São Paulo – A Bolsa fechou em queda em mais de 2%, no patamar dos 109 mil pontos, em um dia de pessimismo no exterior e com as incertezas em relação ao cenário interno em meio à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, que deve ser votada nesta semana, reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) e divulgação da inflação oficial na sexta-feira (9). A liquidez foi reduzida.
Ao longo do dia, as ações ligadas ao minério de ferro, principalmente os papéis da Vale (VALE3) tiveram boa performance refletindo a flexibilização na China, mas no final dos negócios caíram 0,10%.
As ações do setor de consumo caíram refletindo a alta na curva de juros. No caso das construtoras, a elevação dos DIs e a notícia de que a Caixa vai reduzir o volume de concessão de financiamento imobiliário impactaram o setor.
O principal índice da B3 caiu 2,25%, aos 109.401,41 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro perdeu 2,33%, aos 109.625 pontos. O giro financeiro foi de R$ 22,1 bilhões. Em NY, as bolsas fecharam em queda.
Alexsandro Nishimura, economista e sócio da BRA, comentou que a Bolsa foi “pressionada por dúvidas sobre o ambiente interno com uma maior chance de aprovação do texto da PEC da Transição com validade de 2 anos, mas com valor fora do teto próximo dos R$ 200 bilhões e amplificado pelo mau humor do mercado internacional”.
Nishimura acrescentou que também “houve pressão pelas revisões de expectativas para a inflação e Selic em 2023, com investidores em busca de sinalizações dos próximos passos do Copom para o ano que vem”.
Helder Wakabayashi, analista da Toro Investimentos, disse que a Bolsa acompanha o mercado externo com a preocupação de que “a economia norte-americana está pujante com os dados econômicos recentes-hoje o ISM de atividade de serviços subiu 56,5 pontos em novembro, enquanto os analistas previam queda para 53,7 pontos- e o mercado está precificando uma recessão o segundo semestre do ano que vem, os títulos do tesouro de 10 anos nos EUA sobem”.
A notícia boa, segundo o analista da Toro Investimentos, veio da China com a flexibilização das restrições em relação à covid e favorece as empresas ligadas às commodities. A Pec da Transição segue no foco dos investidores.
André Luzbel, head de renda variável da SVN Investimentos, disse que o movimento de hoje é realização de lucros e de falta de liquidez por conta do “jogo do Brasil e como ninguém sabe o que vai acontecer [se referindo às questões fiscais], no curto prazo, tem muita gente vendendo posição ou zerando para se proteger via índice futuro, principalmente; no fechamento do mês vimos uma puxada forte e devolvemos parte dessa alta nesses últimos dias”.
O head de renda variável da SVN Investimentos comentou que a PEC da Transição deve vir com gasto acima do esperado e “o mercado vai continuar punindo os juros, o que impacta nas small caps “quem está blindada são as exportadoras, que de certa forma independem das decisões políticas domésticas”.
Em relação ao Copom, a taxa deve se manter inalterada em 13,75% ao ano (aa). “A gente já deveria estar discutindo redução da Selic e a PEC pode influenciar é nesse sentido; os juros não têm indicação de queda por problemas fiscais; se o governo tivesse um programa fiscal mais ajustado, talvez não tivesse esse estresse no DI futuro”.
Segundo um gestor de um grande banco, a queda na Bolsa reflete a “preocupação dos investidores com os juros em um dia de baixa liquidez por conta do jogo do Brasil”.
O dólar fechou em alta de 1,32%, cotado a R$ 5,2820. A moeda refletiu as incertezas sobre os Estados Unidos e Europa. As incertezas domésticas seguem no radar.
Para o sócio fundador da Pronto! Invest Vanei Nagem, “a Europa está bem complicada, com o nível inflacionário bem grande e o inverno se aproximando”. O executivo entende que o payroll (termômetro do emprego nos Estados Unidos), divulgado na última sexta, aponta que a política contracionista do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) tende a ser mais duradoura.
Já no âmbito interno, Nagem acredita que a demora na divulgação da equipe econômica do presidente eleito, Lula (PT), é algo negativo, e que tanto o Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e a Selic (taxa básica de juros) – que deve permanecer em 13,75% – não devem impactar o câmbio ao longo da semana.
De acordo com o boletim da Ajax Capital, “lá fora, as taxas de retorno anual dos Treasury Bonds (títulos do Tesouro dos Estados Unidos) operam em alta, o que impacta negativamente nos ativos de risco. Por aqui, em semana de Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, Copom e inflação, os investidores devem ficar cautelosos”.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) operam em alta, com PEC da Transição, Copom e IPCA no radar. Por volta das 15h40 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,666% de 13,666% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,970%, de 13,815%, o DI para janeiro de 2025 ia a 13,075%, de 12,885% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,690% de 12,460%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em alta, cotado a R$ 5,2680 para venda.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo negativo, com os temores de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) possa continuar seu aperto monetário na reunião da próxima semana.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -1,40%, 33.946,84 pontos
Nasdaq 100: -1,93%, 11.239,9 pontos
S&P 500: -1,78%, 3.998,83 pontos
Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA.