São Paulo – Quando os membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) se reunirem amanhã e quinta-feira estará em jogo o estado da economia norte-americana, que se recupera em ritmo lento, assombrada pela segunda onda de covid-19 e pela falta apoio fiscal extra.
Nesse cenário, o poder de fogo do Federal Reserve (Fed) será colocado à prova e o banco central norte-americano deve sinalizar a disposição em agir com a ampliação de programas de apoio e compras de títulos em meio à taxa de juros próxima de zero.
Para este encontro, a grande aposta dos economistas é que o Fed reforçará mensagem de que todo o seu arsenal será usado se necessário para mitigar os efeitos do aumento de casos do novo coronavírus nos Estados Unidos, mas uma ação concreta só deve vir em dezembro.
“Suspeitamos que o Fed vai segurar seu poder de fogo na reunião desta semana. O banco central norte-americano tem espaço para aumentar as compras de títulos, se necessário, e vários programas de apoio podem ser ativados. Dito isso, se a economia começar a desacelerar, como é provável, as perspectivas de ação em dezembro aumentam”, afirmou o economista sênior da Mizuho, Colin Asher.
Diferente das outras vezes, os membros do Fomc se reunirão um dia depois do habitual em função da eleição presidencial que acontece hoje. No entanto, poucos acreditam que o evento tenha alguma influência sobre a decisões do banco central norte-americano, pelo menos no curto prazo.
“O banco central dos Estados Unidos ainda estará na vanguarda não apenas da resposta política norte-americana, mas também da resposta política global nas próximas semanas e meses. O Fed também precisará atuar como uma ponte para novas medidas fiscais, seja qual for o resultado desta eleição”, afirmou o economista sênior de mercados da CMC Markets, Michael Hewson.
Para o economista sênior da Capital Economics para os Estados Unidos, Andrew Hunter, a reação dos mercados pode ditar o ritmo de ação do Fed nas próximas semanas e meses.
“O resultado da eleição pode influenciar a política do Fed nos próximos meses, mas isso dependerá em parte da reação dos mercados. Se uma alta nos juros de longo prazo dos títulos do Tesouro, com base nas esperanças de estímulo, causar um aperto nas condições financeiras, por exemplo, isso poderia convencer as autoridades a aumentar suas compras de ativos”, afirma Hunter.
COMPRA DE ATIVOS NO TOPO DA LISTA
Espera-se que o Fomc mantenha o pé do freio na reunião que começa amanhã, mas as condições econômicas em geral, e a inflação especificamente, podem pressionar seus membros a anunciar medidas acomodatícias nas próximas reuniões.
As projeções apresentadas em setembro mostraram que os membros do comitê esperavam uma recuperação um pouco mais forte do Produto Interno Bruto (PIB) e do mercado de trabalho em comparação com junho. Além disso, a maior parte do comitê não espera que a inflação atinja sua meta de longo prazo de 2,0% até 2023.
“A janela para outro pacote fiscal em janeiro próximo está se fechando rapidamente. Além disso, mesmo se os legisladores conseguissem entregar um acordo em breve, uma espera de três anos para que a inflação volte a 2,0% pode ser muito longa para alguns membros do Fed. Portanto, é provável que o Fomc analise com mais atenção maneiras adicionais de apoiar a recuperação já neste encontro”, afirmou o economista-chefe do Wells Fargo, Jay H. Bryson.
No topo da lista de ações futuras do Fed está a compra de ativos. Atualmente, o banco central norte-americano tem adquirido cerca de US$ 80 bilhões em títulos do Tesouro e US$ 40 bilhões em títulos lastreados em hipotecas (MBS) a cada mês.
“Muitos membros do comitê basearam suas projeções mais recentes em mais estímulos fiscais, e com o caminho para um acordo é longo e incerto, o Fomc pode concluir que qualquer aumento nos juros dos Treasuries é um aperto injustificado nas condições financeiras, caso em que esperamos que o Fed aumente o ritmo de suas compras mensais de ativos em grande escala”, afirmou Hunter, da Capital Economics.
Bryson, do Wells Fargo, lembra que os juros dos Treasuires permanecem extraordinariamente baixos, atenuando o impacto das compras adicionais no momento.
“Com a perspectiva tênue para a inflação, o Fomc pode se sentir compelido a fazer algo em breve, e pode potencialmente anunciar um aumento nas compras de ativos já na reunião subsequente, em 15 e 16 de dezembro”, afirmou ele.
Embora essas aquisições estejam sendo realizadas, em parte, para ajudar no funcionamento do mercado, a principal intenção de compras de ativos adicionais neste momento seria atingir as metas de emprego e inflação do comitê, segundo os economistas, por isso, as próximas operações devem estar focadas nos papéis de prazo mais longo.