Atuação na crise ajudará Petrobras na meta de desalavancagem

1981

São Paulo – Após um choque inicial devido à pandemia do coronavírus e à crise no mercado internacional de petróleo, a Petrobras deve ter um segundo semestre mais estável e caminhar em direção ao plano de redução da alavancagem e de vender ativos considerados menos estratégicos para a companhia, como a área de refino e campos maduros em bacias terrestres.

Na visão de analistas consultados pela Agência CMA, a rápida recuperação da empresa diante do cenário conturbado do segundo trimestre deste ano mostra que será possível manter a alavancagem abaixo dos US$ 90 bilhões neste ano, e em 2021 caminhar em direção à meta de US$ 60 bilhões, considerada ideal pela direção da empresa.

Segundo o analista da Ativa Investimentos, Ilan Albertman, as ações da empresa na gestão da crise até aqui mostram que há um forte comprometimento com a desalavancagem, o que será fundamental para a empresa atingir as metas estabelecidas no plano.

“Existe, sim, por minha parte o entendimento que a Petrobras entende o contexto que ela está inserida e vai buscar esse ponto do plano quinquenal de 2019 a 2024, que é o atingimento do patamar de dívida bruta que permita distribuir mais dividendos do que o mínimo de 25%”, diz Albertman.

Segundo ele, caso o cenário de preços do petróleo tipo Brent se mantenha no patamar atual, entre US$ 40,00 e US$ 50,00 neste ano, e a demanda siga numa trajetória de recuperação nos próximos meses, será possível ver uma situação confortável para a companhia já no segundo semestre de 2021.

“Em 2021, a melhora nas condições mercadológicas pode dar celeridade maior nesse processo, e no segundo semestre a Petrobras pode alcançar um patamar que ativaria distribuição mais forte de dividendos”.

Infográfico e criação: Adriana Fornereto

Para o consultor da área de petróleo e gás da Léggio Consultoria, Marcus D’Elia, a Petrobras tem duas situações que podem favorecer seu desempenho no segundo semestre. A primeira é que a empresa conseguiu manter seu patamar de exportação de petróleo, mesmo em meio à demanda mais fraca globalmente, e o segundo é que a área de derivados começa a se recuperar de forma mais intensa do que o previsto em meados de março e abril, quando o cenário para o mercado de petróleo ainda estava pouco claro.

“A empresa tem conseguido passar bem pela crise e, apesar do momento, tem duas boas notícias, que são a manutenção da exportação e a melhora nos derivados”, afirmou D’Elia.

Contudo, o consultor da Léggio Consultoria alerta que a estatal ainda terá que lidar com um cenário de preços entre US$ 40,00 e US$ 50,00 o barril de petróleo, abaixo daquele previsto no final de 2019 e no início do ano, o que pode implicar em receitas menores em 2020.

“Manter os níveis atuais de endividamento será um bom resultado para este ano, devido à recuperação incompleta nos preços do petróleo”, afirmou.

O analista da consultoria Tendências, Walter de Vitto, acredita que os preços do petróleo nos patamares atuais devem se manter até meados de 2021, com um equilíbrio de curto prazo entre oferta e demanda. Dessa maneira, a Petrobras continuará com receitas menores do que as estimadas antes do duplo choque sobre o mercado de petróleo.

“Uma recuperação de receita nos próximos meses vai depender da estratégia da empresa. Talvez com uma distribuição maior no mercado interno. Ainda assim, algumas coisas permanecem incertas devido à possibilidade de piora no quadro da pandemia de coronavírus”, explica Vitto.

DESINVESTIMENTOS

Os analistas acreditam que o programa desinvestimentos será pouco afetado, uma vez que o processo de venda de participações e ativos fora do escopo da empresa não foi interrompido.

De acordo com eles, a crise no mercado mundial pode ter como efeito a descapitalização de alguns grupos que poderiam demonstrar apetite pelos ativos. Por outro lado, a desvalorização do real ante o dólar torna o preço mais convidativo.

Infográfico e criação: Adriana Fornereto

Para Vitto, a capacidade da Petrobras de vender ativos tem de ser avaliada caso a caso, já que cada empresa ou participação pode ter um significado diferente, tanto para a estatal, quanto para o potencial comprador.

“Alguns ativos são afetados diretamente pelo preço do petróleo, enquanto outros, como os de refino serão avaliados pelo volume de vendas, então as empresas também podem enxergar de forma diferente as oportunidades em função da rentabilidade”.

Já D’Elia acredita que em função destas condições os desinvestimentos podem ter um ritmo menor do que o esperado, mas sem uma interrupção total. “Acredito que ela consegue vender uma refinaria neste ano, mas esse não era o ritmo esperado que era de desinvestir quatro em 2020”.

Albertman, por sua vez, vê o programa de desinvestimentos como ponto essencial do projeto traçado pela atual diretoria, embora a crise possa trazer alguma dificuldade para a implementação. “Pode, sim, existir dificuldade maior em ativos que não sejam tão premium”.