“BC tem que cuidar da Política Monetária, não pode estar a serviço do mercado financeiro”, diz Lula

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São Paulo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que se preocupa com alta do dólar, mas que isso se trata de ‘um jogo de interesse especulativo contra o Real’ e que tem conversado com sua equipe para ver o que pode ser feito pelo Executivo, mas que considera que não há motivos para tamanha variação cambial por conta de dados econômicos robustos que o Brasil tem apresentado. Disse, ainda, que tem de esperar o acabar o mandato do atual presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, para indicar um novo nome, mas que ‘não dá pra ter alguém dirigindo o BC com viés político’. Lula fez as falas durante entrevista concedida à rádio Sociedade, na Bahia.

“Obviamente que me preocupa essa subida do dólar. É uma especulação. Há um jogo de interesse e especulativo contra o Real nesse país. E eu tenho conversado com as pessoas sobre o que a gente vai fazer. Porque não é normal o que está acontecendo.” Lula lembrou da entrevista que concedeu ao UOL na semana passada, quando ouviu que o dólar havia disparado quando do início da sua entrevista, mas disse que o movimento havia começado 15 minutos antes. “A gente não pode inventar as crises.”

“Eu não posso dizer o que é possível fazer, porque estaria alertando meus adversários – mas te digo que não há necessidade. Se você pegar os dados do PIB: está crescendo mais do que a previsão do mercado. O desemprego esta caindo mais que a previsão do mercado e a renda da massa salarial está crescendo mais que a previsão do mercado – 87% dos acordos salariais estão sendo feitos com ganhos reais acima da inflação. Você vai perceber, também, a quantidade de entrada de capital externo para o investimento direto no Brasil.”

“Ora, então não não há nenhum preocupação, das pessoas terem medo, ou acharem que vai acontecer alguma coisa errada”, concluiu.

“Eu acho que a gente precisa manter o Banco Central funcionando de forma correta, com autonomia, para que o presidente do Banco Central não fique vulneráveis às pressões políticas. E se você é um presidente democrata, você permite que isso aconteça sem nenhum problema. Agora, quando você é autoritário, você resolve fazer com que o mercado se apodere de uma instituição que deveria ser do Estado. O Banco Central é um banco do Estado Brasileiro que cuida da política monetária. Ele não pode estar a serviço do sistema financeiro. Ele não pode estar a serviço do mercado”, crava.

“Quando a gente indica um presidente do Banco Central, um presidente do Banco do Brasil ou da Petrobras a gente não indica essa pessoa para essa pessoa fazer o que a gente quer, não. Porque as empresas têm diretoria, as empresas têm conselho, as empresas têm um cronograma de trabalho e o Banco Central tem uma função, que é cuidar da política monetária desse país, que é cuidar de atingir a meta da inflação”, disse, lembrando a meta de inflação de 3% aprovada na semana passada, à qual ele diz que o Brasil vai buscar.

“Agora, não dá é para você ter alguém dirigindo o Banco Central com viés político. Definitivamente eu acho que tem um viés político. Agora, veja, eu não posso fazer nada porque ele é o presidente do Banco Central, ele tem um mandato, ele foi eleito pelo Senado, eu tenho que esperar terminar o mandato e indicar alguém”, disse.

O mandatário lembrou que quando o Henrique Meirelles era presidente do BC, a entidade gozava de total autonomia. “Eu acho que a minha visão sobre o Banco Central não é uma visão teórica, é uma visão de um presidente que teve o Banco Central sob o meu domínio durante oito anos e com total autonomia. Alguém pode falar que o Meirelles [Henrique Meirelles foi presidente do BC de 2003 a 2010] não teve autonomia? Ele ficou oito anos do meu mandato. E se depender de mim, ele ficaria com a Dilma também. Não sairia não. O Fernando Henrique Cardoso trocou três presidentes do Banco Central. E é normal. O que é normal é o Lula trocar. É o Lula querer indicar alguém. E é o presidente da República que tem que indicar.”

FISCAL

Sobre os gastos públicos, o presidente argumentou que sua origem pobre o fez ter noção de gastos. “Muita gente fala: ‘mas é preciso cuidar dos gastos públicos, é preciso cuidar dos gastos públicos. E ninguém nesse país cuidou melhor dos gastos públicos do que eu, ninguém. Posso te dizer isso olhando no olho.”

“Ninguém cuidou mais dos gastos públicos do que eu, porque eu aprendi, aprendi de berço com a mãe analfabeta que a gente não gasta mais do que a gente ganha, que a gente tem que pensar naquilo que a gente vai fazer. É assim que eu dirijo o Brasil. Agora, o que eu não posso é aceitar a ideia de que a gente vai acabar com o benefício de pobres, que o Bolsa Família tá custando muito caro, o salário mínimo tá custando muito caro. A política de ajudar e investir em faculdade, por que tanta faculdade, por que tanto Instituto Federal, por que tanto investimento na área da Saúde?”

“Veja, nós já aprovamos o marco fiscal, que é uma revolução nesse país. Nós conseguimos fazer uma coisa que jamais se imaginou fazer e apenas no ano passado, aprovar uma política tributária. Nós já provamos que responsabilidade jurídica, responsabilidade política, responsabilidade social, nós temos demais. Agora, o que a gente não pode abrir mão é de melhorar a vida do povo brasileiro.

O presidente contou que pediu ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para apresentar uma listagem de excesso de gasto. “Se tiver excesso de gasto, se alguém estiver gastando alguma coisa que não seja necessário, se alguém estiver aplicando mal dinheiro, a gente para. Porque eu também não vou jogar dinheiro fora. Eu quero que o dinheiro sirva para melhorar a vida desse povo.”

Camila Brunelli / Safras News