São Paulo – A Bolsa perdeu os 120 mil pontos, recuperou, e encerrou o pregão da Super Quarta em queda. Em dia com divulgação do Indice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos abaixo do esperado e anúncio de decisão sobre juros do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano), o dia ainda teve falas do presidente Lula sinalizando aumento de gastos, em meio ao enfraquecimento do ministro da Fazenda Fernando Haddad em embates com o Congresso e com o Executivo em relação à política fiscal.
O CPI dos Estados Unidos ficou estável em maio na comparação com o mês anterior, já descontados os fatores sazonais, segundo dados do Departamento de Trabalho do país. A previsão do mercado era de alta de 0,1%.
Em decisão anunciada às 15h00 (horário de Brasília), o banco central norte-americano manteve a taxa de juros no intervalo entre 5,25% e 5,5%. Em seguida, na coletiva de imprensa, o presidente do Fed, Jerome Powell, indicou que, se a economia continuar sólida e a inflação persistir, a autoridade monetária está preparada para manter juros altos por mais tempo. Powell citou que a inflação neste ano veio acima do esperado, apesar das leituras mais recentes indicarem redução e que o Payroll ainda está forte, apesar de argumentos apontarem que há exagero nos dados.
O principal índice da B3 recuou 1,39%, aos 119.936,026 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em junho caiu 1,27%, aos 120.155 pontos. O giro financeiro foi de R$ 19,9 bilhões. Em Nova York, as bolsas mistas.
As perdas de Vale e Petrobras também pesaram na Bolsa, já que os papéis representam 26% do Ibovespa. A ação da mineradora VALE3 caiu 1,45%, enquanto as ordinárias PETR3 e as preferenciais PETR4 perderam 2,16% e 2,67%, respectivamente. Após o vazamento de dados, a mineradora confirmou uma nova proposta de R$ 140 bilhões para encerrar caso do rompimento da barragem da Samarco, em Mariana (MG).
Já a Petrobras deve ter troca de diretores anunciada nos próximos dias, segundo declaração da presidente Magda Chambriard durante o pregão desta quarta-feira.
Apenas seis ações avançaram nesta quarta-feira: Embraer (+2,98%); MRV (0,87%); Weg (+0,52%) Gerdau (+0,28%); Klabin (+0,19%) e Prio (+0,14%).
As maiores baixas foram de Magazine Luiza (-7,63%), Cogna (-6,59%), Dexco (-4,62%), Raízen (-4,28%) e Vamos (4,24%).
Marcos Duarte, analista da Nova Futura Investimentos, destaca que o Ibovespa teve também uma amplitude de praticamente três mil pontos, testando e perdendo a zona de suporte de curto prazo na região dos 120 mil pontos. “Os dados da economia americana divulgados no dia de hoje, em particular, o índice de preços ao consumidor (IPC) e a fala do xerife do banco central americano, Jerome Powell, agitaram o mercado. Esse nervosismo dos investidores, confirmou ainda mais a direção dos preços na tendência de médio prazo através dos fluxos de dinheiro, onde, principalmente o investidor estrangeiro, continua vendendo o mercado de ações e realizando lucros e comprando dólar”, comentou.
“Certamente esse movimento de aversão ao risco pelo mercado à vista, torna a nossa bolsa mais barata, porém menos atrativa, uma vez que a retomada dos preços para a alta de mercado não é visível no curto prazo. Nesse contexto, preços baixos não significam atratividade no nosso mercado. Somente posições compradas de curto prazo tornam-se interessantes e ainda com capital de risco ou especulativo.”
Em relação às declarações de Powell de que o Fed está atento aos riscos relativos à política monetária e que um corte de juros prematuro poderia reverter os progressos recentes contra a inflação, Duarte comenta que o mercado local está ciente desse risco e está tentando administrá-lo.
“Também no cenário nacional, os investidores seguem receosos, para não dizer incrédulos, sobre a equipe econômica, o que contribuiu para a queda das principais ações mais voltadas ao setor financeiro e ligadas ao índice DI-Juros, que, por sua vez, sobem em média 2% hoje”, acrescenta o analista da Nova Futura.
“Para os próximos dias devemos ainda privilegiar o sentimento de cautela para posições mais moderadas ou agressivas. Num perfil mais conservador e menos exposto ao mercado de ações, o momento é mais de observação em busca de oportunidades com risco baixo e retorno alto”, conclui Duarte.
Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital, comentou: “Em relação ao local, nós estamos acompanhando basicamente uma crescente de efeitos negativos em relação ao desgaste público, principalmente do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Isso, por consequência, acabou afastando a nossa bolsa em relação às bolsas internacionais. Então por aqui nós tivemos um dia mais de aversão a risco.”
Em relação às ações, Iarussi destaca a performance positiva da MRV, que vem de uma forte realização, refletindo um tom mais positivo de recuperação no setor após dados de inflação americana que podem trazer uma flexibilização monetária ao Brasil, na visão do analista. “Embraer também operando em alta basicamente por um avanço do câmbio e uma demanda bem positiva. A empresa vem demonstrando uma boa trajetória, com uma forte lista de novos pedidos e contratos e cada vez mais ela vem trazendo bons resultados.”
Ele também destaca a alta da Gerdau, em benefício da receita dolarizada. “Quando a gente olha sua receita, basicamente 50% vem dos Estados Unidos. A empresa acaba tendo um valuation bem interessante. Se a gente olhar um pouquinho aí nos dias anteriores, a gente viu que a ação acabou sofrendo um pouco mesmo com o preço do minério de ferro em alta. Então a gente acredita que tem um upside e o mercado acabou aproveitando essa janela de oportunidade.”
Entre as quedas, o sócio da The Hill Capital aponta os ativos que são mais sensíveis aos juros como Magalu. “Cogna caindo também, prejudicada ainda pela repercussão da notícia de que o ministro da Educação suspendeu a criação de novos cursos de graduação à distância. Então, basicamente, Cogna e Yduqs acabam sentindo bastante. No caso de 3R, basicamente um reflexo da redução dos ganhos do petróleo. A gente viu também o mercado refletindo um pouco dos dados que saíram hoje. A gente viu um resultado da produção do mês de maio um pouco abaixo em relação a abril.”
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, comenta que no material de projeções, o Fed sobe de três cortes para uma divisão bem clara entre dois e um corte, com a mediana mais perto de um. “Isso colocaria, obviamente, em dúvida de quando que aconteceria, se seria só no final do ano. Mas, de qualquer forma, uma interpretação que pode ser vista como mais ‘hawkish’ nesse aspecto.”
Sobre a expectativa de inflação, eles puxaram bastante para cima, e para o desemprego em 2025, fizeram uma leve mudança na projeção, de 4.1 para 4.2, “o que faz todo o sentido se eles estão projetando manter a taxa de juros em patamares mais altos por mais tempo”, avalia Cruz. “A possibilidade de corte no último trimestre ainda é bem viva. Dependendo do que aconteça com a inflação, eles podem começar em setembro, ou fazer uma em novembro e outra em dezembro. Mas, de qualquer maneira, afasta totalmente a possibilidade de algum tipo de modificação na reunião de
julho.”
O dólar comercial fechou em alta de 0,83%, cotado a R$ 5,4050. A moeda refletiu, ainda pela manhã, a fala do presidente do Lula sobre o fiscal, que não agradaram o mercado e intensificaram os ruídos fiscais que pairam no ar há semanas.
“Estamos arrumando a casa e colocando as contas públicas para assegurar o equilíbrio fiscal. O aumento da arrecadação e a queda dos juros permitirão a redução do déficit sem comprometer a capacidade de investimento”, disse o chefe do Executivo.
Nem mesmo o resultado do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de maio, nos Estados Unidos, divulgado no começo da sessão, conseguiu impedir a queda da divisa brasileira.
Já o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) manteve a taxa básica de juros entre 5,25% e 5,5%, em linha com as expectativas do mercado.
Segundo o economista da Confiance Tec, Julio Hegedus Netto, o Fed manteve o guidance de cautelas, com o mercado de trabalho que segue forte: “Observamos muita geração de emprego de baixa qualificação, e isso mantem o mercado de trabalho aquecido”, explica.
De acordo com o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, as falas de Lula sobre o fiscal que causaram esta piora do humor. O economista acredita que, neste contexto, a Selic (taxa básica de juros) não irá mais cair.
“De maneira geral, o número do CPI foi muito bom, embora Serviços ainda estejam se estabilizando em nível alto (4,5%)”.
O indicador ficou estável no quinto do mês – as projeções eram de +0,1%. Já o acumulado do ano, até maio, foi de 3,3% ante projeções de 3,4%.
“Tendemos a não sentir tanto, com os temas políticos e o desgaste de Haddad com a PIS/Cofins”, alertou Borsoi.
Borsoi acredita que a tarefa do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) tende a ficar menos difícil, com o recado de que o índice de preços para os gastos pessoais (PCE) talvez seja bom.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecham em alta, descolados dos Treasuries (títulos do Tesouro norte-americano) que caem com decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) amplamente antecipada pelo mercado de manter a taxa de juros inalterada na faixa entre 5,25% e 5,50%.
Por volta das 16h45 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,720%, de 10,640% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 11,350% de 11,200%, o DI para janeiro de 2027 ia a 11,505%, de 11,520%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 12,000% de 11,815 na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar comercial operava em alta, cotado a R$ 5,4046 para a venda.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo misto, com o Nasdaq em destaque após subir 1,53%, à medida que Wall Street avalia a decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e as novas projeções das autoridades do banco central após os dados recentes de inflação.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -0,09%, 38.711,78 pontos
Nasdaq 100: +1,53%, 17.608,44 pontos
S&P 500: +0,85%, 5.420,97 pontos
Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Safras News
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