Bolsa avança com bancos e Vale, de olho no exterior; dólar e juros acompanham

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São Paulo, 5 de fevereiro de 2025 – A Bolsa encerrou os negócios desta quarta-feira em alta, com os investidores ainda atentos às disputas comerciais no exterior e seus impactos sobre as commodities locais. No entanto, indicadores econômicos e o balanço do Santander Brasil, que abriu a temporada de resultados local e do setor financeiro, foram destaques da sessão.

O principal índice da B3 fechou em alta de 0,30%, aos 125.534,07 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro avançou 0,33%, aos 125.870 pontos. O giro foi de R$ 15,6 bilhões. Em Nova York, os índices futuros terminaram a sessão no campo positivo.

As ações da Vale (VALE3) subiram 0,53% e bancos avançaram em bloco, impulsionando o índice. As units do Santander (SANB11) fecharam em alta de 6,19%, enquanto Itaú (ITUB4), Bradesco (BBD3 BBDC4) e Banco do Brasil (BBAS3) subiram 1,51%, 1,46%, 2,32% e 0,21%, respectivamente.

Já as da Petrobras (PETR3; PETR4) fecharam em quedas de 1% e 0,72%, respectivamente. As maiores quedas foram de Raízen, Vamos, CVC, Magalu e Totvs.

A ação da Embraer (EMBR3) foi a maior alta do Ibovespa, de 15,50%, após anúncio da maior venda de jatos executivos de sua história, no valor de US$ 7 bilhões, para a Flexjet, líder global no mercado de propriedade compartilhada de jatos executivos. O acordo inclui um pedido firme de 182 aeronaves e 30 opções, além de um abrangente pacote de serviços e suporte.

O Santander Brasil reportou lucro líquido gerencial de R$3,85 bilhões, crescimento anual de 74,9%, com destaque para o crescimento da margem financeira e melhora na rentabilidade. O balanço do Itaú, que será apresentado, após o fechamento do mercado, também está no radar.

O mercado também ficou de olho nas sinalizações do governo em relação ao cenário fiscal brasileiro e ao combate à inflação e aos dados relativos à atividade econômica do País que podem influenciar nas decisões de política monetária.

Em entrevista a emissoras de rádios de Minas Gerais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu que o governo leva a questão da inflação a sério e que o governo controlará inflação e procura solução para preços dos alimentos. O presidente afirmou que está realizando uma série de reuniões com membros do governo e entidades para tentar solucionar a questão dos preços altos.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, entregou nesta quarta-feira ao novo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), uma relação com 25 projetos prioritários para o governo, dos quais 15 ainda dependem de alguma tramitação no Congresso. A expectativa é de que as matérias sejam votadas nos próximos dois anos, mas que possam ser antecipadas para este ano, já que o próximo será ano de eleição.

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que o preço dos alimentos tende a baixar, devido a uma super safra prestes a ser entregue e aos dois Planos Safras já lançados pelo governo federal. As declarações ocorreram em conversa com jornalistas após um encontro com a bancada do seu partido, o PSD, na Câmara dos Deputados, nesta terça-feira, 4.

Os investidores também digeriram os dados da produção industrial brasileira, que recuou 0,3% em dezembro ante novembro, terceiro mês consecutivo de queda. Em relação a dezembro de 2023, a indústria cresceu 1,6% em sua produção, sétimo mês seguido de expansão. Os dados são do IBGE. O dado veio mais forte que o previsto e provocou alta dos juros futuros.

No âmbito internacional, o dia teve declarações de membros do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). O presidente do Fed de Richmond, Thomas Barkin, comentou nesta quarta-feira sobre as perspectivas em relação aos cortes nas taxas de juros, destacando que, embora ainda exista a inclinação para reduzi-las, a incerteza em torno das políticas comerciais, imigratórias e regulatórias do governo de Donald Trump precisa ser melhor compreendida. Apesar dessa incerteza, ele citou que há uma expectativa de desaceleração da inflação ao longo de 2025 e de continuidade no crescimento econômico. Esse cenário favorece uma postura mais favorável para novos cortes de juros. “Essa é certamente a tendência”, disse o presidente do Fed de Richmond, indicando que as condições ainda são propícias para a adoção de medidas expansionistas.

Na agenda de indicadores dos EUA de hoje, o relatório ADP de janeiro mostrou que o setor privado dos Estados Unidos criou mais empregos do que o esperado em janeiro, com 183 mil vagas de trabalho, excluindo o setor rural, de acordo com relatório publicado pela Automatic Data Processing (ADP) e pela Macroeconomic Advisers. Analistas esperavam a criação de 150 mil vagas. O número de vagas criadas em dezembro subiu para 176 mil após revisão.

Ainda nos Estados Unidos, saiu o índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) sobre a atividade do setor de serviços dos Estados Unidos caiu para 52,9 pontos pontos em janeiro em leitura revisada, ante 56,8 pontos na leitura de dezembro, de acordo com dados divulgados pelo S&P Global/CIPS. O índice veio dentro da previsão do mercado.

Outro indicador apresentado no final da manhã desta quarta-feira foi o índice do Instituto de Gerência e Oferta (ISM, na sigla em inglês) sobre a atividade do setor de serviços dos Estados Unidos caiu para 52,8 pontos em janeiro, de 54 pontos em dezembro. Números acima de 50 indicam expansão da atividade, enquanto números menores sugerem contração. Analistas previam alta para 54,3 pontos.

Para Bruna Sena, analista de renda variável da Rico, a alta do Ibovespa nesta quarta-feira foi sustentada pelo movimento positivo dos bancos, na esteira dos resultados do setor, mas também pela recuperação da Vale, além da forte alta de Embraer, após pedido da Flexjet por 182 jatos executivos da companhia e anúncio de captação de Bonds da Embraer, rolando uma dívida de curto prazo. “O Ibovespa se segurou em importante suporte nos 125 mil pontos e deu continuidade ao movimento de recuperação iniciado em janeiro, em um ambiente de redução dos riscos políticos e ajuste técnico dos papéis. A temporada de balanços no Brasil também ganha força essa semana e deve ser monitorada de perto pelos investidores nos próximos dias, que estarão atentos principalmente às sinalizações dos guidances das empresas em uma temporada em que são esperados resultados fortes para grande parte das companhias do Ibovespa”, comentou.

Matheus Lima, analista de investimentos e sócio da Top Gain, avalia que, apesar do calendário do dia de hoje ter sido “bem recheado”, boa parte da movimentação de hoje do Ibovespa foi atribuída à temporada de balanços que começou dentro do setor financeiro. Segundo o analista, a movimentação do índice do setor financeiro, o IFNC, conduziu todas as movimentações do IBOV de uma maneira bem idêntica. “O resultado do Santander surpreendeu e aumentou a expectativa de que os demais bancos trarão resultados muito bons no quarto trimestre e no fechamento de 2024 e em 2025 também. Lembrando que é o setor de maior relevância no Ibovespa, então, se ele vai bem, acaba puxando a performance da bolsa junto.”

Lima também destaca que os dados de produção industrial no Brasil e de emprego nos Estados Unidos vieram acima do esperado. “O mercado reagiu bem já no começo do dia, porém a divulgação dos dados de ADP no exterior, que é a variação de empregos privados nos Estados Unidos, veio acima do esperado. Apesar disso ser naturalmente um dado positivo, causa um leve pessimismo, porque na última reunião do Fomc [Comitê Federal de Mercado Aberto do banco central dos EUA] tivemos uma manutenção da taxa de juros por conta da preocupação com a inflação”, comenta. “Ou seja, quando dados de emprego vem acima do esperado (…), isso é um sinônimo de uma economia mais aquecida que gera mais inflação.”

O dólar comercial fechou em alta de 0,41%, cotado a R$ 5,7935. A sessão foi marcada pela falta de um driver específico e por um movimento de correção, após 12 quedas consecutivas da moeda norte-americana.

Segundo o head de Tesouraria do Travelex Bank Marcos Weigt, a queda do dólar foi muito intensa, em um curto período de tempo, o que faz com que o movimento de hoje se descole do exterior, o que resulta em realização.

Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, o câmbio estava começando a “passar do ponto”, já que a melhora no cenário doméstico não foi significativa e o mercado voltou a precificar os ruídos políticos.

Borsoi observa que o ambiente global é de cautela: “Parece que os banqueiros centrais vãotentar acalmar os ânimos. Tem muita incerteza no radar”, acreditando que o movimento de corte dos juros nas economias desenvolvidas pode ser revisto.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) operam em alta, na contramão dos Treasuries e impactadas pela produção industrial mensal bastante díspare das projeções de mercado.

Por volta das 16h50 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 14,960 de 14,920% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 15,010%, de 147,880, o DI para janeiro de 2028 ia a 14,775%, de 14,850%, e o DI para janeiro de 2029 com taxa de 14,665% de 14,775 na mesma comparação. O dólar opera em alta, cotado a R$ 5,7950 para venda.

Os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam o pregão em alta, apesar dos resultados da Alphabet e da AMD decepcionarem, com as grandes empresas de tecnologia tenham recebido um impulso com o salto nas ações da Nvidia.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,71%, 44.873,28 pontos
Nasdaq 100: +0,19%, 19.692,0 pontos
S&P 500: +0,39%, 6.061,48 pontos

Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Safras News

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