BC passa a prever inflação acima do teto em 2021, de 5,8%

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São Paulo – O Banco Central (BC) elevou a previsão para a inflação em 2021 em 0,8 ponto porcentual (pp), para 5,8%, segundo dados divulgados na edição de junho do Relatório Trimestral de Inflação (RTI). A previsão está 0,55 pp acima do teto da meta prevista para este ano.

Segundo o BC, a inflação em 12 meses deve atingir um pico de 8,4% no segundo trimestre por causa principalmente de um efeito estatístico, visto que a base de comparação do ano anterior é baixa em função da pandemia de covid-19 e das restrições à atividade que foram aplicadas na época.

“No segundo trimestre de 2021, a inflação acumulada em quatro trimestres não considera mais a deflação do segundo trimestre de 2020, mas incorpora ainda a recuperação do trimestre seguinte”, disse o BC.

A inflação do segundo trimestre deste ano também foi particularmente afetada pela mudança na bandeira tarifária de energia elétrica – para um patamar que gera mais custo aos consumidores.

O BC indicou que, apesar de prever que a inflação terminará este ano acima do limite de 5,25% e de ter elevado a probabilidade de romper este teto, ainda há chance de 26% de a alta de preços ficar dentro do limite previsto no regime de metas.

As projeções de inflação para 2021 aumentaram tanto para os preços administrados – de 9,5% para 9,7% (a mais alta desde 2015) – como para os preços livres – de 3,5% para 4,4%.

A previsão para a inflação em 2022 ficou estável em 3,5%, ficando no centro da meta, enquanto a projeção de inflação para 2023 teve queda de 0,2 pp, para 3,3%, e ficou 0,05 pp acima do centro da meta para o período.

As projeções divulgadas no RTI são calculadas com base nas previsões do mercado para a taxa básica de juros (Selic) nos períodos a que fazem referência e levando em consideração a taxa de câmbio partindo de R$ 5,05 por dólar e evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC).

PREVISÃO PARA PIB

O BC elevou a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano em 1 ponto porcentual (pp), para 4,6%, após um resultado melhor que o esperado para a atividade no primeiro trimestre.

“Adicionalmente, recuperação parcial da confiança dos agentes econômicos, medidas de preservação do emprego e da renda, prognóstico de avanço da campanha de vacinação, elevados preços de commodities e efeitos defasados do estímulo monetário indicam perspectivas favoráveis para a economia”, disse o BC no documento.

A instituição acrescentou que no segundo trimestre o PIB deve ficar praticamente estável, recuperando o ritmo de crescimento longo da segunda metade do ano. A previsão, porém, é cercada de dúvidas.

“Apesar da redução significativa dos riscos para a recuperação econômica, ainda há bastante incerteza sobre o ritmo de crescimento. Entre os fatores que podem diminuir a taxa de expansão destaca-se o risco de surgimento ou disseminação de novas variantes de preocupação do SARS-CoV-2”, disse o BC.

“Dificuldade para obtenção de insumos e custos elevados em algumas cadeias produtivas e eventuais implicações da crise hídrica na bacia hidrográfica do Paraná para a geração de energia elétrica são fatores adicionais que podem atenuar o ritmo de recuperação da atividade”, acrescentou.

CRÉDITO

O BC elevou a previsão de crescimento das operações de crédito no Brasil neste ano de 8,0% para 11,1%, dado o comportamento do estoque nos últimos três meses e a revisão da trajetória esperada para o crédito num contexto de maior atividade econômica, reedição do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) e de novas medidas de postergação de pagamentos.

“Os dados do mercado de crédito divulgados desde o último Relatório mostraram desempenho acima do esperado em todos os segmentos. Destaca-se a trajetória do crédito direcionado, que surpreendeu nas operações com pessoas físicas e pessoas jurídicas”, disse o BC na edição de junho do Relatório Trimestral de Inflação (RTI).

“Os financiamentos imobiliários impulsionaram o crescimento do saldo do crédito direcionado às famílias, com volume de concessões crescente. O crédito rural também surpreendeu, em linha com o bom desempenho do setor agrário, e tem mostrado expressiva elevação das operações contratadas com taxas de mercado. No crédito livre, destaque para o aumento nas contratações de pessoas jurídicas em março, principalmente nas linhas de desconto de recebíveis e financiamento às exportações”, acrescentou.

Nos financiamentos às empresas com recursos livres, a projeção para o aumento do estoque de crédito passou de 10,0% para 13,0%, considerando o maior crescimento econômico e perspectivas favoráveis para o setor exportador. Em relação ao crédito direcionado para as empresas, a projeção passou a ser de estabilidade, ante estimativa anterior de queda de 7,0%, porque agora contempla um novo aporte ao Fundo de Garantia de Operações (FGO), responsável por oferecer garantias às operações do Pronampe, assim como medidas pontuais de prorrogação de pagamentos.

No segmento de pessoas físicas, a projeção de crescimento do estoque de crédito subiu de 12,0% para 14,0% para os empréstimos com recursos livres, com maior contribuição das operações de cartão de crédito à vista e financiamento de veículos. “A despeito do recrudescimento da pandemia, a resiliência desse segmento se mostrou uma surpresa, com efeitos bem menos intensos do que os vistos no ano passado”, disse o BC.

No crédito direcionado, a projeção de crescimento foi revista de 11,0% para 13,0%, influenciada pela demanda robusta por financiamentos imobiliários em meio a taxas de juros ainda baixas e ao aumento nas contratações do crédito rural.