Bolsa cai 0,02% e dólar sobe com exterior ofuscando notícia positiva de contenção de despesas

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São Paulo- A Bolsa terminou praticamente estável, queda de 0,02%, em um dia de pane cibernética, que afetou serviços diversos países, e busca de proteção devido ao final de semana. A notícia positiva vinda do governo, com o anúncio na véspera de contenção de R$ 15 bilhões para cumprir o arcabouço fiscal, foi ofuscada pelo mau humor externo. Após quatro semanas em alta, o Ibovespa encerrou no negativo de 0,99%.

O principal índice da B3 fechou em queda de 0,02%, aos 127.616,46 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto caiu 0,68%, aos 128.355 pontos. O giro financeiro era de R$ 21,9 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam em queda.

Leonardo Santana, analista da Top Gain, disse que o contingenciamento e bloqueio no orçamento deste ano anunciado ontem pelo governo foi muito positivo.

“Vemos que o governo começou fazer sua parte. Como teve esse apagão cibernético, esse movimento de hoje é mais uma busca de proteção pelo final de semana [os investidores costumam se proteger, caso tenha alguma notícia ruim no final de semana e o mercado está fechado]. Não tem mais nada. Lá fora está ruim”.

Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos, disse que “o Ibovespa teve uma reação inicial mais positiva, mas diminuiu o ímpeto a partir da abertura negativa das bolsas de NY. A sessão foi um pouco atípica, com um burburinho inicial devido ao abalo cibernético global que afetou sistemas de negociação, mas também trazia algum alívio após o anúncio de contingenciamento de gastos do governo da ordem de R$ 15 bilhões que, se não é o montante necessário para atingir a meta de déficit zero, ao menos trouxe algo concreto para aliviar a pressão recente e reforça o compromisso com o equilíbrio fiscal”.

As ações da Sabesp fecharam em alta de 3,51%, na primeira sessão pós-follow on, que privatizou a companhia e teve demanda institucional recorde de R$ 187 bilhões.

Ricardo Leite, head de renda variável da Diagrama Investimentos, disse que “a bolsa está perto da estabilidade, a Vale puxa o índice para baixo e construtoras contribuindo para segurar o Ibovespa no positivo junto com os bancos. Esse movimento ocorre pelo benefício da queda do DI que ajuda os setores mais cíclicos. O mercado global está repercutindo um pouco o apagão cibernético, avaliando o impacto real, apesar de a Microsoft falar que já foi resolvido”.

Para Leite, o anúncio feito pelo governo do contingenciamento e bloqueio do orçamento deste ano, respectivamente R$ 3,8 bilhões e R$ 11,8 bilhões não teve muito efeito no mercado.

Achei que fosse ter mais impacto, mas já foi até neutralizado. Confio que a falta de credibilidade que o governo está passando está afetando isso. O mercado espera algo mais concreto e previsível”.

O dólar comercial fechou a R$ 5,6049 para venda, com valorização de 0,29%. Às 17h05min, o dólar futuro para agosto tinha alta de 0,94% a R$ 5.612,000. Após iniciar o dia com perda superior a 1%, a moeda americana foi ganhando terreno. A maior aversão ao risco no exterior fez a moeda mudar de direção, eliminando o impacto positivo do anúncio da contenção de R$ 15 bilhões feito ontem pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Na semana, a moeda americana acumulou valorização de 3,22%.

Nem mesmo o congelamento do orçamento conseguiu impedir a valorização do dólar. O total contido não convenceu parte do mercado. Lá fora, a dúvida sobre o rumo das eleições americanas e a pane tecnológica, que interrompeu diversos serviços no mundo, preocupou os investidores.

O Dollar Index, que mede o desempenho da moeda americana em relação a uma cesta de moedas estrangeiras, tinha alta de 0,19% a 104,38 pontos.

Cristiane Quartaroli, economista-chefe da Ouribank, confirmou que o exterior fortaleceu a moeda norte-americana. “Apesar de o governo ter anunciado o contingenciamento de despesas, não foi o suficiente para conter o avanço do dólar diante das moedas emergentes. Tem uma piora vindo do cenário externo, ativada pelas incertezas em relação às eleições norte-americanas. O apagão tecnológico também foi um fator adicional pra piora dos ativos”.

Segundo relatório da Ajax Asset, o resultado fiscal de 2024 ainda continua desafiador, a depender da contenção dos gastos com previdência e evolução da arrecadação com medidas extraordinárias, além do tema envolvendo desoneração da folha.

“A sinalização de Haddad é positiva para a consolidação fiscal à frente, mas insuficiente para resolver os problemas estruturais do país. Inclusive, esse contingenciamento de apenas R$ 3,8 bilhões decepciona pelo baixo valor”, ressalva o relatório.

A Ajax acrescenta que, com a postergação das decisões sobre a desoneração para setembro, dificilmente haverá tempo hábil para ser operacionalizada uma compensação integral no último trimestre do ano. “Conforme temos abordado, há prêmio nos ativos locais. Contudo, é necessário medidas concretas e críveis do lado fiscal para a descompressão desses prêmios. O mercado continuará sensível e volátil a essas questões. É necessário avaliar os detalhes da contenção nos dados a serem divulgados na próxima segunda feira (22). Ainda assim, pelos valores anunciados, o relatório do 3º bimestre parece novamente postergar a solução integral dos problemas para o fim do ano”.

Na segunda-feira, as atenções dos investidores estarão voltadas para o detalhamento do relatório de receitas e despesas, que será divulgado à 15h30 pelo Ministério do Planejamento.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) abriram em queda, mas passaram o dia operando majoritariamente em alta, refletindo incertezas com relação ao exterior. Durante maior parte do pregão, a ponta mais curta operou em terreno negativo, retirando o prêmio de risco da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) ter um viés de subida de juros.

Por volta das 16h45 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,690%, de 10,690% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 11,404%, de 11,415%, o DI para janeiro de 2027 ia a 11,657%, de 11,675%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 11,930% de 11,790% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo negativo, com o tema da semana sendo os nomes considerados maiores beneficiários de cortes nas taxas de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano), como as chamadas small caps.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,93%, 40.293,41 pontos
Nasdaq 100: -0,81%, 17.726,9 pontos
S&P 500: -0,71%, 5.505,08 pontos

Com Dylan Della Pasqua, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência Safras News