou que há surpresas recorrentes apontando para elevado dinamismo do mercado de trabalho, corroborando um cenário de mercado de trabalho apertado. O Comitê avalia que o hiato do produto, que se encontrava levemente negativo na última avaliação divulgada, mas que já vinha sendo objeto de estudo utilizando diferentes métodos ao longo dos últimos meses, está agora em torno da neutralidade.

 

O Comitê avalia que o cenário prospectivo de inflação se tornou mais desafiador, com o aumento das projeções de inflação de médio prazo, mesmo condicionadas em uma taxa de juros mais elevada. “Observou surpresas benignas no período recente, mas também elevação das projeções de prazos mais curtos, envolvendo preços livres. Ao fim, concluiu-se unanimemente pela necessidade de uma política monetária mais contracionista e mais cautelosa, de modo a reforçar a dinâmica desinflacionária”.

 

No que se refere ao cenário doméstico, o mercado de trabalho e a atividade econômica, em particular o consumo das famílias, têm surpreendido e divergido do cenário de desaceleração previsto. Além disso, houve nova elevação das projeções de inflação tanto para 2024 quanto para 2025, não obstante a elevação do condicionante de taxa Selic retirado da pesquisa Focus.

 

De forma análoga, as expectativas de inflação apresentaram desancoragem adicional desde a reunião anterior. Além disso, o cenário externo se mantém adverso, relacionado à visão dos agentes de mercado de que as taxas de juros em países desenvolvidos permanecerão elevadas por um período mais longo.

 

Assim, o Comitê avaliou que a política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação, como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. “O Comitê se manterá vigilante e relembra, como usual, que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”.

 

Taxa neutra

 

O Comitê debateu as estimativas sobre a taxa neutra de juros que seriam utilizadas como hipótese para as projeções a serem analisadas. A taxa neutra é uma variável não observável, sujeita a grande incerteza na estimação. Observa-se tanto um debate doméstico quanto global sobre a dinâmica corrente da taxa neutra de juros. Nas variações de curto prazo, costuma-se enfatizar movimentos de produtividade ou resultados fiscais, que impactam a poupança doméstica. Para as variações de longo prazo, destacam-se temas relacionados à demografia, à produtividade e à taxa de poupança global.

 

“Em função da incerteza intrínseca e da própria natureza da variável, o Comitê reforçou que a taxa neutra não é uma variável que deve ser atualizada em frequência alta e que tampouco deveria ter movimentos abruptos, salvo em casos excepcionais. Nesse contexto, o Comitê elevou marginalmente a hipótese de taxa de juros real neutra em seus modelos para 4,75%. Mais ainda, como parte de seu debate, o Comitê avaliou cenários com taxa neutra entre 4,5% e 5%, uma vez que muitos modelos apresentados indicam valores nesse intervalo”.

 

Fiscal

 

O Comitê reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade.

 

O Comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária. “Políticas monetária e fiscal síncronas e contracíclicas contribuem para assegurar a estabilidade de preços e, sem prejuízo de seu objetivo fundamental, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego”, completa.

 

Dylan Della Pasqua / Agência CMA

 

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