BNDES tem alta nos desembolsos e lucro recorrente cresce 21% no 3° trimestre

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São Paulo, SP – O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) desembolsou R$ 34,8 bilhões no terceiro trimestre de 2023, um crescimento de 18,4% frente ao mesmo período de 2022. Considerando os nove meses acumulados em 2023, houve aumento expressivo em todas as fases de operação do Banco comparativamente a 2022, como consultas (R$ 199,2 bilhões, alta de 94%), contratações (aumento de 43%, atingindo R$ 94,2 bilhões) e desembolsos (crescimento de 20%, ao atingir R$ 75,4 bilhões).

“O aumento das consultas é importante porque aponta para o investimento futuro, o que é um sinal de confiança nos fundamentos da economia brasileira”, destacou o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante. O incremento ocorreu também em todos os setores econômicos: agropecuária, infraestrutura, indústria, comércio e serviços. O desembolso às
exportações, de R$ 7,2 bilhões, cresceu 243% em relação a 2022. As cooperativas também foram destaque, respondendo por 28% dos desembolsos indiretos do Banco, um recorde.

“O papel do BNDES se fortaleceu também no apoio às micro, pequenas e médias empresas, destacou o presidente do Banco: Viabilizamos mais de R$ 65 bilhões em financiamentos até outubro, seja por crédito aos clientes através dos agentes financeiros repassadores do BNDES, ou financiamentos apoiados pelos nossos fundos garantidores, FGI e FGI-PEAC,
explicou Mercadante.

No que diz respeito ao resultado financeiro, o lucro líquido recorrente no terceiro trimestre de 2023 foi de R$ 2,9 bilhões, ante R$ 2,4 bilhões no mesmo período do ano passado, alta de 21%. No acumulado dos nove primeiros meses do ano, o lucro líquido recorrente foi
de R$ 6,6 bilhões. O lucro líquido no terceiro trimestre foi de R$ 4,9 bilhões, acumulando R$ 14,4 bilhões nos nove primeiros meses do ano.

O aumento no lucro líquido recorrente foi influenciado pela elevação do produto da intermediação financeira, com destaque para o crescimento da carteira de crédito expandida, atenuado pela redução no saldo médio de tesouraria, em virtude, principalmente, das liquidações antecipadas de dívidas junto ao Tesouro Nacional realizadas em 2022.

O lucro líquido de R$ 14,4 bilhões nos nove primeiros meses de 2023 foi impactado por receitas de R$ 7 bilhões de dividendos e Juros sobre Capital Próprio (JCP), basicamente oriundas da Petrobras, e reversão de provisões de crédito, em especial pela recuperação de créditos provisionados em exercícios anteriores, principalmente por honra do Fundo Garantidor de Exportação junto ao BNDES.

Os ativos totais do Sistema BNDES somaram R$ 719,3 bilhões em 30 de setembro de 2023, aumento de R$ 35,5 bilhões (5,2%) em relação a dezembro de 2022, destacando o acréscimo de R$ 15,7 bilhões na carteira de crédito expandida e o aumento de R$ 8,9 bilhões na carteira de participações societárias.

A carteira de crédito expandida, que abrange financiamentos, debêntures e outros ativos de crédito, cresceu R$ 15,7 bilhões e alcançou R$ 495,2 bilhões em 30 de setembro de 2023, representando, assim, 68,9% dos ativos totais. É o maior volume nominal desde o primeiro trimestre de 2019. O aumento foi influenciado, em especial, pelo crescimento dos desembolsos e pela apropriação de juros e atualização monetária. Dentre os desembolsos, destacam-se os investimentos em ofertas públicas de debêntures na área de infraestrutura.

A inadimplência (+90 dias) em 30 de setembro de 2023 manteve-se em 0,01%, mesmo percentual de 30 de junho e inferior aos 0,13% em 31 de dezembro de 2022. Essa taxa permanece expressivamente inferior à inadimplência do Sistema Financeiro Nacional (3,49% geral e 1,33% para grandes empresas), comprovando que o BNDES não sentiu os efeitos da piora do mercado de crédito em sua carteira própria e indireta.

Sobre a carteira de crédito e repasses, 94,6% das operações classificadas nos mais baixos níveis de risco, compreendidos entre AA e C, em 30 de setembro de 2023. Esse percentual se mantém superior ao registrado pelo Sistema Financeiro Nacional, que atingiu 90,8% em 30 de junho de 2023 (última informação disponível).

A carteira de participações societárias totalizou R$ 71,3 bilhões em 30 de setembro de 2023. O acréscimo de 14,2% frente a dezembro de 2022 ocorreu, basicamente, pelo aumento do valor justo dos investimentos em não coligadas. As principais empresas investidas em termos de carteira total seguem sendo Petrobras, JBS, Eletrobras e COPEL.

Em 30 de setembro de 2023, FAT e Tesouro Nacional representavam 57% e 6,6%, respectivamente, das fontes de recursos do BNDES. O FAT manteve-se como principal credor do Banco, sendo o saldo atual de R$ 391,5 bilhões.

O valor remanescente devido pelo BNDES ao Tesouro Nacional atingiu R$ 45,1 bilhões em 30 de setembro de 2023, redução de 0,9%. Os pagamentos ordinários de R$ 1,2 bilhão foram atenuados por apropriação de juros e correção monetária de R$ 0,7 bilhão, não tendo havido antecipações de recursos em 2023.

O passivo com captações externas totalizou R$ 22,8 bilhões em 30 de setembro de 2023, decréscimo de 15,8% no trimestre. No período, houve amortização de R$ 5 bilhões de bonds, em razão do vencimento de um título do Banco no mercado internacional.

O patrimônio líquido do BNDES atingiu R$ 147,9 bilhões em 30 de setembro de 2023, acréscimo de 12,7% em relação ao saldo no encerramento de 2022. O resultado decorre, principalmente, do lucro líquido nos nove meses, de R$ 14,4 bilhões, além do impacto positivo do ajuste a valor de mercado de ativos (ações e títulos públicos) e da não distribuição de dividendos extraordinários junto à União, interrompendo trajetória de redução do PL.

Base para o cálculo dos limites prudenciais, o Patrimônio de Referência totalizou R$ 186 bilhões em 30 de setembro de 2023.

O Índice de Basileia manteve-se em situação confortável: 34,4% em junho de 2023, muito acima dos 10,5% exigidos pelo Banco Central. Essa informação é a última disponível, dada a prorrogação de prazo pelo BACEN para as implementações decorrentes da Resolução BCB 229, de 12/05/2022, em vigor a partir de 1º de julho de 2023, que alterou os procedimentos para cálculo do requerimento de capital.

INVESTIMENTOS

O diretor de Planejamento do BNDES, Nelson Barbosa, disse que o BNDES prevê investir 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023 e entre 1,1% e 1,4% do PIB em 2024. Em valores, o BNDES estima que chegue a R$ 119 bilhões em 2023 e entre R$ 125 bilhões e R$ 137 bilhões em 2024.

“Quem vai dizer se é factível é a expansão da economia”, comentou Barbosa, ao ser perguntado se o banco prevê chegar a 2% do PIB em desembolsos até 2026.

Em relação à venda de participações que o BNDES tem em carteira, Mercadante disse que o banco pode avaliar, mas a tendência é que não venda. “Podemos vender as carteiras, mas tem que valer a pena. Vendemos a JBS a R$ 38 a ação. Hoje está R$ 20. Também venderam as ações que o banco tinha na Petrobras. Imagine quanto essas ações valeriam hoje?”, comentou. “Alguém ganhou dinheiro com isso. Mas com essa diretoria, isso não vai acontecer. Quem vai ganhar é o povo, a União”, finalizou.

TCU

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, disse que o banco pode deixar de disponibilizar crédito para investimentos em infraestrutura, ao agro e às micro e pequenas empresas para pagar os R$ 23 bilhões que deve ao Tesouro Nacional. O banco solicitou ao Tribunal de Contas da União (TCU) o parcelamento da dívida em oito vezes e a postergação da devolução, até 2030, dos valores aos cofres da União, que estão previstos ainda para este mês. O pedido será analisado pelos ministros nas próximas semanas.

“Se a gente disponibilizar todo recurso para os governadores, a gente não paga os R$ 23 bi”, disse Mercadante, em entrevista a jornalistas para apresentar os resultados do terceiro trimestre do banco. “O que estamos pleiteando é totalmente viável”, acrescentou.

Segundo o diretor de Planejamento do BNDES, Nelson Barbosa, o processo segue via TCU. Barbosa também disse que falou ao ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, que usar o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para pagar despesas da Previdência “é um desvio de função”.

Em relação aos US$ 2 bilhões (ou cerca de R$ 10 bilhões) captados pelo Brasil em uma primeira emissão de sustainable bond soberano do país, Barbosa disse que o BNDES tem capacidade de absorver em projetos com contrapartida social. “Nós temos capacidade de absorver os R$ 10 bi do bond sustentável, o TCU deve anunciar a decisão nos próximos dias.”

Com Cynara Escobar