São Paulo – O Banco Central (BC) precisa demonstrar firmeza quando decidir elevar a taxa básica de juros (Selic) e isto significa que terá de seguir o mercado num primeiro momento, afirmou o chefe do centro de estudos monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre FGV), José Julio Senna.
Informações obtidas a partir das negociações de opções relativas à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) na B3 mostram que o mercado vê chance de quase 70% de alta de 0,5 ponto porcentual (pp) na Selic na semana que vem, para 2,5% ao ano. Há também apostas de alta de 0,25 e de 0,75 pp – cada uma com um pouco mais de 10% de probabilidade.
“Choque de juros é algo que num regime de metas de inflação deve ser evitado, especialmente porque ciclo de alta de juros não é coisa banal”, disse Senna durante um evento promovido pela FGV e pelo jornal O Estado de São Paulo.
Ele acrescentou que embora o manual da política monetária diga que os bancos centrais devem evitar seguir o mercado, no momento isto seria “a melhor coisa” a se fazer. “O momento é muito sério e a gente não pode brincar com essa história”, afirmou.
Segundo Senna, se o BC “entrar com a mão fraca” no processo de elevação da Selic, isso exercerá pouco efeito sobre a curva de juros – ou seja, as taxas de curto prazo continuarão muito mais baixas que as de longo prazo – e o real continuará muito fraco ante o dólar.
Além disso, “a inflação será manchete de todos os jornais quando começar a passar de 6%”, como está previsto para acontecer em meados deste ano, ainda que isso seja motivado por questões estatísticas.
“O potencial de contaminar expectativas é gigantesco, diante da tibieza para enfrentar o problema fiscal e demonstração de populismo, que só fazem agravar este problema. O BC tem que agir rápido, sim, e de preferência no nível que mercado está esperando”, afirmou.