Banco Central sabe consumir dados do Focus, diz Galípolo

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GALIPOLO: Banco Central sabe consumir dados do Focus

São Paulo – O diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo disse hoje que o Banco Central (BC) tem dado maior peso às previsões do Boletim Focus, pesquisa que é respondido por instituições econômicas a respeito de indicadores futuros. Segundo o economista, o BC teria mudado a maneira de consumir os dados que são fornecidas pela Focus.

Galípolo disse, ainda, que conforme a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada mais cedo, o BC não vai fazer projeções, ou direções dos próximos passos do comitê, porque deve continuar adotando postura data dependente. O economista conversou hoje mais cedo com o economista-chefe, Felipe Salto, e o estrategista-chefe, Sergio Goldenstein, ambos da Warren Investimentos.

“A Pesquisa Focus, na verdade, ela colabora e muito – e a gente tem que ser grato a todos aqueles que se dispõem ali a responder o questionário pré-copom ou a Pesquisa Focus- , porque são um subsídio muito importante na formulação da política monetária. Institucionalmente há um aprendizado ao longo do tempo e o Banco Central sabe consumir esses dados.”

“Eu sei que a palavra ‘polarização’ ficou meio manjada, mas talvez da maneira como a gente está aprendendo a trabalhar com as novas formas de sociabilidade das redes sociais, às vezes falta alguma mediação: Você vai pro extremo, ou aquilo é tudo, ou aquilo é nada. Não se trata disso, tem muita coisa no meio aí entre você só usar aquilo e você descartar aquilo”, esclareceu.

o diretor explicou que o que um dos temas que vinha mais incomodando o comitê foi assistir, a partir da repressificação da política monetária norte-americana, com a postergação dos cortes e a mudança do orçamento para 2024, uma valorização do dólar. “O que colocava – e coloca – a gente numa situação mais delicada é você assistir a elevação da taxa de juros e ainda assim um processo de desancoragem que continuava.”

“Então”, comenta ele, “o fato de estar dando mais ênfase ao tema das expectativas é menos sobre uma mudança sobre a forma de consumir o Focus, e mais pelo fato de que entre os elementos, ele era um dos elementos que estava mais incomodando”, diz

“Naquele momento, efetivamente, tem uma preocupação que decorre desse incômodo. Acho que eu não posso falar em nome do comitê: eu sinto que na maior parte dos diretores, na totalidade dos diretores, esse incômodo sobre a desancoragem. Então, por isso que a gente tem um pouco mais de Focus. ” explicou.

“Isso não quer dizer que foi a única coisa que foi levada em conta, como a gente comentou aqui. Olhando os números, a gente vê uma mudança de cenário em vários elementos – como câmbio, taxa de juros futura, por inflação implícita, dinamismo de mercado de trabalho – que nos levaram à tomada de decisão que a gente teve agora mais recentemente.”

O diretor disse, ainda, que, no ano passado, quando as taxas e juros norte-americanas subiam, muitas pessoas fizeram críticas sobre os comentários dele e do presidente do BC, Roberto Campos Neto, sobre a economia internacional, e que “isso estaria gerando uma maior correlação entre a curva do Brasil de juros e a curva internacional.”

“Na verdade, o que a gente está tentando fazer é ser transparente. Com o mercado e com os agentes, sobre o que nós estamos olhando [para tomar decisões sobre as taxas de juros.]”

Durante toda a entrevista, quando questionado sobre qualquer projeção ou sua visão ou cálculo sobre Selic (taxa básica de juros), inflação ou relação real/dólar, Galípolo foi firme ao repetir o que, segundo ele, o Copom quis comunicar na manhã de hoje: o BC não vai fornecer guidance.