B3 buscará expansão de negócios e clientes por meio de sinergias com plataformas digitais

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São Paulo – A B3 avalia que o mercado mudou de patamar, com maior relevância das plataformas digitais na distribuição de produtos para vários segmentos e no crescimento de agentes autônomos impulsionando os investidores pessoas físicas.A companhia disse que buscará ampliar ganhos com oferta de soluções baseadas em dados, para o mercado de ativos digitais e investidores Pessoa Física e institucionais em 2023.

“O ano foi difícil para renda variável, com juros altos, mas o ADTV de pessoas físicas se mostrou resiliente, assim como o institucional local. Mais fundos estão operando o mercado de renda variável e a indústria tem sofisticado sua posição”, disse o CEO da B3, Gilson Finkelsztain, presidente da B3, na reunião anual da companhia com o mercado, o “B3 Day”, na tarde desta segunda-feira.

A B3 avalia que pode ampliar sua oferta de serviços para plataformas de negociação de corretoras e bancos de investimento por meio da oferta de soluções nas seguintes frentes: white label e broker as service para corretores autônomos; microsserviços de ordens e faturamento; Hub Buy Side e produtos que facilitem a vida do investidor buy side; e APIs de Investing aas, em que o cliente investe em outras plataformas.

Em setembro de 2022, a B3 registrava 4,6 milhões CPFs ativos com 5,4 milhões de contas abertas, ante 3,3 milhões e 4 milhões em setembro de 2021.

Segundo Finkelsztain, os clientes PF diversificam mais as aplicações e fizeram pelo menos um negócio no mês, resultado do trabalho dos investidores autônomos de varejo.

A B3 informou que o turnover da B3 passou de 102% em 2029 para 160% no acumulado de 2022, o que na visão da companhia, mostra resiliência de sua operação. No ano, a B3 registra queda de 14% no volume médio diário negociado (ADTV), abaixo do registrado pelas bolsas KRX (-47%), HKEX (-36%), DBG (-16%) e Shanghai (-14%), mas acima de JPX (-11%), Shenzen (-9%), Euronext e Nasdaq (+5%), TMX (+6%) e ASX (+9%).

A B3 disse que tem uma visão de longo prazo e busca o desenvolvimento do mercado, para atrair o público que investe em poupança e renda fixa. “O nosso market cap é um dos mais baixos do mundo, em comparação com outros mercado”, disse. Atualmente o market cap da B3 é de 63%.

Para alcançar esse crescimento, o presidente da B3 disse que está buscando redução de latência, foco em ampliação de produtos internacionais – hoje oferece a alternativa do investimento em brazilian depositary receipts (BDRs, recibos de ação de empresas estrangeiras negociados no mercado brasileiro), para evitar que as cias brasileiras listem seus papéis somente no exterior.

Outra iniciativa para ampliar mercado será buscar formar de atuar com pequenas e médias empresas, tokenização de ativos tradicionais e extensão de horário. “Temos oportunidade de expandir o horário de negociação de alguns produtos”, disse o presidente da B3.

Já o investidor não residente HFTs e grupos proprietários de trading aumentam o volume de negócios, geram liquidez e são mais relevantes que qualquer fee ou tarifa e a B3 quer ampliar a entrada desses investidores.

O presidente da B3 disse que a companhia tem feito um trabalho para se aproximar do segmento de clientes de alta frequência.

“O HFT faz uma ponte entre o comprador e o vendedor. Queremos olhar a qualidade de aplicação desse investidor e faremos lançamentos para avaliar a performance desses clientes”, explicou Juca Andrade, vce-presidente de Produtos e Clientes da B3.

No segmento institucional local, Finkelsztain disse que crescimento da indústria nos últimos anos e potencial de equities nos fundos, com redução de tarifas.

“Há uma tendência de diversificação e busca de multimercados na indústria de fundos de renda variável no Brasil. Também temos uma estrutura dedicada para atendimento aos clientes de by-side e de pós-venda, que é um dos detratores do nossos NPS”, explicou.

MERCADO DE BALCÃO

A B3 disse que o mercado ADTV secundário de debêntures cresceu perto de 50% no ano, de R$ 600 milhões em 2019 para R$ 1,6 bilhões em 2022, com expansão também de CRIs, CRAs e mercados corporativos de dívida (DCM, na sigla em inglês).

“A B3 se adapta à necessidade do cliente para atuar no segmento balcão. Nossos pilares estratégicos nesse segmento serão a inovação, com soluções tecnológicas, ter um atendimento mais ágil, oferecer arquitetura de [plataformas] de negociação e nuvem flexível ao que o cliente já utiliza”, detalhou o CEO da B3.

A B3 citou entre suas novas iniciativas usar a sua capacidade de negociação à necessidades dos investidores.

DADOS

A B3 buscará tangibilizar seu acesso a diversos dados aos da Neoway, que já captava informações de seus clientes. A sinergia entre os dados das duas empresas será utilizada para gerar oportunidades de monetização, seja por oferta de análises e serviços, como gestão de risco ou soluções customizadas às necessidades dos clientes.

A B3 também comprou a Neurotech com foco em ampliar sua atuação no mercado de oferta de dados.

A Neoway oferece capilaridade de coleta de dados, agilidade no desevolvimento de produtos. “Os clientes da Neoway indicaram que gostavam muito do produto e isso foi determinante para a decuisão de investir, por que o cheque foi alto.”

Sobre a Neurotech, a B3 disse que poderá oferecer soluções de crédito, cobrança e seguros que podem gerar ganhos financeiros com redução de perdas e sinistralidade de carteira de veículos. Outro ganho com a operação é o aumento da capilaridade, pois além de empresas do setor financeiro, ela atende segmentos como o de telecomunicações e farmacêutico.

TOKENIZAÇÃO

O ano atual foi de construção da operação da B3 como infraestrutura de ativos digitais. A B3 está em estágio pré-operacional para atuar nesse mercado e disse que buscará venderserviços de forma modular, para empresas que queiram tokenizar seus ativos, por exemplo.

“Queremos ser um provedor para oferecer alternativas de serviços para os clientes que queiram utilizar a nossa infraestrutura”, resumiu o presidente da B3.

INTERNALIZAÇÃO DE ORDENS

A B3 discute com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre a internalização de ordens e buscará ampliar a negociação com o regulador por meio de debates e estudos para avaliar se o mercado brasileiro é apropriado para isso, quem se beneficia da internalização irrestrita e quem se prejudica, quais são os impactos da concentração da distribuição e das tarifas (fee) e custos totais de transição, entre outros pontos.

“O que é o trade off? Tirar liquidez é positivo ou negativo? Todas essas discussões são bons pontos de partida para debatermos no ano que vem”, disse Finkelsztain.

O posicionamento da B3 é contra a internalização irrestrita, mas não contra a internalização e refuta a ideia de que a internalização seja uma forma de aumentar a competição nesse mercado. “A discussão é válida e deve ser feita com apuro técnico para ver o que é mais adequado para o mercado interno”, concluiu.

ACIONISTAS APROVAM AQUISIÇÃO DA NEUROTECH

A B3 disse que a aquisição da Neurotech foi aprovada em assembleia de acionistas realizada hoje e que os números da transação serão incorporados às projeções da companhia para 2022, disse André Milanez, diretor financeiro da B3, na reunião anual da companhia com o mercado, o “B3 Day”, realizado na tarde desta segunda-feira.

A operação ainda depende da verificação de outras condições usuais para esse tipo de transação, incluindo sua aprovação pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

A assinatura do contrato para comprar a Neurotech foi anunciada em 10 de novembro, quando a B3 informou que desembolsará R$ 620 milhões na data de fechamento da operação, além de valores de earnout atrelados ao atingimento de determinadas metas de desempenho da companhia nos próximos quatro anos.

A Neurotech é uma empresa de tecnologia especializada na criação de sistemas e soluções de inteligência artificial, machine learning e big data e a operação é uma estratégia da B3 paracomplementar sua oferta de produtos de dados e soluções analíticas para o mercado, nas verticais de crédito, riscos e seguros.

Na assinatura do contrato, a B3 disse que os recursos para o pagamento seriam provenientes do caixa livre da B3, sem alteração nas projeções de endividamento e payout divulgados em 11 de agosto de 2022.

No B3 Day, Milanez comentou o “guidance” da companhia divulgou em 8 de dezembro para o ano que vem. A empresa manteve as projeções para 2022 de despesas ajustadas (R$ 1,280-1,380 bilhão) e investimentos (R$ 200-250 milhões) do seu negócio principal e dos mesmos indicadores para as novas iniciativas (R$ 585-665 milhões e 200-250 milhões), enquanto as despesas atreladas ao faturamento previstas estão na faixa de R$ 585-665 milhões e as despesas atreladas ao faturamento em R$ 265-325 milhões.

Em 2022, a B3 prevê depreciação e amortização no intervalo entre R$ 1,050-R$ 1,130 bilhão, alavancagem de 1,9 vez e distribuição do lucro líquido de 110% a 140%.

Em 2023, a B3 tem previsão de distribuir aos acionistas de 110% a 140% do lucro líquido. O percentual inclui dividendos, juros sobre o capital próprio, recompras e outros. Os desembolsos totais devem ficar entre R$ 2,4 bilhões e R$ 2,7 bilhões.

Os investimentos em 2023 devem ficar entre R$ 20 milhões e R$ 60 milhões em novas iniciativas e negócios. Na operação principal da companhia, os investimentos serão de R$ 180 milhões a R$ 230 milhões.

Já as despesas ajustadas no core business devem ficar entre R$ 1,4 bilhão e R$ 1,5 bilhão, e as despesas com novos negócios devem ficar entre R$ 595 milhões e R$ 665 milhões.

A alavancagem financeira, que considera a relação entre a dívida bruta e o Ebitda (Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, da sigla em inglês) recorrentes dos últimos 12 meses, deve ficar em 1,9x.

A estimativa para depreciação e amortização deve ficar R$ 975 milhões a R$ 1 bilhão.