BCE deve aumentar taxas de juros em 0,75pp pela segunda vez consecutiva

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São Paulo – O Banco Central Europeu (BCE) deve elevar as taxas básicas de juros em 0,75 ponto percentual (pp) na reunião da próxima quinta-feira (27), à medida que continua a lutar contra os índices recordes de inflação na zona do euro, ignorando a pressão política para agir com mais cuidado diante da desaceleração econômica.

A disparada nos preços de energia com a guerra Ucrânia aumentou a pressão sobre as famílias e levou a inflação da zona do euro a recordes históricos. A taxa anual de inflação ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) do bloco atingiu nova máxima de 9,9% em setembro, ao acelerar de 9,1% em agosto.

Desta forma, uma segunda elevação consecutiva dos juros de 0,75pp é quase certa – o que elevaria a taxa básica para 1,5%. O ciclo de aumento de juros começou em julho, com um aumento de 0,50pp, seguido de uma alta de 0,75pp em setembro.

“Um aumento de 0,75pp parece um acordo fechado, mas o Banco Central Europeu tem muito o que fazer em sua reunião de outubro”, dizem os analistas do ING.

A DWS vai na mesma linha. “O Banco Central Europeu provavelmente fará outro grande movimento na taxa de juros de 0,75 ponto percentual”, diz Ulrike Kastens, economista de gestão de ativos da empresa. “Acima de tudo, as preocupações com as altas taxas de inflação que também nos acompanharão em 2023 e o risco de que as expectativas de inflação possam ser desancoradas provavelmente levarão o BCE a dar esse passo ousado”, complementa.

A Capital Economics, por outro lado, cogita um aumento maior, de 1 ponto percentual. “Os mercados estão precificando um aumento de 0,75pp nas taxas de juros esta semana, mas achamos que uma alta de 1pp é possível. Isso levaria para 1,75%. Pensamos então que será aumentado para 2,25% até o final deste ano e um pico de 3% em meados de 2023”, diz o economista-chefe do grupo, Neil Shearing.

A maioria dos especialistas acredita que o BCE seguirá com os aumentos, mas a questão é até onde a autoridade monetária poderá ir para conter a disparada dos preços, já que uma recessão causada principalmente pela crise de energia ameaça a região.

“Os indicadores de confiança continuaram a cair, enquanto dados concretos apontam para uma contração muito leve da economia da zona do euro no terceiro trimestre. Se alguma coisa, as projeções de crescimento do BCE em setembro, que já pareciam muito otimistas seis semanas atrás, tornaram-se ainda menos prováveis. Escusado será dizer que as perspectivas para a economia da zona euro estão rodeadas por um grau de incerteza extremamente elevado”, observam os especialistas do ING.

Analistas consultados pela Bloomberg projetam o pico da taxa básica do BCE em 2,5% em março, embora esperem que o ritmo de aumentos diminua depois disso. Entretanto, isso não parece ser um consenso.

“O BCE ainda não terminou sua batalha contra a inflação”, diz Elmar Voelker, analista de renda fixa do Landesbank Baden-Wuerttemberg, o maior banco estatal regional da Alemanha. “Mas pode começar a agir com mais flexibilidade a partir do início de 2023”, completa.

“[O BCE] não deve desistir tão cedo”, disse na semana passada o presidente do Bundesbank, Joachim Nagel, enquanto Peter Kazimir, da Eslováquia, afirmou: “Precisamos continuar avançando”. Já o belga Pierre Wunsch classificou como “razoável” os juros acima de 3% em 2023.

O banco central da Espanha, por sua vez, estima que a taxa de juros máxima de 2,25% a 2,5% pode trazer a inflação de volta à meta de 2% no médio prazo, enquanto o português Mario Centeno teme que o “pior caso” do BCE seria ter que voltar atrás depois de ir longe demais.

Os juros não serão o único tópico em discussão nesta semana. O BCE anunciar condições mais rígidas para os chamados empréstimos TLTRO de longo prazo dos bancos, que foram adotados para aumentar a oferta de crédito, mas acabaram causando um excesso de liquidez.

“A alteração dos termos do TLTRO poderia afetar a credibilidade do BCE e levaria à relutância dos bancos em voltar a utilizar os TLTRO no futuro”, dizem os analistas do ING.

“Esperamos agora que o BCE anuncie medidas de política destinadas a contrariar a arbitragem TLTRO e para encorajar os bancos a reembolsar os seus empréstimos TLTRO. Anteriormente, havíamos argumentado que cada método de neutralizar a arbitragem tem suas próprias desvantagens. Mas o Conselho sinalizou que eles estão dispostos a avançar independentemente”, afirma o Rabobank.

O aperto quantitativo (QT, na sigla em inglês) – o processo de vender os quase 5 trilhões de euros (US$ 4,9 trilhões) em títulos que o BCE acumulou, principalmente, durante a crise da covid-19 – também pode ser pautado, embora ações concretas não sejam esperadas por enquanto.

“A discussão sobre o aperto quantitativo parece ter começado, mas acreditamos que isso ainda é muito em uma fase exploratória. De fato, o Conselho provavelmente optou deliberadamente por começar numa reunião de política não monetária para manter a discussão informal e fora dos holofotes. Considerando que esta discussão provavelmente ainda está nos estágios iniciais, não esperamos nenhuma notícia sobre os planos do BCE para redução do balanço”, ressalta o Rabobank.

No mês passado, a presidente do BCE, Christine Lagarde, disse a parlamentares europeus que o QT começará “no devido tempo”.