B3 mantém projeções para 2022 mesmo com aumento de juros

771

São Paulo – A B3 manteve suas projeções para 2022 anunciadas em dezembro, quando informou que pretende investir em novas iniciativas e negócios de R$ 380 milhões a R$ 440 milhões em 2022, um aumento de cerca de 64% em relação a 2021, para o qual a previsão era de R$ 240 milhões a R$ 260 milhões, da qual realizou R$ 327 milhões, segundo dados apresentados ontem (17/3).
Na teleconferência de resultados do quarto trimestre, realizada na manhã desta sexta-feira, o atual vice-presidente financeiro e de relações com investidores da B3, Daniel Sonder, disse que a companhia “trabalha com as melhores estimativas de inflação disponíveis” ao calcular seu guidance e que a maior despesa prevista será com pessoal, o que deve ocorrer no dissídio que ocorre na segunda metade do ano. A afirmação foi feita em resposta a questionamento sobre o impacto do aumento de juros na estimativa de despesas da companhia.
No último trimestre do ano passado, a despesa ajustada da companhia subiu 13,1% para R$ 386,4 milhões ante o mesmo intervalo de 2020, sendo que a despesa com pessoal foi de R$ 223,9 milhões, 24,5% acima da mesma base, devido a correção anual do valor dos salários e contratações.
Em seu guidance, a B3 informa que o principal desembolso para 2022 é o das despesas ajustadas no negócio principal, que incluem projeção de R$ 1,28 bilhões a R$ 1,38 bilhões, ante R$ 1,2 bilhão realizado em 2021. Já as despesas de faturamento ficaram entre R$ 255 milhões e R$ 305 milhões, de R$ 258 milhões no ano passado. Com isso, os desembolsos totais da empresa devem ficar entre R$ 2,115 bilhões e R$ 2,375 bilhões. Em 2021, a empresa aplicou R$ 2,035 bilhões da expectativa de R$ 1,94 bilhões a R$ 2,07 bilhões.
O executivo disse que o guidance de distribuição de lucro líquido definido para o ano (110% a 140%) permite combinar programa de recompra de ações e distribuição de juros sobre capital próprio e dividendos, com a possibilidade de ajustes de acordo com a geração de caixa e resultados do ano.
Em termos de funding, Sonder disse que tem recursos suficientes em caixa mas que avalia fazer novas captações via emissão de debêntures.
O executivo deixará a companhia após nove anos e será substituído por André Veiga Milanez, atual diretor financeiro e que está na B3 desde 2009.
A expectativa da B3 para os investimentos no seu negócio principal (core business) foi mantida em R$ 200 milhões a R$ 250 milhões para este ano, uma retração de cerca de 30% à previsão deste ano. Em 2021, a B3 investiu R$ 327 milhões no segmento.
A depreciação e amortização projetada para 2022 ficou entre R$ 990 milhões e R$ 1,045 bilhão, de R$ 1,057 bilhão em 2021. Esse valor inclui amortização de intangíveis e mais valia.
A companhia prevê alavancagem financeira de 1,6 vez em 2022, de 2,0 vezes em 2021 e distribuição de lucro líquido na faixa de 110% a 140%, de 127% em 2021.
RESULTADOS
O lucro líquido da B3 diminuiu 0,5% no quarto trimestre de 2021, para R$ 1,1 bilhão, enquanto a receita líquida encolheu 4,2%, para R$ 2,4 bilhões. O lucro líquido recorrente atingiu R$1,2 bilhão, aumento de 6,0% em relação ao 4T20.
“Vale notar que as receitas no 4T20 foram impactadas positivamente por reversão de provisões não recorrentes -sem essas reversões, as receitas deste trimestre teriam sido em linha com o 4T20”, explicou a B3, em seu relatório de resultados.
Em termos ajustados, que removem do resultado despesas ou ganhos não recorrentes, o lucro da B3 subiu 6,0% no quarto trimestre de 2021, para R$ 1,2 bilhão.
O ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) diminuiu 11,2%, para R$ 1,6 bilhão. Em termos ajustados, o ebitda diminuiu 4,3%, para R$ 1,7 bilhão.
A despesa da B3 cresceu 12,2%, para R$ 810,3 milhões negativos. Em termos ajustados, que excluem depreciação e amortização, programas de incentivo baseados em ações, provisões e gastos atrelados ao faturamento, a despesa subiu 13,1%, para R$ 386,4 milhões negativos.
A administração da B3 disse que o cenário macro no quarto trimestre foi marcado pela contínua alta da inflação nos principais mercados globais e pelo receio com a nova variante do coronavírus. No Brasil,a pressão inflacionária foi intensificada pelo aumento nos preços de energia e commodities e pela desvalorização do real frente ao dólar, refletidos em ajustes na política monetária do país com consequentes altas na taxa de juros.
“Nesse cenário de incertezas, a B3 continuou apresentando altos volumes negociados em suas plataformas. No segmento de ações, o ADTV totalizou R$31,5 bilhões, estável em relação ao 4T20. O número de contas na depositária atingiu 5 milhões em dezembro, crescimento de 54% em relação ao fim de 2020. No segmento de derivativos listados, o ADV totalizou 4,3 milhões de contratos, em linha com o 4T20”, comentou.
O aumento da volatilidade no mercado de capitais local levou a uma queda no número de ofertas públicas, com 1 IPO e 2 follow-ons acontecendo no período, totalizando R$3,6 bilhões.
Em linha com a estratégia de oferecer novos produtos e serviços para os clientes, a companhia destacou os seguintes avanços ao longo do trimestre: no segmento de ações, mais de 15 Fiagros (Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais), nova categoria de FIIs focados na aplicação em ativos de investimentos do agronegócio; em derivativos listados, o novo contrato Futuro de Soja Brasil, com a referência de preço de exportação no porto de Santos e desenvolvido em parceria com a Chicago Mercantile Exchange (CME).
Outro destaque no trimestre foi o desenvolvimento da negociação de contratos futuros referenciados nos índices que acompanham grandes empresas da Europa: o Euro Stoxx 50, composto pelas principais companhias da zona do euro, e o DAX, que reúne as 40 maiores empresas da bolsa de Frankfurt.
No segmento de balcão, a B3 deu início aos serviços de negociação e depósito de notas comerciais escriturais, um título de dívida corporativa que pode ser emitida por sociedades anônimas, limitadas ou cooperativas.