O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, no evento de inauguração do novo campus da FGV de São Paulo, falou sobre inflação brasileira, dívidas soberanas e crescimento econômico do Brasil e do mundo. Para ele, o BC vai manter seu mandato de trazer a inflação para a meta.
“No Brasil, inflação de 12 meses vem caindo, mas subiu um pouco e os núcleos estão mais comportados. A inflação ainda está acima da meta e a expectativa está desancorada. Isso é motivo de preocupação para o BC. Nossa mensagem inequívoca e consensual é de que o BC vai fazer o que for preciso para trazer a inflação para a meta, independentemente de quem seja o presidente. Isso está bem sedimentado no grupo que temos hoje. O grupo do BC é coeso e o BC vai agir de forma técnica e com autonomia”, afirmou.
Ele falou também sobre a capacidade dos BCs mundiais de socorrerem a economia em caso de recessão, que hoje será mais difícil do que antes da pandemia. “Bancos centrais tiveram grandes perdas no balanço de pagamentos ao comprar títulos privados de dívida. O custo da dívida global vem crescendo, dois terços dela vêm dos Estados Unidos, Europa e Japão. Por conta dos juros mais altos, ela vem crescendo de forma mais acentuada e o custo de rolagem também aumenta. Isso tem um efeito acumulado em liquidez, as pessoas vêm olhando pouco para esse fato, embora não seja nenhuma catástrofe, mas precisa ser visto ao longo do tempo”.
Sobre a atividade econômica brasileira, ele disse que ela vem surpreendendo de forma positiva. “Atividade econômica vem melhorando, surpreendendo para cima, e o desemprego está muito baixo, e a massa real salarial vem subindo. Os juros reais no Brasil são altos, mas vêm caindo também”.
A respeito do aumento do prêmio de risco no Brasil, ele cita dois fatores, o monetário e o fiscal. “O BC vai agir com seriedade e não vai poupar esforços para trazer a inflação para a meta. Entendemos também que o governo está fazendo um esforço fiscal grande. É importante ver como será a dinâmica da parte fiscal e ter mais clareza sobre esses números [sobre os cortes no Orçamento do governo], porque o prêmio de risco tende a diminuir”. Campos Neto falou que o fornecimento de crédito para o público vem subindo, e com inadimplência baixa ou estável, “a depender da modalidade”.
Ele fez um sobrevoo sobre a situação econômica mundial. “O mundo está muito endividado depois da pandemia e taxa de juros hoje é mais alta. A inflação de serviços mundial no mundo avançado está bem mais alta do que no passado. No mundo emergente o panorama é variado, com quedas mais acentuadas em alguns países do que em outros”.
Nos Estados Unidos a volatilidade tem sido maior, por conta da diferença de expectativa entre inflação acima da meta com juros do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) mais altos por mais tempo. Outro fator que interfere é o processo eleitoral norte-americano. “As políticas expansionistas deverão aumentar nos Estados Unidos independentemente de quem ganhe as eleições presidenciais, e a inflação deve subir em todos os ambientes”.
A respeito do comportamento dos juros, Campos Neto disse que há poucos países com viés de alta, como o Brasil e a Rússia, e que nos demais a tendência é de queda. “Já há uma precificação mais acentuada da queda dos juros nos Estados Unidos”.
O problema na China é sobre a recuperação da economia. “Há uma preocupação sobre se houver uma desaceleração maior da economia, como ficariam as economias emergentes, especialmente com o aumento das tarifas de importação por parte dos Estados Unidos e Europa”.
Ele encerrou sua participação falando sobre as inovações tecnológicas financeiras no Brasil, como a criação do Pix, do Open Finance e do DREX.