BCE deve continuar com cortes, mas sem compromisso com ritmo ou volume, diz Lagarde

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A presidente do BCE, Christine Lagarde | Foto: Martin Lamberts/ECB

São Paulo – O Conselho do Banco Central Europeu (BCE) decidiu nesta quinta-feira reduzir as três principais taxas de juros em 0,25 ponto percentual (pp), incluindo a taxa de facilidade de depósito, que orienta a postura da política monetária. Durante a coletiva de imprensa realizada após o anúncio, a presidente Christine Lagarde explicou que a decisão “unânime” foi resultado da avaliação atualizada das perspectivas de inflação, da dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária.

Em relação às perspectivas econômicas, Lagarde destacou que o processo de desinflação está avançando conforme o esperado. Segundo ela, a inflação na zona do euro deve retornar à meta de médio prazo de 2% ao longo deste ano, com uma estabilização sustentada em torno dessa meta. A inflação doméstica, no entanto, permanece elevada, refletindo um ajuste tardio dos salários e preços em certos setores à inflação passada. Apesar disso, Lagarde notou que as pressões salariais estão moderando e os lucros têm ajudado a suavizar o impacto na inflação.

Ela observou que a economia da zona do euro estagnou no quarto trimestre de 2024 e deve permanecer fraca no curto prazo. Além disso, a confiança do consumidor continua fragilizada, e as famílias ainda não sentiram um impacto substancial do aumento da renda real nos seus gastos. “Contudo, o mercado de trabalho continua robusto, com a taxa de desemprego permanecendo baixa, o que pode impulsionar a confiança do consumidor e, eventualmente, o consumo”, disse Lagarde.

Em relação à inflação, a presidente apontou que o índice anual subiu para 2,4% em dezembro, ligeiramente acima de 2,2% de novembro. Segundo Lagarde, esse aumento reflete principalmente a exclusão de quedas passadas nos preços de energia. “A inflação nos serviços subiu para 4%, enquanto a inflação de alimentos caiu para 2,6%. As expectativas para 2025 indicam uma inflação estabilizando em torno da meta de 2%, impulsionada pela moderação das pressões salariais e pelo efeito do aperto monetário anterior”, afirmou.

Sobre as tarifas propostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Lagarde afirmou que elas terão um “impacto global negativo”. Contudo, ela ressaltou que, sem informações detalhadas sobre a lista de produtos afetados e a abrangência das tarifas, não é possível avaliar completamente os efeitos. “Quando isso acontecer, será incorporado em nossa avaliação”, afirmou.

Finalmente, Lagarde reiterou que a política monetária continuará a ser determinada de forma dependente de dados e reunião por reunião, com base na avaliação da inflação e das condições econômicas. Ela destacou que o banco central está pronto para ajustar todos os seus instrumentos dentro do seu mandato, para preservar o bom funcionamento da política monetária e garantir a estabilidade de preços na região.