Bolsa cai 2,85% e dólar sobe com Fed hawkish; na semana, Ibovespa acumula perda de 4,40%

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São Paulo -Em dia de forte aversão ao risco global, a Bolsa encerrou o pregão desta sexta-feira em forte queda refletindo as falas, da véspera, do presidente do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano), Jerome Powell, sinalizando um aumento de 0,50 ponto porcentual (pp) na próxima reunião (3 e 4 de maio) e reforçando que tem de “mais rápido” para conter a inflação. Na semana, Ibovespa acumulou perda de 4,40%.
No pior momento da sessão, a Bolsa chegou a cair mais de 3,20%m atingindo a mínima de 110.590,55 pontos.
A grande maioria dos papéis fechou no vermelho. As commodities, que representam 40% do Ibovespa, tiveram uma sessão muito negativa com o mercado temeroso de que a elevação dos juros nos Estados Unidos e as restrições de mobilidade na China impactem a demanda. A Vale (VALE3) operou todos os dias em queda, chegou a cair mais de 6% e encerrou o pregão de hoje com recuo de 5,79%. Os papéis da CSN (CSNA3) lideravam a perda com 7,67% e da Petrobras (PETR3 e PETR4) recuaram 4,98% e 4,89% acompanhando a queda do petróleo no mercado internacional.
O principal índice da B3 caiu 2,85%, aos 111.077,51 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em junho perdeu 2,66%, aos 112.665 pontos. O giro financeiro foi de R$ 28,2 bilhões. Em NY, as bolsas fecharam em forte queda.
Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, disse que Nova York está puxando todos os mercados e “a apreensão dos investidores é em relação à magnitude do aperto dos juros. Já chegaram aventar um aumento de 0,75 ponto porcentual (pp) ao longo dos próximos meses; talvez os Estados Unidos tenham de acelerar {os juros] como fizemos no ano passado”.
Nicolas Farto, especialista em renda variável da Renova Invest, comentou que o mercado ainda reflete a fala do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, de ontem, afirmando que o ritmo dos juros pode ser mais alto que previam e o efeito das commodities no mercado. “Como estávamos fechados, as nossas ADRs caíram bastante. E por aqui, com a expectativa de alta mais acelerada dos juros nos EUA tendem, a princípio, diminuir o crescimento do mercado como um todo e demanda menos commodities, que acaba nos impactando”.
As commodities também sofrem com as medidas de restrições de mobilidade na China “impacta a cadeia global e a demanda por minério”, disse Farto. A Vale está caindo durante toda a semana e um fator que agrega à perda é a prévia operacional que a empresa reportou esta semana, que veio abaixo do esperado. “A Vale está pesando bastante no índice [é o maior peso do Ibovespa].
O especialista de renda variável da Renova Invest disse que em relação à alta de juros nos Estados Unidos “A dúvida é em que ritmo será o aumento, mas 3,50% a 3,75% até o final do ano é o que o mercado aposta e é um nível de juros que costuma deixar todo mundo assustado”.
No âmbito doméstico, Farto apontou que um conflito entre executivo e Judiciário sempre é prejudicial referindo-se ao decreto do presidente Jair Bolsonaro que perdoa os crimes de Daniel Silveira (PTB-RJ), mas “o que pode fazer preço é o aumento dos servidores porque dependendo de como for manobrado o reajuste, o custo para o orçamento pode ficar muito alto”.
O dólar comercial fechou em R$ 4,8060, com alta de 4,04%. O movimento de fortíssima aversão ao risco foi influenciado pela fala hawkish (dura) do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell ontem e, em segundo plano, pelo conflito entre o presidente Jair Bolsonaro com o Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo o analista de riscos da Ajax Capital, Rafael Passos, “o quadro que os bancos centrais desenvolvidos vão acelerar o aumento dos juros está confirmando. O aperto mais duro nos Estados Unidos segue sendo o principal driver, com a disseminação da inflação”.
Passos, contudo, também menciona o novo embate entre o presidente Jair Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal (STF): “O fator político não contribui, com o conflito entre Bolsonaro e o Supremo, aumentando o risco institucional”, ressalta. O economista também destacou que a política de lockdown na China pode afetar a cadeia produtiva chinesa, impactando nos preços e crescimento do país asiático.
De acordo com o sócio fundador da Pronto! Invest, Vanei Nagem, “para o Powell assumir a inflação deste jeito, o impacto é ainda maior do que imaginamos. O consumo nos Estados Unidos está muito, devido à grande injeção de dinheiro. Eles têm um problema bem grande”.
Já no cenário doméstico, Nagem enxerga com pessimismo o novo capítulo do embate institucional: “Com o Bolsonaro peitando o Supremo, a situação pode ficar feia. Ele não precisava ter feito isso”, analisa.
Para o analista da Ouro Preto Investimentos, Bruno Komura, “este movimento de estresse vai dominar o mercado. O discurso do (presidente do Fed, Jerome) Jerome Powell foi hawkish (duro), e demonstrou preocupação com a inflação nos Estados Unidos. Já tem casa projetando que, em algum momento, o aumento dos juros nos Estados Unidos será de 0,75%, mas não na próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês)”.
Komura acredita que, a curto prazo, o dólar deve ganhar força: “Nem as commodities vão segurar o Brasil. Este dólar faz total sentido”, pontua.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta nesta sexta-feira (22), em sessão bastante volátil, apertados pelo feriado de Tiradentes e Carnaval, e sobressaltados pelas confrontações entre o presidente Jair Bolsonaro e o Judiciário.
Os principais índices de ações dos Estados Unidos fecharam em queda, com a Dow Jones perdendo 2,82% – para seu pior dia de abril e fechando a quarta semana consecutiva de perdas. Os investidores seguem fugindo de ativos de risco devido aos juros mais altos e os balanços divulgados têm surpreendido negativamente.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -2,82%, 33.811,40 pontos
Nasdaq Composto: -2,55%, 12.839,3 pontos
S&P 500: -2,77%, 4.271,78 pontos