BCE projeta crescimento do PIB de 3,4% em 2022 e 0,5% em 2023

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A ata do Banco Central Europeu (BCE), publicada hoje (19), mostra que os dirigentes do banco central esperam um ano mais restrito no que diz respeito à atividade econômica, que já vinha dando sinais de desaceleração no final de 2022.

“No último trimestre de 2022 projeta-se que o consumo privado tenha estagnado devido à queda da renda real, enquanto se espera que as famílias tenham se tornado mais relutantes em mergulhar na poupança”, diz o documento.

Ainda que a economia europeia esteja com fraca atividade, a melhora nos gargalos da cadeia de suprimentos trouxe um certo alívio. “No nível setorial, os indicadores do PMI para o setor manufatureiro continuaram apontando para uma produção fraca, mas melhoraram um pouco devido ao alívio contínuo dos gargalos de fornecimento, que permitiram às empresas trabalhar com suas carteiras de pedidos”.

O mercado de trabalho também melhorou depois do pico da pandemia, mas a quantidade de horas trabalhadas não acompanhou o crescimento. “Em relação às medidas de aperto do mercado de trabalho, os países com baixo desemprego também apresentaram uma alta taxa de vacância, enquanto os países com alto desemprego tiveram uma baixa taxa de vacância”.

A continuidade da guerra na Ucrânia deixa as perspectivas mais sombrias para 2023. “Os custos de energia e alimentos também podem permanecer persistentemente mais altos do que o esperado. Pode haver um obstáculo adicional ao crescimento na área do euro se a economia mundial enfraquecer mais acentuadamente do que o esperado”.

A ata do BCE traz uma revisão das perspectivas de inflação para o final de 2022, de 8,4%, e 2023, de 6,3%. O núcleo da inflação ficou projetado para 3,9% em 2022 e 4,2% em 2023. “O forte crescimento salarial em meio à dinâmica robusta do mercado de trabalho foi um dos principais contribuintes à persistência do núcleo da inflação”.

Por conta disso, os aumentos na taxa de juros, que foram de 2% em 2022, devem seguir a passos de 50 pp para a próxima reunião; “As taxas de juros ainda teriam que subir significativamente em um ritmo constante para atingir níveis suficientemente restritivos para garantir um retorno tempestivo da inflação à meta de 2% no médio prazo”.

ANÁLISE ECONÔMICA

A recessão econômica deve ser curta e superficial, na análise dos dirigentes do BCE. Ainda assim, a economia global vem desacelerando, com o contexto de incerteza política devido à guerra na Ucrânia e os riscos sobre a economia da China, com as interrupções da política de Covid-zero.

Ainda assim, a atividade econômica da zona do euro se mostrou mais resiliente do que se esperava mas isto é visto com uma certa preocupação. As medidas de apoio fiscal devem ser temporárias para não aumentar as pressões inflacionárias. “O crescimento dos salários está se fortalecendo, apoiado por mercados de trabalho robustos e alguma recuperação dos salários para compensar os trabalhadores pela alta inflação. Embora esteja mais fraca, o efeito da demanda reprimida ainda pressiona os preços, especialmente no setor de serviços”.

Os membros do BCE acreditam que a inflação tenha desacelerado um pouco, mas permanece ainda bastante alta. “Os dados mais recentes sugeriram que a inflação estava se tornando muito mais generalizada e persistente. Embora o declínio da inflação plena em novembro tenha sido inesperado, a inflação ainda foi maior do que a projetada em setembro”.

Por conta do aumento das taxas de juros, o custo dos empréstimos para as famílias está crescendo o que mostra o efeito da política monetária restritiva. “Os membros do Conselho concordaram que, de modo geral, a transmissão da normalização da política monetária para as condições de financiamento estava ocorrendo de forma harmoniosa e amplamente em linha com o que havia acontecido no passado”.

Devido a estas condições adversas de inflação, os membros acreditavam ser justificável um aperto ainda maior na política monetária da zona do euro. Embora parte dos membros do Conselho fosse favorável a um aumento de 75 pp, houve um consenso que uma subida de 0,50% fosse adequada para o momento.

“Considerou-se que um aumento de 50 pp na presente reunião permitiria ao Conselho do BCE apertar a política monetária por um período mais longo, o que era importante dada a maior persistência da inflação elevada”, diz o trecho da ata.

Por fim, o Conselho do BCE decidiu que vai reforçar os pedidos para que as políticas fiscais sejam temporárias, de forma a aliviar os gastos das famílias, mas que sejam “direcionadas e adaptadas para preservar os incentivos ao consumo de menos energia”.