São Paulo – A Bolsa fechou em queda de 2,06%, aos 111.439,37 pontos, em um dia de forte aversão ao risco atingindo patamares de março pela pressão das empresas ligadas às commodities com mais um recuo do minério de ferro na China e com os investidores reagindo mal ao decreto do presidente Jair Bolsonaro em elevar a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
O mau humor nas bolsas em Nova York também contribuiu para o movimento negativo por aqui em dia de vencimento de opções sobre ações e com os investidores optando por não ficarem posicionados para o fim de semana.
Para os analistas da Ativa Investimentos, a pressão imposta pelo setor de commodities e o aumento do IOF resultam na queda da Bolsa. “O mercado repercute negativamente a elevação do imposto para financiar a ampliação do Auxílio Brasil, bem como a aprovação da PEC dos precatórios, aguçando os temores por um buraco no teto de gastos”.
Os analistas da Ativa Investimentos também comentaram que existe uma cautela dos investidores por conta de uma desaceleração da economia chinesa com a repressão regulatória e a crise da dívida da megaincorporadora Evergrande.
O pessimismo de hoje fez a maioria das ações cair na sessão de hoje, com destaque para empresas ligadas às commodities.. Os papéis da Vale (VALE3) recuaram 2,02 e em um mês em média de 19%; CSN (CSNA3) perderam 4,73% e em um mês aproximadamente 25%; Usiminas (USIM5) desvalorizavam 5,30% e em um mês 22% e Gerdau (GGBR4) baixaram 6,59% e em um mês 14%. O pagamento de dividendos pela Vale (VALE3) no próximo dia 30 deste mês, no valor de R$ 40 bilhões, equivalente a R$ 8,10 por ação não contribuiu para alavancar os papéis da mineradora.
Os papéis da Petrobras tiveram forte recuo refletindo as declarações da véspera do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) sobre a insatisfação com os preços dos combustíveis. As ações da estatal (PETR3 e PETR4) caíram 4,56% e 4,48%, respectivamente. E os bancos foram “pressionados após o governo elevar a alíquota de IOF sobre operações de crédito”, afirmou o analista Régis Chinchila da Terra Investimentos. As ações caíram em bloco.
Nicolas Merola, analista de investimentos da Inversa Publicações, comentou que os fatores internos e global estão influenciando o mau humor do mercado. “Estamos em uma tempestade complicada. Mais um ruído interno com a questão do IOF leva as pessoas não quererem estar posicionadas em ações locais”.
As grandes companhias exportadoras de commodities, com peso no índice e ditas como ‘queridinhas’ dos investidores, estão sendo impactadas pelo ambiente global em mais um pregão de queda do minério. “Todas essas empresas que estão caindo hoje são muito dependentes do comércio com a China, que vive um processo de desalavancagem e pressiona o mundo”.
O analista de investimentos da Inversa Publicações ressaltou que os investidores “vem desfazendo posições” para passar o fim de semana mais tranquilos”.
Para Leonardo Santana, da Top Gain, o mercado está preocupado com a elevação do IOF “se vai ser suficiente para segurar para o aumento do novo Bolsa Família e o populismo de Bolsonaro”.
O dólar comercial fechou em R$ 5,2890, com alta de 0,43%. A moeda norte-americana subiu durante toda a sessão – com ênfase na manhã -, impactada pela receptividade negativa do mercado com o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), vista como uma manobra populista que visa as eleições de 2022.
De acordo com fonte ouvida pela CMA, “a notícia do IOF foi péssima. Não tem sentido aumentar imposto para financiar um projeto político, com a conivência do (ministro da Economia) Paulo Guedes”. A fonte ainda diz que Guedes também já entrou no “modo reeleição”.
“Isso dá perspectivas negativas para as reformas, não creio que elas serão aprovadas”, diz a fonte, que arremata: “É um governo que pensa mais em brigar do que em gerar empregos”.
Segundo o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otavio Leal, “no mundo perfeito, as soluções seriam outras, mas a situação política e econômica no Brasil é tudo, menos a ideal”. O economista disse que, dentre as opções como abrir um crédito “gigantesco” -, o aumento no IOF “não é das piores”. Na visão do economista, existe um “certo exagero” no câmbio: “O mercado está num viés tão ruim que qualquer notícia é negativa”, avalia Leal. O economista, porém, acredita que este aumento foi uma surpresa para o mercado.
“Um pedaço do IOF também será utilizado para cobrir a isenção de PIS e COFINS da importação de milho, que é a base para a ração animal. Isso pode frear o aumento dos preços do complexo de proteínas para estes animais”, pontua Leal.
De acordo com o head de análises da Top Gain, Leonardo Santana, “o câmbio não deve cair muito, ficando na faixa entre R$ 5,24 e R$ 5,29. Hoje é um dia tranquilo no mercado, que deve ter baixa volatilidade”.
Santana acredita que o dólar fica entre duas forças: “o fluxo cambial veio novamente positivo, forçando o câmbio para baixo, enquanto as notícias domésticas puxam o dólar para cima”, explica.
As taxas dos contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI) encerraram a sessão em alta, acompanhando o anúncio de aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) em operações de crédito e também seguindo a movimentação do dólar comercial. Investidores aproveitaram a sexta-feira para tomarem posições mais defensivas para passar o fim de semana.
Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 7,065%, de 7,035% no ajuste de ontem; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 9,04%, de 8,975%; o DI para janeiro de 2025 ia a 10,21%, de 10,13% antes e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,63%, de 10,55%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo negativo com os investidores em cautela à frente da reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) da semana que vem.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -0,48%, 34.584,88 pontos
Nasdaq Composto: -0,91%, 15.044,0 pontos
S&P 500: -0,91%, 4.432,99 pontos