Bolsa cai 1% e dólar sobe a R$ 4,18 com varejo

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Por Danielle Fonseca e Flávya Pereira

São Paulo – Após dois dias de alta, o Ibovespa encerrou em queda de 1,03%, aos 116.414,35 pontos, refletindo a frustração do mercado com dados mais fracos de vendas no varejo, que trouxeram dúvidas sobre o ritmo da recuperação da economia doméstica. Mesmo a confirmação da assinatura da primeira fase de um acordo entre China e Estados Unidos e alta das bolsas norte-americanas não foram capazes de trazer alívio ao índice. O
volume total negociado foi de R$ 32,1 bilhões.

“As vendas de varejo do mês de novembro vieram abaixo do esperado quando se esperava uma reação maior por conta da Black Friday. Sem dúvida esse dado mais fraco ajuda o índice a se descolar de seus pares no exterior e traz muitas dúvidas sobre o atual estágio de recuperação econômica”, disse o analista da Ativa Investimentos, llan Arbetman.

Havia a esperança de que o indicador do setor varejista pudesse apagar preocupações com outros dados fracos da economia doméstica que foram divulgados recentemente, como a receita de serviços e a produção industrial. Porém, as vendas cresceram 0,6% em novembro ante outubro, sendo que analistas esperavam alta de 1,2%.

Já no cenário externo, China e Estados Unidos assinaram a esperada primeira fase de um acordo comercial, o que manteve Wall Street em alta. Por outro lado, muitas questões entre os dois países ficaram para uma segunda fase, que não tem data prevista para ocorrer. Segundo o presidente norte-americano, Donald Trump, as tarifas sobre produtos chineses, por exemplo, foram mantidas para os Estados Unidos terem poder negociação para a segunda fase de um acordo.

Ainda pesou sobre o Ibovespa a queda de papéis com grande participação no índice, caso de bancos, como Bradesco (BBDC4 -1,75%), que têm sofrido com mudanças que o Banco Central (BC) tem feito na legislação para impulsionar fintechs, aumentando a concorrência no setor. Entre essas mudanças, está a possibilidade de facilitar o pagamento de contas em bancos digitais. Os papéis da Petrobras (PETR4 -1,50%) também caíram, em dia de queda dos preços do petróleo.

Já as maiores quedas do Ibovespa foram da Cogna (COGN3 -3,44%) e da Hering (HGTX3 -3,27%). Na contramão, as maiores altas foram da Marfrig (MRFG3 4,84%), do IRB Brasil (IRBR3 2,35%) e da B2W (BTOW3 2,57%).

Na agenda de indicadores de amanhã o destaque é o índice de atividade econômica (IBC-Br) referente a novembro, que pode dar mais um sinal sobre o comportamento da economia. “Se o IBC-Br de novembro apresentar um quadro de recuperação aquém do esperado, acreditamos que a discussão sobre Selic terminal abaixo de 4,25% ganhará força”, disseram os analistas da XP Investimentos, afirmando que os dados do varejo já aumentaram consideravelmenteas chances de um corte de 0,25% na Selic em fevereiro.

Ainda na agenda de indicadores, investidores devem observar os dados de seguro-desemprego, vendas no varejo e atividade industrial dos Estados Unidos.

Já o dólar comercial fechou em forte alta de 1,18% no mercado à vista, cotado a R$ 4,1810 para venda – maior cotação do ano – refletindo a cautela dos investidores locais após dados de comércio e aumento das apostas de que o Banco Central (BC) poderá seguir com o ciclo de afrouxamento monetário em meio aos indicadores econômicos mais fracos. Lá fora, foi assinada a “fase 1” do acordo comercial firmado entre Estados Unidos e China.

“O número veio bom com o indicador tendo a sétima alta seguida. Porém, ficou aquém do esperado. As vendas no varejo seriam o destaque daquele mês já que teve parte da liberação dos recursos do FGTS, black Friday. Por isso, decepcionou”, diz o economista da Guide Investimentos, Victor Beyruti.

O gerente de mesa de câmbio da Correparti, Guilherme Esquelbek, também acredita que o movimento mais pressionado da moeda desde a abertura dos negócios respondeu ao dado mais fraco que o esperado.

“Reforça a ideia de que a retomada econômica continua lenta e com isso, aumentam as apostas de um corte de mais 0,25 ponto porcentual na taxa Selic em fevereiro. Isso trouxe compras defensivas por parte de fundos estrangeiros, o que levou o dólar a atingir máximas consecutivas durante o pregão, totalmente descolado do exterior”, avalia.

Amanhã, na agenda de indicadores, a previsão é que o IBC-Br, dado que é uma prévia do resultado do Produto Interno Bruto (PIB) deve cair 0,10%, de acordo com o Termômetro CMA. “O indicador não deve vir com um número surpreendente, que quebre a tendência de crescimento. Só não será alto e sim, próximo à estabilidade”, aposta o economista da Guide.