Bancos e melhora no cenário externo fazem Bolsa subir; dólar cai

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São Paulo – Após dois pregões seguidos de queda, o Ibovespa encerrou em alta de 2,50%, aos 97.919,73 pontos, na maior alta percentual desde o dia 1 de setembro (+2,82%) e no maior nível de fechamento desde 18 de setembro (98.289,71 pontos). A puxada do setor bancário e a melhora de Bolsas no exterior impulsionaram o índice, ajudando a ofuscar incertezas sobre a situação fiscal doméstica, com o mercado também se conformando que o programa Renda Cidadã deve mesmo ficar para depois das eleições municipais.

O economista-chefe do banco digital Modalmais, Alvaro Bandeira, destacou que foi importante o Ibovespa manter os 97 mil pontos, até se aproximando dos 98 mil pontos, que tem sido o teto na faixa na qual tem negociado recentemente, embora acredite que será difícil manter a recuperação.

“O dia de hoje foi razoável, com o Ibovespa conseguindo manter os 97 mil pontos e com grande destaque do setor bancário. O cenário lá fora também está sendo um pouco mais positivo, mas não há muita firmeza nesse movimento, enquanto o governo não falar o que vai fazer para não comprometer mais a situação fiscal”, disse.

Para o operador de renda variável da Commcor Corretora, Ari Santos, por sua vez, depois de alguns dias mais negativos e voláteis em função do risco fiscal, investidores voltaram a olhar para papéis considerados mais baratos, como os de bancos, além de um relatório do UBS ter mostrado uma avaliação positiva sobre os resultados do terceiro trimestre do setor, embora veja margens menores.

“Já estava na hora de o Ibovespa tentar uma recuperação e, segundo o UBS, os bancos devem ter lucro por ação 16% maior no terceiro trimestre do que no segundo trimestre, com a inadimplência tendo pequeno impacto”, afirmou.

Entre os preferidos do UBS, estão as ações do Itaú Unibanco (ITUB4 5,99%), que ficaram entre as maiores altas do índice, ao lado do Santander (SANB11 7,58%), do Bradesco (BBDC3 5,44%; BBDC4 4,98%) e do IRB Brasil (IRBR3 20,49%). As ações do IRB mostram forte volatilidade nos últimos dias e buscaram recuperar as perdas de ontem, quando recebeu uma recomendação negativa, de venda, também do UBS.

No exterior, Bolsas avançaram com esperança de novos estímulos fiscais nos Estados Unidos, já que ontem o presidente Donald Trump recuou de sua posição anterior de não negociação e se mostrou aberto à aprovação de estímulos fiscais em diversos pequenos pacotes separados (para famílias, empresas aéreas, etc). No entanto, a presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, manteve dúvidas no ar e disse que não haverá um projeto de estímulos independente para companhias aéreas, o que chegou a fazer as Bolsas do país reduzirem a alta.

Já na cena doméstica, o senador Marcio Bittar (MDB-AC) confirmou à Agência CMA que a apresentação do programa Renda Cidadã ficará para depois das eleições, em busca de um consenso. “Talvez seja melhor esperar para que o governo apresente uma proposta mais estruturada e não volte mais atrás. Houve também sinalização que o programa vai respeitar o teto de gastos, há uma paz momentânea”, disse o operador da Commcor.

Na agenda de indicadores de amanhã, investidores devem ficar atentos ao índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) sobre a atividade do setor de serviços da China, enquanto nos Estados Unidos serão divulgados os estoques no atacado. Já no Brasil, o destaque é o Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

O dólar comercial fechou em queda de 0,60% no mercado à vista, cotado a R$ 5,5890 para venda, em sessão de forte volatilidade, com o mercado doméstico reagindo à confirmação de que a apresentação da proposta do programa Renda Cidadã ficará para depois das eleições municipais, no mês que vem. Lá fora, uma correção ante a divisa norte-americana favoreceu o desempenho das moedas de países emergentes refletindo na moeda local.

“Embora [o dólar] tenha operado pontualmente em alta pela manhã, na segunda parte dos negócios, o bom humor externo reverberou aqui, com um recuo importante ante o real”, comenta o diretor da Correparti, Ricardo Gomes.

Ele acrescenta que o pano de fundo para a melhora no exterior é a possibilidade de as negociações entre republicanos e democratas serem retomadas para o acerto de um pacote de ajuda a setores importantes da economia norte-americana, como o aéreo.

Para o diretor da corretora Mirae Asset, Pablo Spyer, as eleições presidenciais nos Estados Unidos começam a fazer preço nos ativos, principalmente no mercado de ações. “Agora, o mercado está à mercê das eleições lá e da possibilidade da aprovação do pacote de estímulo fiscal. Mas a agenda de indicadores pode ajudar a fazer preço amanhã”, reforça.

Na agenda de indicadores, o destaque fica para o resultado da inflação do Brasil, em setembro, no qual a previsão é de alta de 0,52% na comparação com agosto, segundo levantamento feito pelo Termômetro CMA. Hoje à noite, na volta do feriado prolongado na China, sai o resultado de setembro do índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) no setor de serviços. Amanhã, o viés de proteção local pode prevalecer à véspera do fim de semana prolongado com o feriado doméstico na segunda-feira.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam a sessão em queda, relegando os riscos fiscais e ajustando aos prêmios na curva a termo à oferta de títulos públicos, no tradicional leilão do dia, bem como às expectativas sobre o rumo da Selic, nesta reta final de semana com divulgação de indicadores econômicos domésticos relevantes. O comportamento do dólar e dos mercados no exterior ajudaram no movimento.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 3,19%, de 3,27% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 4,64%, de 4,77% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 estava em 6,56%, de 6,66%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,54%, de 7,58%, na mesma comparação.

A sombra que paira sobre a liberação de uma nova rodada de estímulos nos Estados Unidos não evitou que os principais índices do mercado de ações do país terminassem o dia em alta, com o S&P 500 atingindo seu maior patamar em um mês, depois que o presidente norte-americano, Donald Trump, manifestou apoio a ajudas individuais para pequenas empresas, para o setor aéreo e para os trabalhadores.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: +0,43%, 28.425,51 pontos

Nasdaq Composto: +0,50%, 11.420,98 pontos

S&P 500: +0,80%, 3.446,83 pontos