Banco Central Europeu deve elevar taxas de juros em 0,25 pp nesta semana

742

São Paulo – O Banco Central Europeu (BCE) deve anunciar mais um aumento das taxas básicas de juros na próxima quinta-feira (15), em resposta à inflação persistente acima da meta na zona do euro. O mercado precifica uma alta de 0,25 ponto percentual (pp), que levará a taxa de depósitos a 3,5%.

A região enfrenta um novo fenômeno de alta na inflação dos serviços, que é impulsionada pelo crescimento dos salários e pelo repasse dos custos pelas empresas aos consumidores. Essas novas pressões inflacionárias deverão manter o núcleo do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) elevado até o final deste ano, que pode chegar a cerca de 4% em dezembro, o dobro da meta de 2% do BCE a médio prazo.

Christian Schulz, economista-chefe-adjunto para a Europa do Citi, observa que “no atual contexto de gastos elevados com serviços, como turismo, é esperado que o núcleo da inflação na zona do euro atinja 5,6% em junho e se mantenha alto até setembro, chegando a 5%. Há perspectivas positivas para um aumento no número de visitantes internacionais em Portugal, Espanha, Itália e Grécia nos próximos meses”.

Com base nesse cenário, vários economistas veem as reuniões de junho e julho como uma preparação para uma possível mudança de direção na decisão que ocorrerá em setembro. Rainer Singer, economista do Erste Bank, afirma que “não vejo grandes desafios na próxima reunião. Acredito que a atual postura política deva ser mantida”.

Após dois movimentos de aumento de 0,25 pp neste mês e no próximo, espera-se que a taxa de depósito permaneça em 3,75% por aproximadamente um ano, a fim de garantir uma redução sustentável da inflação, que está mais de três vezes acima da meta estabelecida. Economistas consultados pela Bloomberg preveem que o pico das taxas de juros ocorra em julho.

Segundo Sam Cartwright, economista do banco Société Générale, o BCE planeja aumentar os juros em setembro em 0,25 pp, seguindo dois aumentos semelhantes em junho e julho. Cartwright destaca que a inflação na zona do euro, impulsionada principalmente pelo setor de serviços, tende a permanecer resistente no curto prazo. Ele estima que o núcleo do índice de preços ao consumidor atingirá 4,1% em dezembro.

O economista afirma que “o BCE deve elevar os juros para 4% em setembro, mantendo a ancoragem das expectativas”. Ele prevê uma redução modesta no núcleo do índice em 2024, chegando a 2,6% no final do ano, e ressalta que o BCE não planeja reduzir os juros no próximo ano, mas apenas em 2025.

Antonio Villarroya, responsável pela área macro e de estudos estratégicos do Santander Corporate Investment Banking (CIB), acredita que o BCE observará uma gradual redução da inflação em setembro, quando divulgará as projeções macroeconômicas para o segundo semestre. Essas estimativas deverão mostrar que o índice de preços ao consumidor retornará à meta de 2% no longo prazo, levando o BCE a encerrar o ciclo de aumento de juros com uma taxa de 3,75% ao ano.

Após os aumentos nas taxas de juros, as autoridades pretendem manter esse nível de custos de empréstimos por um período prolongado, a fim de evitar a ressurgência dos preços. No entanto, essa transição poderá apresentar desafios.

Carsten Brzeski, responsável pela macroeconomia do ING, destaca que “o maior desafio para o BCE é como comunicar qualquer mudança de ‘quão alto’ para ‘quanto tempo’. Conforme nos aproximamos do fim do ciclo de aperto, a comunicação e a estratégia de transição serão cruciais”.

Os economistas não esperam grandes alterações nas perspectivas. Embora possam ocorrer algumas revisões para este e o próximo ano, as previsões para 2025 provavelmente permanecerão semelhantes.

Piet Christiansen, estrategista-chefe do Danske Bank, afirma que “o mercado estará atento às estimativas fornecidas pelo BCE, pois as novas projeções da equipe serão fundamentais para estabelecer a linha de base dessas estimativas”.

Além dos preços, os empréstimos bancários, as condições de crédito e a demanda também indicam que o processo de aperto do BCE está surtindo algum efeito, embora o desemprego continue a cair em meio à escassez de trabalhadores.

Chris Hare, economista sênior para a Europa do banco HSBC, destaca que “a alta da inflação na zona do euro reduziu a renda disponível dos consumidores, mas também gerou um ciclo restritivo da política monetária devido ao aumento das taxas de juros pelo BCE, que passaram de -0,50% para 3,25% até o momento. Isso, por sua vez, afetou as condições de crédito”.

O conselho do BCE enfrentará o desafio de equilibrar a queda da inflação atual, o enfraquecimento do crescimento do crédito, o crescimento persistente dos salários e a inflação nos serviços.

Veronika Roharova, responsável pela economia da zona do euro no Credit Suisse, ressalta que “equilibrar esses fatores é crucial. A surpreendente resiliência do mercado de trabalho e o crescimento dos salários podem aumentar a rigidez da inflação subjacente e exigir um aperto ainda maior”.